:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

terça-feira, março 28, 2006

Cara valente

Deparei-me no início do mês com uma notícia irritante estampada nas páginas no jornal.Era um relato sobre violentas ameaças sofridas por um grande nome jurídico da região, ameaças estas enviadas por pessoas acusadas de cometer determinados crimes, que estariam inconformadas com tais denuncias que foram imputadas décadas atrás. Ao me deparar com o conteúdo daquelas linhas tive a sensações desagradáveis: angústia, impotência e revolta! Parei e fiz uma reflexão.
Pensamentos que rondavam aquela conturbada mente me faziam questionamentos diversos. Com indignação me perguntava até onde vai nossa segurança. Não tememos tanto os desastres naturais, os acidentes, as doenças, tememos mais, tememos a intenção dos próprios seres humanos, uns em relação aos outros. Fiz uma retrospectiva das minhas interpretações em relação àquele ameaçado. Antes de conhecê-lo pessoalmente eu apenas reproduzia opiniões alheias a seu respeito. Achava-o um sensacionalista, determinado a se auto promover através do desvario alheio.Entretanto,após uma convivência profissional puder ver naquele “exibicionista”, nada mais que um homem valente. E quantos homens valentes temos, que arriscam sua vida para favorecer todo um ciclo social extremamente ingrato? Quem é valente a ponto de lutar com todas as suas armas pela justiça, não por sentimentos vadios, mas só por uma sede que lhe contrai o coração baiano e agitado, guerreiro e simples, um amor que é real à profissão.
Com todas as aprovações nos mais diversos concursos, vindo de berço humilde, de espírito batalhador. Recruta, sargento...jurista admirável. Não falo em perfeição, pois não a encontro nem mesmo em canções de Tom ou telas de Picasso, quem dirá em um ser que é humano? Falo em admiração, indignação! Falo em solucionar essa ameaça impertinente, desprovida de coragem, pois valentia é para poucos, muito poucos.

Armadilha



“-Cuidado!Sua mente quer enganar você!” -Já dizia irmã Adele! E nesse mundo competitivo, cheio de observadores maléficos, a fúria da inveja surpreende. A luta por um espaço em diversos setores da vida está tornando as pessoas rivais,invejosas,egoístas.
As informações não são mais divididas, pois existe um interesse infinito no desempenho alheio. As pessoas não estão se voltando para si mesmas, para vencerem por mérito próprio, mas estão usando suas táticas para de maneira sutil fazer o outro malograr, achando que assim terão a desejada vitória. Talvez tenham, afinal vale tudo para se ter sucesso, fama e dinheiro, na mentalidade de muitos.
Isso eu descrevo baseado no pequeno universo do meu curso. Não sei se é assim em todas as áreas do conhecimento, mas esse aspecto da minha vida acadêmica tem me decepcionado e entristecido muito. Neste meio pode se esperar traição até do colega de curso mais próximo, pois o que se tem buscado não é superação dos próprios limites, mas dos limites alheios. O que é falho nesta estratégia gananciosa é a perda da oportunidade de percorrer caminhos honesto e feitos de serenidade e paz de espírito e para os que acreditam em Deus, com consciência tranqüila em relação a Ele, pois dizem que ele tudo sabe. Podemos nos enganar, mas enganá-lo é algo inatingível.
O ideal é tentar ser o melhor que se pode ser, sabendo ser um jogador, respeitando o espaço de cada um, torcendo pela vitória coletiva. Mesmo assim a opção majoritária é pelo critério de eliminação, o qual deixa claro que só há uma coisa a ser dita:-“Cuidado, Sua mente quer enganar você!”.
Giordana Gomes de Moura

segunda-feira, março 27, 2006

Lula não decidiu. Ele se rendeu

(*) Rui Nogueira

Num caso em que todos os envolvidos eram praticamente réus confessos, o governo Lula cometeu a proeza de levar 11 dias para tomar uma decisão político-administrativa sobre a explícita violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Levou mais tempo para fazer o óbvio do que Deus para criar uma obra da complexidade do mundo e ainda plantar o bicho homem nele. A rigor, e aqui reside a tragédia deste governo, o presidente não tomou decisão nenhuma neste caso, como não tomou em nenhum outro.
Em todos os casos, Luiz Inácio Lula da Silva afrontou a realidade quanto pôde e só entregou os pontos quando essa era a única saída. E entregar os pontos não quer dizer que admitiu os erros, apenas significa que se rendeu. No PT e no governo, a maioria tem a convicção de que os fins justificam os meios, o que ajuda a entender a violação do sigilo bancário para calar um caseiro. Lula já se desfez de uma dezena de auxiliares, entre ministros, assessores e dirigentes da cúpula do PT, mas suas palavras mais simbólicas sobre o mensalão e os mensaleiros foram duas: 1) foi “traído”; 2) os companheiros cometeram apenas “deslizes”.
Escória e cinismo jornalísticoNinguém foi tão longe, mas ainda há quem ache que o PT e o governo Lula fazem o mesmo que todos os governos. Só que os outros teriam sido mais espertos para esconder o malfeito. A militância jornalística em prol desse cinismo é o tributo que a sociedade paga ao esforço do PT para chegar à única “saída honrosa” traçada pela cúpula do partido e do governo: convencer o eleitor de que são todos iguais e de que lhe cabe escolher apenas entre os menos piores. Em matéria de respeito ao Estado de Direito, o governo Lula é escória, e até do governo Fernando Collor (1990-1992) ele se diferencia. Para pior!
O ministro da Fazenda e o presidente da Caixa caíram por obra e graça das próprias lambanças, mas a minha bola de cristal garante que Lula ainda virá a público dizer que está sendo vítima de uma “campanha rasteira” da oposição. Em três anos e três meses de governo, tudo que embaraçou Lula resultou de um trabalho genuíno de aliados incondicionais. E fica a pergunta: quem acredita agora que Antonio Palocci não esteve na “República de Ribeirão Preto”, a casa do lobby, em Brasília, como diz o caseiro com total segurança?
E resta o paroxismo exposto na carta que o ex-ministro entregou ao presidente: diz Palocci que não participou de nenhuma operação para violar o sigilo do caseiro, que não usou ou mandou usar o produto da violação. Se isso é verdade, então Palocci foi omisso até não mais poder. Do alto do poder político e administrativo que lhe foi dado, por que não demitiu logo quem violou e usou os extratos, uma vez que as duas operações o atingiam diretamente? Mas vejam só como são as coisas: Palocci, em momento algum, desmente a informação dada por Jorge Mattoso à Polícia Federal, a de que ele foi levar à casa do ministro os extratos, que os recebeu em mãos.
Era só o que faltava!O governo ficou na moita até onde pôde porque, mais uma vez, a única solução para a mentira era outra mentira. Aquela Lei de Lula, enunciada pelo próprio Lula em 17 de julho de 2005, em entrevista a uma repórter freelancer, em Paris: “A desgraça da mentira é que, ao contar a primeira, você passa a vida inteira contando mentira para justificar a primeira que contou”. Tentaram evitar a mentira direta, criando uma seqüência de dissimulações patéticas sobre um trabalho supostamente difícil de busca aos violadores do sigilo do caseiro. Nunca foi importante saber quem fez o trabalho técnico de emitir os extratos. O importante sempre foi saber quem decidiu que esse seria o caminho para calar Francenildo. Palocci acreditou nessa solução. Mattoso viabilizou-a. Acreditar que Palocci não teve nada a ver com o caso é tomar o ministro como vítima de uma situação que ele não escolheu. Só faltava essa!
O caso Palocci-Francenildo só teve um desfecho nesta segunda-feira porque no fim de semana, depois da pantomima montada pela Caixa, apareceu a cadeia de comando da violação, toda ela permeada de um grupo de militantes petistas que foram plantados na Caixa Econômica Federal (CEF) no rastro da indicação de Jorge Mattoso para a presidência do banco público. Plantados, esse é o termo.
A indicação de Mattoso coube ao feudo político Marta Suplicy-Luis Favre. E atrás dele veio uma procissão de premiados sindicalistas e penduras afins. Imaginem só a que ponto chegamos em matéria de aparelhamento político e em quadros altamente técnicos do banco estatal: o gerente de Segurança Tecnológica da CEF é Delfino Natal de Souza, indicado para o posto pelo ex-presidente do PT José Genoino; a vice-presidente de Tecnologia é Clarice Coppetti, “afilhada” do ex-ministro José Dirceu. Qual é o interesse desses senhores nesses cargos? E onde foram parar os maridos das gerentes plantadas na CEF? No Planalto.
Não há nada que não faça sentido!

