:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Parasitas

(*)Giordana Gomes de Moura

Enquanto caminhava pela praça aqui da minha cidade, uma pracinha própria para caminhada, vi uma senhora sentada no banquinho segurando seu cachorro de estimação, amarrado por uma coleira, mas pulando exaustivamente, tentando se soltar daquelas amarras de uma maneira tão enérgica que chamava a atenção da sua dona. Aquilo chamou também a minha atenção. A senhora jogava um pedaço de pau longe e ele logo ia lá correndo buscar. Brincava com uma bolinha e corria pela praça, sempre de olho na sua companheira, fiel a ela. Na hora de ir embora ela nem precisou chamá-lo que ele já foi atrás.
Lembrei do meu gato, que mal olha pra mim, isso quando está acordado; posso ir a faculdade pelas 7 horas e voltar às 11 que no máximo ele vai ou ter mudado de posição ou de tapete. Quando resolve se levantar para comer a ração, antes se espreguiça durante uns 20 minutos e logo após comer e beber água, volta para dormir mais um “soninho”.
Ele não se manifesta com a chegada de ninguém. Eu vivo insinuando que quero um denguinho, no entanto ele me ignora, mas quando ele quer que eu coloque comida vem cheio dos carinhos, das ternurinhas pro meu lado. Adora minha casa.Pouca se importa com as pessoas que a compõe. Imagino que se levasse à praça da caminhada, ele voltaria pra casa para dormir, além de me dar uma bela arranhada antes.
Vejo que falta nos gatos a vibração, a participação, a motivação dos cachorros; estes acreditam, têm energia, vão as buscas; aqueles são desestimulados, preguiçosos, apáticos. Talvez o grande problema do Brasil seja este: Temos um monte de gatos.
(*)Giordana Gomes de Moura. e-mail: giordanadireito@hotmail.com

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Mais uma canção

(*)Giordana Gomes de Moura


Tarde ensolarada, após olhar atentamente o mar por cerca de meia hora, assisto “o sol ao pôr do sol, triste soslaio” (como diria sousândrade) pela janela. Era tudo tão puro, tão compenetrado que não me atrevi a almejar mais nada depois daquele momento. Resolvi apenas andar por outro sentido para observar o que quisesse ser observado, mesmo que fosse qualquer poeira ao vento, qualquer olhar, qualquer coisa.
Enquanto eu observava aquilo, pensava em versos, em canções, em declarações, devaneando pela correnteza dormente da nascente lua. De repente parei para observar o que estivesse ali me aguardando e quando despreocupadamente olho ao lado vejo a doçura de um moço, suspendendo sua bicicleta para ultrapassar uma pedra. Carregava a filhinha no bagageiro e tinha nos ombros o apoio para aquela singela moça que parecia ser a mãe da criança.
Aquela bicicleta enferrujada, com os pneus já bem usados; aquele moço vestido de forma tão simples, junto a sua humilde família, cantava levemente uma alegre cantiga. Sorriam de maneira tão expressiva, tão manifesta, tão natural. Era uma família feliz, e quão belo é uma família assim; tão raro é encontrar uma família que viva o amor em sua pureza, haja vista o malogro das instituições familiares, que em grande parte se resumem a um aglomerado de pessoas que não se entendem, não se respeitam, ou no máximo se toleram.
Sentindo aquela força maior, aquela externada pelos sentidos aflorados, resolvi cantar só pra mim, acompanhando aquela melodia, banhada em onomatopéias as mais mirabolantes. Às vezes parava, enxugava as lágrimas felizes, voltava a cantar e tentar esquecer que pouco antes estava eu perdendo tempo, esquecida das canções, das ternuras, me prendendo ao banal, sofrendo por futilidades.


(*)Giordana Gomes de Moura. e-mail: giordanadireito@hotmail.com

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Parece até crendice

(*)Giordana Gomes de Moura

Durante um bom tempo acreditei em papai-noel, achava que no Natal era ele quem colocava meu presentinho na árvore ou debaixo da minha caminha. Acreditava também em duendes, tinha medo deles achando que vagavam pela madrugada. Botava fé em ser freira e professora, queria também ser advogada, mas via incoerência numa freira-advogada. Mesmo assim eu caminhava acreditando que chegar aos dezenove anos era coisa muito longa e que tudo ia ser bem diferente. Acreditava que meus amigos iriam ser congelados e ficar comigo para sempre.
Eu acreditava que um mundo melhor estava a caminho, que os animais ficariam livres do desequilíbrio humano e que o próprio homem encontraria sua riqueza interior. Tinha fé que as coisas iriam se acalmar e que as notícias do jornal não mais seriam tão dolorosas. Esperava tanta coisa, tudo que sob minha ótica fosse útil ao mundo em geral, a ponto de moldá-lo com teor de paz, amor, fraternidade, generosidade, lealdade, congruência.
Mas o que vejo? Olho ao redor e por trás da impecável arquitetura, dos luxuosos automóveis, jóias e das ilustres figuras que compõe aquela parte restrita da sociedade, por trás de tudo isso vejo uma massa de miseráveis, de desigualdade, de guerras civis; dentro de qualquer um desses diferentes cenários está a senhora violência, tão recheada de artimanhas, de novidades indecentes. Vejo a queda das torres, a corrupção de um sistema que corrompe toda uma estrutura.
Vejo tanto, mais do que meu desejo expressa. Assisto o que não gostaria de assistir, mas enfim, é o que há para ser visto. Mesmo assim, depois de tanto tempo passado e de uma mudança tão curta no desejado e acentuada no malogro da corrente, fico aqui, como uma criança que acredita em papai-noel, tentando fazer a mudança positiva, acreditando em um mundo melhor.

(*)Giordana Gomes de Moura. e-mail: giordanadireito@hotmail.com
"É preferível arriscar-se em coisas grandiosas mesmo expondo-se ao risco do fracasso e da derrota, do que ficar na fila com os pobres de espírito que nem sofrem muito, nem se alegram muito, nem sabem o sabor da vitória, tão pouco da derrota e ficam transitando nesta massa cinzenta que se chama mediocridade." (Autor desconhecido)

sábado, dezembro 11, 2004

Um mundo sem leis

(*) Luiz Elias Miranda
Sempre tive a curiosidade, no passado, em saber para que as leis serviam, quando era guri, nunca achei uma utilidade para elas já que todos temos a distinção entre o certo e o errado, o bom e o mau, mas, a “coisa” não funciona bem assim.
Esta distinção entre bem e mau, certo e errado é muito subjetiva. Como este critério de distinção é muito volúvel, varia de pessoa para pessoa, seria necessário algum elemento que fizesse esta distinção para todos os “atores sociais”. Este elemento que oferece esta distinção obrigatória entre bem e mal são as leis, mas afinal, o homem precisa ser governado, precisa estar sempre submetido a uma autoridade que faça as leis?
Imagino a anarquia como o sistema ideal para viverem os homens. O capitalismo é por si muito desigual, o seu exarcebado espírito de competição cria uma espécie de “cadeia alimentar” humana. O capitalismo personifica as palavras de Thomas Hobbes, ele afirmava que o homem é lobo do próprio homem[1], além do que, é utópico pensar em democracia estando inserido num sistema capitalista.
O socialismo é muito perigoso, ele busca conduzir a sociedade a um modelo comunista, mas este processo seria conduzido por via de um governo