Cenas que não podemos esquecer

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sexta-feira, março 24, 2006

Estado de exceção


(*) Luiz Elias Miranda


Cinco de outubro de 1988, uma nova fase começava na história nacional coma promulgação de uma nova constituição que foi chamada por Ulysses Guimarães de “a constituição cidadã” por causa de sua orientação no sentido de ampla garantia aos direitos sociais. Não tínhamos uma constituição promulgada desde 1946.
Menos de vinte anos após a promulgação da constituição que “tinha tudo para dar certo”, o cenário é bem sombrio, mais de cinqüentas emendas à constituição deformaram aquilo que seria a máxima lei de nosso país.
Neste cenário sombrio, o que me chama atenção é o fato de voltarmos aos tempos da autocracia de Pedro I, onde havia o poder moderador que controla e estava acima do legislativo e do judiciário. O excesso de medidas provisórias constitui grande conflito entre o poder executivo e o legislativo.
Montesquieu, iluminista francês do século XVIII, em seu consagrado livro “O espírito das leis”, afirmou que o poder político seria uno e indivisível. O que seria divido nesta estrutura seriam as funções do Estado (executiva, legislativa e judiciária), que, por segurança contra ditadores, deveria ser exercida por órgãos distintos.
O que caracteriza uma ditadura é o crescimento anormal de um dos três poderes, geralmente nas ditaduras, o mais comum é a hipertrofia do executivo sobre os outros três poderes. O Brasil de hoje vive o que poderíamos chamar de ditadura disfarçada.
Em geral, após a revolução francesa, a regra é que todos os países sejam Estados constitucionais, portanto, o respeito à constituição é regra. Denominamos Estado de exceção um momento transitório onde uma grave crise impele a suspensão da constituição e de todas as garantias constitucionais nela prevista. Nossa constituição prevê momentos emergenciais como este (Estado de sítio e de defesa).
Notamos que nosso país há algum tempo está a viver um Estado de exceção permanente, a edição demasiada de medidas provisórias e emendas à constituição totalmente desfiguram o Estado democrático de direito instalado aqui com a constituição de 1988. A hipertrofia do poder executivo, invadindo a competência do poder legislativo é uma afronta a todos os preceitos do direito constitucional desenvolvidos nos últimos duzentos e cinqüenta anos. E o mais grave, a suspensão implícita da nossa constituição é efetivada pela figura que, segundo a própria constituição, deveria promover a guarda da constituição: o presidente da república.
Num cenário tão sombrio, é real a tese de que atualmente vivemos num cenário de golpe de Estado institucional[1], preconizado, infelizmente, por um presidente eleito democraticamente, ele guarda em suas mãos os destinos de todos nós. É sobre ele que Carl Schmitt (1888-1985) se refere na abertura do livro “teologia política”: soberano é aquele que decide sobre o Estado de exceção.
Infelizmente, os tempos de autocracia estão de volta.


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br

[1] Tese defendida por Paulo Bonavides e Lênio Luiz Streck.

quarta-feira, março 22, 2006

O regresso do Estado?

(*) Boaventura de Souza Santos


O discurso dos neoconservadores, com forte presença na mídia, demonizou o Estado ao ponto de o transformar em fonte de todos os males da sociedade. A erosão que este discurso causou contribuiu para o aumento da corrupção com o conseqüente descrédito do Estado e da classe política.
A relação do Estado com os cidadãos é complexa porque, ao contrário do que pretende a teoria liberal, o Estado não reconhece apenas cidadãos, reconhece também os grupos e classes sociais a que eles pertencem. Como estes grupos e classes têm uma capacidade muito diferenciada de influenciar o Estado, a igualdade dos cidadãos perante o direito e o Estado é meramente formal e esconde desigualdades por vezes gritantes. É por isso que os empregados por conta de outrem pagam proporcionalmente mais impostos que os seus patrões, que o pequeno empresário é mais controlado pela fiscalização do Estado que o grande empresário, que a prática de crimes é socialmente mais diversa do que a população prisional, que as empresas têm mais acesso à justiça que os cidadãos e que os grandes negócios (privatizações, fusões, etc.) quase sempre recorrem à cumplicidade ilegal dos agentes do Estado sem que tal configure o crime de corrupção.Apesar de tudo isto, ao longo do século passado, o Estado democrático soube ganhar a confiança e a lealdade de vastas camadas da população através das medidas de redistribuição social que protagonizou e que ficaram conhecidas por políticas e direitos sociais (educação pública, serviço nacional de saúde universal e gratuito, segurança social, etc.). Foi um período histórico curto e em Portugal ainda mais curto porque o seu momento alto ocorreu tardiamente, depois da revolução de 1974. Nas últimas décadas, acumularam-se os argumentos contra a sustentabilidade deste modelo de Estado e, portanto, das políticas sociais que ele funda. Falou-se da crise financeira do Estado, das mudanças demográficas de que supostamente decorre a inevitabilidade da privatização da segurança social, da necessidade de promover a autonomia dos cidadãos, tornando-os responsáveis pelo seu bem estar presente (emprego, saúde, reinserção social) e futuro (reforma).Estes argumentos traduziram-se em mudanças nas políticas públicas que, em geral, contribuíram para quebrar o vínculo de confiança e lealdade que se criara entre o Estado e os cidadãos. Esta quebra foi ainda agravada por dois outros factores. Por um lado, o discurso dos neoconservadores, com forte presença na mídia, demonizou o Estado ao ponto de o transformar em fonte de todos os males da sociedade. Nos termos desse discurso, o Estado seria inerentemente ineficiente, predador e parasita e, portanto, o seu dano só se poderia reduzir reduzindo o seu tamanho, idealmente ao de um Estado mínimo. Por outro lado, a erosão que este discurso causou nos valores republicanos e no espírito de serviço público contribuiu para o aumento exponencial da corrupção com o consequente descrédito do Estado e da classe política.Tudo leva a crer que estamos a entrar numa nova fase. Os neoconservadores chegaram à conclusão de que tinham levado longe demais a sua crítica ao Estado. É que a desmoralização do Estado teve, em muitos países, o efeito perverso de incapacitar o Estado para realizar as próprias tarefas da agenda neoconservadora (garantir a segurança jurídica dos contratos, manter a ordem pública, defender a propriedade privada). Perante isto, foi necessário reclamar um certo regresso do Estado, mas de um Estado diferente: moderno, eficiente, tecnocrático, hi-tech, com espírito gerencial. Os governos de centro ou de centro-esquerda têm-se revelado mais bem equipados para levar a cabo este regresso. Ao fazê-lo, porém, correm sempre o risco de, ao acentuarem a eficiência tecnocrática, não cuidarem do reforço da cidadania sem o qual a confiança no Estado nunca será recuperada. Como evitar esse risco nas reformas da administração actualmente em curso? Será o tema de próxima crónica.
(*) é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal)
*aviso: redigido em português europeu.

Notícias

Monge britânico se mata após ler "O Código Da Vinci"

Dúvida.Clique aqui

segunda-feira, março 20, 2006

Só de Sacanagem

(*) Elisa Lucinda


Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!
(*) Elisa Lucinda é atriz, jornalista e cantora.

sábado, março 18, 2006

Resultado da Enquete

Você é a favor da transposição do Rio São Francisco?

Sim-80%
Não-20%

quarta-feira, março 15, 2006

Democracia: a história que sua mãe não lhe contou


(*) Luiz Elias Miranda

Desde os tempos de colégio que somos ensinados que democracia é governo onde impera a vontade da maioria. No decorrer de nossa vida, a palavra democracia toma um sentido correto, ético, quase divino. Entretanto a história não é bem assim não.
Há muitas diferenças entre a democracia de hoje (democracia liberais) e a verdadeira democracia, criada pelos gregos muitos anos atrás. A diferença essencial entre as democracias do século XXI e democracia ateniense é o fato da representatividade, na Grécia antiga o sistema democrático era exercido de forma direta, todas as tribos se reuniam e deliberavam sobre as questões de relevância para a Cidade-Estado. Hoje em dia, por motivos práticos, é impossível manter uma democracia direta, como poderíamos reunir todos os cidadãos de um país para deliberar sobre as questões de interesse coletivo?
Outros pontos mitigam e desnaturam o sistema democrático atual, o principal é o nosso “bom e velho” capitalismo, o capitalismo na sua forma mais usual (o liberalismo) é a meu ver, o maior inimigo da democracia de fato (podemos distinguir um Estado de direito entre formal – onde a democracia está presente apenas “no papel” – e material – onde os princípios democráticos estão presentes na teoria e na prática).
O liberalismo vê o Estado como seu maior inimigo (o mal necessário), em suma, podemos nos reportar às palavras de Carl Schmitt (1888-1985), para ele a forma liberal de pensar o Estado culmina em ver a máquina estatal como apenas uma simples garantidora das liberdades pessoais (do âmbito econômico em especial). Sabemos bem que a funções do Estado é algo muito mais amplo do que mero assegurador das liberdades individuais.
Com este modo de pensar podemos perceber que o liberalismo promove o esvaziamento do conteúdo da democracia, ou seja, liberalismo e democracia são valores que se anulam mutuamente, é quase a mesma coisa que querer “assobiar e chupar cana ao mesmo tempo”. O liberalismo transforma democracias materiais em formais visto se puder lucrar com essa medida, usando a máquina estatal para a consecução de interesses muitas vezes escusos e inconfessáveis, o liberalismo significaria a possibilidade da ditadura do capital sobre a sociedade, que se transforma em mera intermediária deste jogo de manipulação capital-Estado.
Entretanto, apesar de ser um cenário um tanto obscuro esse de uma democracia ‘aleijada’ pelo sistema econômico no qual está inserido, haveria soluções para este impasse: a implantação de uma real democracia? Busco respostas...


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela UEPB. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br

quarta-feira, março 08, 2006

Penélopes,Helenas e falenas- Sobre as mulheres de Atenas e as mulheres de hoje

(*)Henrique Toscano Henriques


“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas


Porque não em seu dia falar das mulheres? Como homem, tenho pouca propriedade pela falta de experiência de convívio contínuo.Como ser, sou ainda um mero observador e admirador de suas virtudes.A música de Chico Buarque e Augusto Boal irá pontuar uma análise sentimental dessas mulheres que são paradigmas em nossa sociedade e com as quais, alguns de nós ,creio, nos topamos uma ou outra vez na vida.Agora que comemoramos o dia Internacional da mulher, em homenagem as 129 famosas tecelãs que morreram queimadas reivindicando seus direitos diante das atrocidades laborais impostas por seus patrões, vamos observar outros pontos.Hoje, passados 149 anos da data fatídica, as mulheres galgaram importantes espaços dentro da estrutura sociológica.Tanto em relação aos postos de trabalho como no tocante à família, a evolução de “algumas” mulheres servem de escopo para a reivindicação e a luta por mais benefícios.
No entanto, o imperativo afirmativo Mirem-se , contido na música, ainda têm de ser bastante observado por muitas mulheres.O ‘‘mirem-se’’ aí exposto não se refere à adequação por parte das mulheres ao modelo de esposa ateniense.Muito pelo contrário, é algo como “ se vocês seguirem, olhe só no que vai dar” como bem mesmo definiu Chico.
A mulher ateniense descrita na letra é serviçal e submissa, pronta para atender todos os desejos de seus maridos e perdoar todas as suas ausências.Vivem para procriar, razão única de sua existência, e para ficarem reclusas em casa .

Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas


São objeto do mais vil instinto machista, o do controle.As mulheres atenienses e algumas de hoje em dia se comportam de tal forma, como instrumento das vontades dos maridos, prontas para gerarem mais descendentes saudáveis do seu fértil ventre e proporcionar a lascívia de um coito quase que animal.
Vivem unicamente para dar prazer, nem que isso represente apenas perder totalmente o seu próprio instinto de ternura e carinho, mimetizadas nos anseios de seu amante habitual, o seu marido.
As Cadenas, são as cadeias em que essas mulheres vivem, aprisionadas pelos seus maridos e nem sempre com vontade própria.A expressão espanhola utilizada para conferir sonoridade à canção se encaixa perfeitamente no contexto das vidas de mulheres que tem seu lar transformado em uma masmorra, na qual mal podem ver a luz do dia ou a dinâmica das coisas, pois são escravas de um instituto chamado matrimônio.Coisa de Deus, como preferem afirmar alguns, deturpado pelo homem.


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas


A música estabelece um contraponto interessante entre as histórias da Ilíada e da Odisséia, obras do poeta Homero.Na Odisséia, Penélope, mulher de Ulisses, esperou por seu marido durante mais de vinte anos, portando-se sempre de maneira digna e extremamente fiel à espera de seu amado.Sua beleza exuberante e sua formosura, aliadas aos bens que possuía, logo gerou a cobiça daqueles que julgavam que seu marido estivesse morto.Ela , do contrário, afirmava que só iria procurar outro pretendente no dia que terminasse de coser um mortalha, a qual fazia questão de desfaze-la à noite, ainda esperançosa de que um dia seu amado voltasse.Vestia-se sempre formosamente, com bonitas melenas e pedia à Deusa Atenas a volta de seu marido.Penelópe, paradigma de esposa fiel e dedicada, é uma típica mulher de Atenas.
Já na Ilíada, aparece, para aqui se estabelecer um contraponto, a figura de outra mulher.Helena, a divina filha de Zeus, conhecida por sua beleza quase que perturbante, é raptada por Páris, filho do rei de Tróia, Príamo.Desse episódio surge a guerra de Tróia, ou seja , a investida Grega para recuperar Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau.Helena e sua infidelidade montam o contraponto aqui estabelecido entre essas duas mulheres e as duas obras de Homero.A prudência de Penélope resiste até a morte de seus pretendentes e sua virtude não pereceu com o tempo.Já helena, estopim da guerra entre gregos e troianos, se basta como o paradigma da desonra e da prevaricação feminina.

E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas


Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas


Na volta das guerras, os homens não mais procuravam suas esposas para os prazeres da carne.Agora eles sorviam o doce mel das falenas, as mariposinhas que brilham à noite, as cortesãs.Submissas pelo sexo e pelo mando carnal de seu temporário detentor, sucumbiam à sanha sexual dos guerreiros abstinentes.
Enquanto isso, a típica mulher de Atenas resguardava o lar e esperava com ânsia à chegada de seu marido.
As mulheres eram para os homens apenas a segurança de uma vida econômica mais estávelpor causa do dote, a garantia de um herdeiro legítimo e a manutenção de um lar, Como bem fora explicitado pelo historiador Edwar MacNall Burns, acerca do comportamento das mulheres de Atenas dos séculos V e IV a.C.
“Embora o casamento continuasse a ser uma instituição importante para a procriação dos filhos,que se tornariam os cidadãos do Estado, há razão para se crer que a vida familiar tivesse declinado. Ao menos os homens de classes mais prósperas passavam a maior parte do tempo longe de suas famílias. As esposas, relegadas à uma posição inferior, deviam permanecer reclusas em casa. O lugar de companheiras sociais e intelectuais dos maridos foi ocupado por mulheres estranhas, as famosas heteras[1], algumas das quais eram naturais das cidades jônicas e demonstravam grande cultura. Os homens casavam para assegurar legitimidade ao menos a alguns de seus filhos e para adquirir prosperidade por meio do dote. Era também necessário,naturalmente, ter alguém para tomar conta da casa”.


Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas

Voltando aos braços de seus maridos, estão prontas novamente para atender os seus desejos e se tornarem eternamente gratas pelos instantes de prazer que a este proporciona.
Entregam-se as vontades do marido, e não exigem absolutamente nada em troca.

Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem pro seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro se encolhem
Se confortam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas.”

E assim encerram o ciclo, como se o começo fosse algo que trouxesse vida.Vivem e secam, completam seu destino.Vivem para procriar, secam de dor e infertilidade devido à idade, secam principalmente pela falta de amor, próprio.
Esta longa busca nos antecedentes históricos pretende somente estabelecer uma correlação entre essas mulheres e as mulheres ‘de hoje’.Quantas não são ainda como Penélope, extremamente prudentes e fiéis, devotas de seus maridos? Quantas por aí não seguem o exemplo de Helena, fazendo da cobiça alheia o fomento de sua luxúria? Quantas não são como as mulheres de Atenas, submissas e prisioneiras da falta de amor próprio?
Muitos devem conhecer ou conviver com mulheres desse tipo e nesse dia oito seria prudente que algumas olhassem não só para as conquistas da classe no âmbito coletivo, mas vissem a sua maneira de se comportar.Analisasse primeiro a sua importância dentro do contexto familiar, sua maneira de ser , se é tratada com respeito e primazia, se tem as suas opiniões aceitas e seus palpites levados em conta.É um processo introspectivo, que depende de um olhar voltado para si mesmo e para o micro-ambiente que a cerca.
Talvez hoje o mundo tenha chegado a um estágio de pleno debate sobre o papel da mulher na sociedade, mas, em primeiro lugar deveriam ater-se ao fato de que em nada se evolui coletivamente se algumas mulheres não evoluírem individualmente, ou que ainda persistam em comportassem como as mulheres de Atenas, que unicamente vivem e depois secam.



[1] mulher dissoluta, cortesã, prostituta elegante e distinta.

Revolução política



(*) Diorindo Lopes Júnior


A sociedade brasileira tem, neste ano de 2006, uma excelente oportunidade de chacoalhar e renovar o Legislativo Nacional. Basta votar para as Assembléias Legislativas e Câmara Federal em candidatos que morem, se não em suas cidades, bastante próximos a elas.
Sabendo onde moram os eleitos, os eleitores poderão fiscalizá-los e cobrá-los mais atentamente. Reivindicar que trabalhem por verbas do Orçamento Federal necessárias ao desenvolvimento do município e região. Dinheiro adicional para escolas e hospitais, obras sociais e desportivas, saneamento básico, etc.
Em anos assim, é comum aventureiros visitarem municípios prometendo sonhos e cabalando votos. Eleitos, nunca mais aparecem - ou melhor, aparecem, mas só nas outras eleições. Elegendo um candidato em que se possa ir à casa dele, reivindicar ou reclamar, o eleitor estará cumprindo sua cidadania.
(E, tomara!, ajudando a evitar que mensalistas negociem em seus próprios benefícios os interesses do povo)
E é bom também lembrar que, em anos assim, com as atenções voltadas para essas eleições, as administrações municipais costumam botar suas manguinhas de fora para a prática de práticas nem sempre muito corretas...Assim sendo, cidadão: um olho no gato, o outro no peixe.

(*) Diorindo Lopes Júnior ( www.diorindo.jor.br ) é jornalista. São Paulo - SP

sábado, março 04, 2006

O fundamentalismo de resultados



(*)José Nêumanne Pinto


Se Elba tiver juízo, nunca mais vai à Paraíba. Mesmo com seu pai oitentão ainda morando lá no sertão. A pergunta é: quem perde mais com isso? A própria Elba, o pai dela, o governador Cássio Cunha Lima ou o povo do Estado que aprendeu a amá-la?

Há algum tempo fui procurado por meu amigo de infância Marcondes Gadelha (seu pai, Zé Gadelha, de Sousa, era compadre do meu, Anchieta Pinto, de Uiraúna), que pretendia me engajar na campanha pela transposição do rio São Francisco. Sertanejo como ele, eu era simpático à idéia e, a seu pedido, cobri para o Jornal da Tarde, de São Paulo, um seminário sobre água em Fortaleza. Mas ali, então, duas coisas me convenceram de que a obra não era aquela maravilha que ele tentara me vender. A primeira foi um comentário do então governador do Ceará, Tasso Jereissati, que me contara ter sido procurado por seu amigo Antonio Carlos Magalhães, que lhe fizera um desafio: se ele lhe apresentasse um único estudo de impacto ambiental sobre a bacia, feito ao longo dos dois séculos em que se prega a transposição, o baiano desistiria de seu trabalho contra. Tasso não encontrou. Era tudo palha! Além disso, os técnicos cearenses, que me pareceram sérios, me convenceram de que a transposição só seria viável economicamente se a água fosse comercializada. Gratuita, ela só poderia ser jogada no mar sem utilidade nenhuma ou usada pelos chefes políticos regionais como instrumento de poder. Sou sertanejo e sei o valor econômico e político da água no sertão. E também não estou convicto de que Antonio Carlos Magalhães erre muito ao denunciar que a obra servirá apenas para possibilitar a drenagem de recursos de empreiteiras para a campanha de Lula.
Em outubro do ano passado, minha amiga Elba Ramalho fez num show no Riosul um apelo para que a obra fosse tratada de forma transparente pelo governo para evitar que viesse a causar mais problemas para nosso “Velho Chico”, que vem morrendo pelo descaso público. Na Paraíba, o apelo foi transformado numa traição e ela foi fuzilada na mídia a partir de uma moção em que o suplente de vereador, em exercício na Câmara Municipal de Campina Grande, Marcos Marinho exigia explicações. Um auto-de-fé daqueles de encher Torquemada, o queimador de bruxas, de orgulho. Tomei as dores da artista e exigi de seus detratores que também me demandassem as mesmas explicações. Se Elba tem boas razões ecológicas, eu acredito ter ótimas razões técnicas.
Tenho discutido o assunto em altos termos com amigos que são a favor: Napoleão Ângelo, da TV Tambaú, Eilzo Mattos, em seu retiro sertanejo, José Gomes da Silva, nas buchadas do Bananal, vendo Campina Grande a nossos pés, entre outros. Mas não posso admitir o tom nazifascista da cruzada contra Elba.
Minha posição foi motivo de chacota de comunicadores de rádio e interlocutores com quem cruzei nas ruas de Campina Grande e João Pessoa em 15 dias que passei de férias em janeiro. Preferi me fechar em copas para evitar perder minhas férias em discussões inócuas. Nem eu ia convencer os interlocutores apaixonados nem vou persuadir Lulinha Pão e Vinho a desistir da promessa demagógica eleitoral de matar a sede de nossos coitadinhos do semi-árido. Mais uma vez, contudo, vem Elba me tirar do retiro sossegado. Não posso me calar diante do absurdo que a está tornando a mártir dos fundamentalistas da transposição.
O apelo que ela fez pela vida do rio transformou-se em manifesto contra a obra. Ela se tornou definitivamente “a mulher que cuspiu no caneco”, uma paródia absurda do tal do “homem que cagou na pia”. E lhe está sendo proibido na prática o direito constitucional elementar de circular livremente em território nacional, justamente na Paraíba, sua terra, sua paixão, divulgada e honrada com seu talento e sua alma de pássara.Vamos aos fatos: Flávio Eduardo, Fuba, pediu uma grana ao governo do Estado para patrocinar o desfile do popularíssimo bloco Muriçocas do Miramar na Quarta-feira de Fogo (22 de fevereiro) em João Pessoa. E Fuba, vereador pelo PSB do prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, apoiado pelos adversários do clã Cunha Lima, no governo do Estado, conseguiu a verba. Contratou Elba e começou a promover o desfile.A divulgação da folia provocou duas reações. A primeira: um tal Comitê Estadual de defesa do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco protocolou nesta terça-feira (14 de fevereiro) ofício ao gabinete do governador Cássio Cunha Lima solicitando a “suspensão de qualquer pagamento para a senhora Elba Ramalho através dos organizadores das festividades carnavalescas da cidade de João Pessoa”. O pedido foi noticiado com estardalhaço pelo jornal local Correio da Paraíba. Até aí, isso não pode ser contestado, pois faz parte do jogo: é de fato discutível se dinheiro público deve ser usado para financiar folia ou pagar cachê de artistas, que pode ser bancado por particulares.
A segunda é que são elas: Rui Dantas, sertanejo de Pombal, apresentador de um programa na Rádio Correio da Paraíba, de meio dia às duas da tarde, começou a conclamar do microfone o povo de João Pessoa a jogar ovos em Elba. Lembra-se daquela música de Chico (que Elba cantava na Ópera do Malandro) Geni e o Zepelim? Apois. “Joga bosta na Geni” era o refrão. Agora é algo semelhante: “Joga ovo na Elbinha”. Fuba, o parceiro de velhos carnavais de Elba, comportou-se covardemente. Em vez de honrar o convite e anunciar que se postaria à frente da amiga para receber os ovos podres, telefonou para o empresário dela, Gaetano Lopes, para dizer que o contrato seria mantido, mas o bloco não tinha como garantir sua integridade física. Elba desistiu, é claro.E cancelou os shows contratados para o Maior São João do Mundo no Parque do Povo, em Campina Grande. Depois de 13 anos seguidos cantando na Borborema, este ano ela vai cantar em Caruaru, Pernambuco, onde a maioria também quer a transposição, mas não tem esse comportamento nazifascista com que ela está sendo maltratada na Paraíba.
Aliás, é bom que se esclareça desde já que esse fundamentalismo tem gato na tuba. Então, Roberto Cavalcanti, dono do Sistema Correio, não é suplente do senador José Maranhão, do PMDB, candidato da oposição e dado como favorito nas pesquisas para a eleição de outubro? Pois é: se Maranhão ganhar a eleição, ele será senador quatro anos.Nesse fundamentalismo de resultados, seus profetas já ganharam uma parada: tiraram Elba do palanque dos adversários e, com isso, acham que enfraqueceram a campanha deles. Será? O benefício compensará o custo político da cruzada censória, violenta, agressiva, desproporcional, injusta e desumana?
Se Elba tiver juízo, nunca mais irá à Paraíba. Mesmo com seu pai oitentão ainda morando lá no sertão. A pergunta é: quem perde mais com isso? A própria Elba, o pai dela, o governador Cássio Cunha Lima ou o povo do Estado que aprendeu a amá-la? Fique claro que fundamentalismo não é assunto do Islã distante. Pode estar bem mais perto de nós do que imaginamos e ser usado como bomba terrorista por muita gente que sai por aí arrotando amor à liberdade e à democracia. Eu, hein?!
(*)José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde e autor de O silêncio do delator, prêmio Senador José Ermírio de Morais, da Academia Brasileira de Letras, em 2005. Clique na capa para ter acesso à livraria virtual.

Os telefones do Big Brother Brasil

(*)José Nêumanne Pinto

Vinte e nove milhões de ligações do povo brasileiro votando em algum candidato para ser eliminado do Big Brother. Vamos colocar o preço da ligação do 0300 a R$0,30.
Então, teremos R$ 8.700.000,00. Isso mesmo! Oito milhões e setecentos mil reais que o povo Brasileiro gastou só nesse paredão. Suponhamos que a Rede Globo tenha feito um contrato "fifty to fifty" com a operadora do 0300, ou seja, ela embolsou R$ 4.350.000,00. Repito, somente em um único paredão...".
Alguém poderia ficar indignado com a Rede Globo e a operadora de telefonia ao saber que as classes menos letradas e abastadas da sociedade, que ganham mal e trabalham o ano inteiro, ajudam a pagar o prêmio do vencedor e, claro, as contas dessas empresas. Mas o "x" da questão, caro(a) leitor(a), não é esse. É saber que paga-se para obter um entretenimento vazio, que em nada colabora para a formação e o conhecimento de quem dela desfruta; mostra só a ignorância da população, além da falta de cultura e até vocabulário básico dos participantes e, consequentemente, daqueles que só bebem nessa fonte.
Certa está a Rede Globo. O programa BBB dura cerca de três meses. Ou seja, o sábio público tem ainda várias chances de gastar quanto dinheiro quiser com as votações. Aliás, algo muito natural para quem gasta mais de oito milhões numa só noite! Coisa de país rico como o nosso, claro. Nem a Unicef, quando faz o programa Criança Esperança com um forte cunho social, arrecada tanto dinheiro.
Vai ver deveriam bolar um "BBB Unicef". Mas tenho dúvidas se daria audiência.
Prova disso é que na Inglaterra pensou-se em fazer um Big Brother só com gente inteligente. O projeto morreu na fase inicial, de testes de audiência.
A razão? O nível das conversas diárias foi considerado muito alto, ou seja, o público não se interessaria.
Programas como BBB existem no mundo inteiro, mas explodiram em terras
tupiniquins. Um país onde o cidadão vota para eliminar um bobão (ou uma bobona) qualquer, mas não lembra em quem votou na última eleição. Que vota numa legenda política sem jamais ter lido o programa do partido, mas que gasta seu escasso salário num programa que acredita de extrema utilidade para o seu desenvolvimento pessoal e, que não perde um capítulo sequer do BBB para estar bem informado na hora de PAGAR pelo seu voto. Que eleitor é esse? Depois não adianta dizer que político é ladrão, corrupto, safado, etc.
Quem os colocou lá?
Claro, o mesmo eleitor do BBB. Aí, agüente a vitória de um Severino não-sei-das-quantas para Presidente da Câmara dos Deputados e a cara de pau, digo, a grande idéia dele de colocar em votação um aumento salarial absurdo a ser pago pelo contribuinte.
Mas o contribuinte não deve ligar mesmo, ele tem condições financeiras de juntar R$ 8 milhões em uma única noite para se divertir (?!?!), ao invés de comprar um livro de literatura, filosofia ou de qualquer assunto relevante para melhorar a articulação e a autocrítica... Chega de buscar explicações sociais, coloniais, educacionais. Chega de culpar a elite, os políticos, o Congresso.
Olhemos para o nosso próprio umbigo, ou o do Brasil. Chega de procurar desculpas quando a resposta está em nós mesmos. A Rede Globo sabe muito bem disso, os autores das músicas Egüinha Pocotó, O Bonde do Tigrão e assemelhadas sabem muito bem disso; o Gugu e o Faustão também; os gurus e xamãs da auto-ajuda idem. Não é maldade nem desabafo, é constatação...
(*)José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde e autor de O silêncio do delator, prêmio Senador José Ermírio de Morais, da Academia Brasileira de Letras, em 2005. Clique na capa para ter acesso à livraria virtual.

A SA petista está de volta

(*)Reinaldo Azevedo

José Dirceu é um homem de muitas faces, como sabemos. Deu início a mais uma. Agora, é articulista do Jornal do Brasil. Fui brindado com referências em um artigo seu chamado Esquerda, volver. A resposta já está prontinha, eu lhes garanto. Publico na próxima edição. Primeira Leitura, com efeito, incomoda os petistas. Acompanhem.
Começo afirmando que “Eles” estão de volta. Durante um bom tempo, a Tropa de Assalto do PT (“SA”, na sigla em alemão) andava um pouco envergonhada. Ora, perder a vergonha era questão de tempo. Bastou o Apedeuta melhorar seu desempenho nas pesquisas, e a canalha se assanhou: violentos, com o dedo em riste, ameaçadores, torcendo pela volta da censura, vendo fantasmas em todo canto, dispostos à ação direta. Os e-mails me chegam aos montes. Poderia ser tudo apenas obra do apparatchik, aquela militância burra, que os dirigentes costumam usar e depois tratar com um pé no traseiro. Mas vai um pouco além.
O PT, sob Ricardo Barzoini, também se rebaixou — e nem poderia ser diferente. No site do partido, uma certa Rosana Ramos, que se diz jornalista, ataca Veja e Primeira Leitura e, no nosso caso, acusa-nos de integrar a “black propaganda da CIA”, reafirmando os termos de Moniz Bandeira para classificar a revista deste site.
O artigo é um primor. A autora dá a entender que leu em inglês o livro Inside the Company – CIA Diary, de um maluco chamado Philip Agee, onde aparece a tal categoria. Logo de cara, dispara: “Dois episódios recentes, envolvendo as revistas Primeira Leitura e Veja (...) recolocam a questão do porquê (sic) a esquerda não possui instrumentos de comunicação capazes de enfrentar a ideologia dominante e construir uma nova hegemonia.” Se leu mesmo a obra em inglês, aquele “porquê” deixa entrever a suspeita de analfabetismo em português. Entendo, Rosana: em Roma, como os romanos. Não há razão para sua gramática ser melhor do que o seu pensamento. Quem gosta do que você escreve merece ler o que lê. Você tem leitores à altura, e eles, uma pensadora que os honra.
É claro que não vou entrar no mérito do que diz esta coitada. Até porque é visível que ela só está em busca de um emprego. Quero é tratar com Dirceu, amanhã... No momento mais iluminado de sua peroração, onde a leveza das idéias se casa à perfeição com a graça do estilo, ela estraçalha: “Um governo de esquerda deve fomentar o desenvolvimento de veículos alternativos como rádios comunitárias e canais de televisão ligados ao governo e aos movimentos sociais.” A coisa fala por si.
Grave não é haver quem pense assim. Grave é que tal pensamento seja abrigado no site do ainda maior partido do país e integre, pois, o conjunto de textos de referência a nortear o comportamento da militância. Segundo entendo, ela é um quadro do PT que se ocupa dessa área. Se a legenda abriga a peça em seu site, é sinal de que a tem como digna de consideração.
É evidente que os petistas que estão no poder olham para gente como Rosana com aquele desprezo que a elite nazista tinha por Ernst Röhm e sua SA, a tropa de assalto que serviu a Hitler, mas que se tornou desnecessária e até perigosa em 1934. No poder, à sua maneira, Lula executou a sua “Noite dos Longos Punhais” e massacrou seus radicais. Estudem esse capítulo do nazismo. É fascinante. O facínora não se livrou de Röhm porque deplorasse suas convicções, e sim porque queria mais método na loucura homicida.
Como o PT quebrou a cara, a SA, que Berzoini ironizava quando ministro da Previdência e tratava com solene desprezo, é chamada para agitar bandeiras e fazer o trabalho de proselitismo. Dirceu, vocês verão na próxima edição, candidata-se a ser o Röhm da hora. Se preciso, a tropa será estimulada a partir para a ação direta. É claro que, se Rosana pudesse ou lhe fosse facultado, sairia por aí empastelando a “imprensa burguesa”. Imaginem que a preclara se atreve a incluir a revista Primeira Leitura, com uma tiragem de 25 mil exemplares, entre os “grandes meios de comunicação de massa”. Grande no coração, moça, no coração...
Se Lula for reeleito, a SA será expulsa ou encostada, contentando-se com relatórios sobre a “mídia burguesa” cheios de baba hidrófoba. Em vez da rede alternativa de comunicação pretendida por Rosana, o governo optará por tentar comprar aquela que já existe, apelando à convergência de interesses entre os “patrões de direita” (como diria a nossa militante) e o governo “de esquerda”. Nada muito diferente do que está em curso hoje. Rosana ou é burra ou é injusta com os seus chefes. Eles estão fazendo tudo direitinho. Tanto estão que o candidato do partido que comandou o maior esquema de corrupção da história do país é o favorito, hoje, para as eleições de outubro.
É que a menina (?) acha pouco e está doida para oferecer os seus préstimos. Acredita que pode reprimir e discriminar com mais eficiência do que os atuais líderes do partido. Tem a mesma natureza daqueles que propuseram o Conselho Federal de Jornalismo. De certo modo, em meio ao flagelo que é o PT, não deixa de ser uma sorte que os sindicalistas devotem aos “intelectuais” da SA o desprezo que devotam. Como Sartre deixou claro na peça As Mãos Sujas, ninguém está mais talhado para cometer um crime do que um intelectual de esquerda. Sartre escreveu a peça antes de se tornar um stalinista gagá. Mas não se anime, Rosana: eu não a estou classificando de “intelectual”. Digamos que você é a intelectual possível no PT de hoje.
DireitaUm querido amigo me ligou uma noite destas. Tivemos conversas variando do ameno ao muito grave sobre o Brasil, o mundo, a natureza humana, a melhor disposição para acomodar os móveis da sala. Num dado momento, ele me disse que os meus textos estavam “muito direitistas” e que era preciso moderar. E evocou a avaliação coincidente de duas outras pessoas pelas quais tenho respeito intelectual. Poucas inteligências vivas me interessam. As pessoas em questão se incluem nesse grupo seleto. Fiquei cá a pensar com os meus botões e brocados de conservadorismo, estes que me enfeitam a alma e tornam meus textos objeto da fúria de alguns e do apreço de outros — nesse último caso, há quem os tenha quase como tábua de salvação: é como se eu tirasse essas pessoas da solidão.
Este meu amigo está à minha esquerda em muita coisa, embora Rosana certamente o tivesse como mais um membro da “black propaganda” da CIA. A distinção entre direita e esquerda, dizem alguns, caiu na obsolescência. É curioso que os que fazem tal observação sejam, na totalidade dos casos, tachados de “direitistas” pelos esquerdistas. O resumo é o seguinte: uma pessoa de esquerda não teme dizer a sua filiação ideológica porque a supõe legitimada por seus bons sentimentos. Já um não-esquerdista, sob o risco de cair vítima do estigma, tenta desesperadamente eliminar a categorização para ver se consegue salvar a sua alma.
Não tenho qualquer receio dessa classificação. E, se querem saber, esse tipo de porfia é um pouco cansativa. O medo da patrulha, está claro, é que pauta a opinião da maioria silenciosa. Há dias, o Estadão, antes satanizado nas escolas de jornalismo como símbolo do pensamento conservador, quem sabe reacionário, fez um editorial sobre a controversa decisão do STF que, na prática, elimina a categoria dos crimes hediondos. Seu desdobramento prático pode ser a libertação de alguns milhares de criminosos perigosos. Notava-se o desconforto no texto. Mas não era menor a sua preocupação em não parecer histérico e contrário ao politicamente correto no caso. E o que é, no caso, o politicamente correto? Acatar o princípio da progressão da pena.Ai daquele que disser o óbvio no meio do salão: a violência não faz senão crescer no Brasil; a impunidade é um acinte à cidadania brasileira; o investimento federal em segurança público é pífio; a burocracia judiciária torna o cidadão comum refém do crime organizado, e a mais alta corte do país faz o quê? Ora, ocupa-se de, na prática, aumentar a insegurança do indivíduo que trabalha e paga seus impostos. Dizê-lo passa a ser uma ofensa, uma manifestação óbvia de atraso e, pois, de reacionarismo. Não haverá um só político de respeito a se levantar contra a medida. A reação ficará por conta daqueles que fazem o discurso do medo. Ou seja: a covardia dos homens de bem, temerosos da patrulha da esquerda, entrega uma causa justa na mão de demagogos. É assim que um país vai para o brejo. Afinal, não é?, tememos todos ser de direita. Todos queremos agradar aos furores íntimos de gente como a tal Rosana sei lá das quantas.Dirceu de novo E do que me acusa, e a outros, José Dirceu, o ex-condestável da República? Justamente de “direitismo”. Sim, o homem cassado pela Câmara por quebra de decoro parlamentar resolveu pegar no meu pé. Vocês vão ter de esperar. Trato dele na próxima edição, agora que ele assumiu uma nova face. Certamente tão moral quanto as outras
(*)Reinaldo Azevedo é jornalista. www.primeiraleitura.com.br

De fantasmas e cadáveres

(*)Diorindo Lopes Jr.
Uma conhecida, pessoa muito afeita a tragédias e à procura de pêlos em ovos e chifres em cabeças de cavalo, volta e meia se diz muito preocupada com a minha vida solitária. Vive sugerindo promover encontros meus com conhecidas solteironas ou descasadas.
Inútil tentar demovê-la da idéia de que eu me basto o necessário ou, muitas vezes, mesmo sozinho, eu não me suporte o suficiente.
O tempo traz as rugas e as rugas trazem manias.
Em sua gana de bancar o Cupido casadoiro, minha muito preocupada conhecida não imagina como vivo cercado de companhias. Pouco convencionais, é verdade, mas companhias que prezo bastante. Meus queridos fantasmas, por exemplo. Não tem um único dia em que não venham me assombrar.
Manifestam-se através de lembranças de acontecimentos corriqueiros, palavras proferidas há anos, frases que calei e se revoltam com a condenação ao silêncio, anotações hoje incompreensíveis - quando não ilegíveis, personagens de projetos literários que guardo na memória do computador à espera de uma oportunidade melhor para vida lhes dar.
Uma vez, comentei sobre eles num churrasco em minha casa e uma psicóloga, convidada por um amigo, ao sair me deu o cartão de seu consultório.
Com os cadáveres, a relação não é diferente. Fazem-se presentes todos os dias e muitos estão vivos.Falo, é claro, dos escritores e seus livros. Lobato é figura eterna com sua gangue de personagens. E Vinícius, Drummond, Rubem Braga, Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Jorge Amado, França Júnior, Érico, Graciliano, Nelson Rodrigues, Josué Guimarães, Roberto Drummond, Carlinhos Oliveira, Clarice e Cecília, Raquel, João Antonio, e um punhado de muitos outros.
Dos cadáveres vivos e estrangeiros não vou falar, são muitos e podem me cobrar um ou outro esquecimento. De cinema e música também não.
A crônica está longa e o leitor, incomodado, pode desejar que o próximo cadáver seja o meu.
(*)Diorindo Lopes Jr. é jornalista. www.diorindo.jor.br

sexta-feira, março 03, 2006

Vertigem

(*)Ana Adelaide


Os Armoriais que me perdoem, mas o Rock é fundamental! E foi continuando o final de semana vertiginoso, ainda com os acordes de Brown Sugar na cabeça que me deparo com o grupo Irlandês de rock-humanista-politicamente correto U2.
A Irlanda é um país que me fascina; pela natureza, pela oralidade, pelos Celtas, pelo mar, pelas danças, pelos filmes (especial para Traídos pelo Desejo-The crying Games, ou Em Nome de Deus), pela literatura (Joyce, Beckett, Wilde, Yeats, Ângela Bourke, Éilís Ní Dhuibhne), pela música de Enya e agora pelo canto de Bono Vox.
No seu livro, A Angústia da Influência, Harold Bloom fala do Mito do abismo, e da nossa consciência não da Queda, mas de que estamos caindo , e caindo de nós mesmos. E que quando essa consciência do eu é elevada a um pico absoluto, então o poeta bate no chão do Inferno, ou melhor, chega ao fundo de um abismo...”. Mas o abismo do U2 com certeza está mais para uma vertigem não no sentido de perder-se em si mesmo, mas no resistir aos impasses dos novos sujeitos identitários, desse nosso “admirável mundo novo” de tantas desigualdades e sofrimento. Bloom também afirma que, “todo bom leitor deseja afogar-se” . Pois na noite de segunda feira passada, com uma xícara de café extra forte e uns biscoitinhos para espantar o sono, caí e levei altos tombos nos labirintos de mim mesma; deixei-me inundar-me por Sunday Bloody Sunday, Miss Sarayevo, One, e claro, Vertigo para todos os lados.
Que espetáculo o show dos Dublinenses! E que mis-en-scene! Pacifista, bandeiras do mundo inteiro, Brasil Lindo, Copa do mundo, Ronaldo, COEXISTA, Não à intolerância religiosa, Elevation, o menino de Caruaru que com uma pronúncia Vitalina tentava- “This is the time”! Ou a sortuda que teve Bono ajoelhado literalmente à seus pés entoando uma canção de amor. Todas as sensações na minha vertigem particular ao ver 70 mil pessoas entoando as baladas se não de Galway, mas de uma Irlanda moderna e com tecnologia de ponta, que de nada lembravam o filme “As cinzas de Ângela” ou A grande Fome do passado, que ocasionou o êxodo dos Irlandenses mundo afora, à espera de um Godot mais fértil e de vida menos sangrenta.
Fico sempre em estado de êxtase ao imaginar a sensação que pode ter uma pessoa no palco, sendo aclamada por mil/milhões de fãs a se acotovelarem e cantarem a música do artista, numa língua que não a sua, O jogador de futebol Raí, ao caminhar pelos salões da área Vip, foi indagado se seria como fazer um gol em final de copa do mundo. E ele humildemente respondeu de pronto: Mas esses caras fazem gol em final de copa do mundo toda a hora! Pois é isso, uma turnê por pelo menos 19 países (no caso do U2), é muito gol para uma só pessoa, que com seu chapéu de cowboy e seus óculos pink-verde-bandeira-do-Brasil, revolve o nosso sentimento tribal de pertencimento, quando o próprio Bono, entoa os batuques de um tambor solitário, num palco lá no meio da multidão, próximo se não da humanidade, pelo menos de um cantinho do céu.
E nesse caldeirão de sons, depois do rock, vieram as picadas das Muriçocas do Miramar e a celebração dos 20 anos do bloco. Neste carnaval, uma outra vertigem, mas dessa vez para dentro de casa, sem antes no entanto, passar pelos cowboys de Brokeback Mountain e pelas Gueixas do cinema. Mas aí é assunto para outra crônica.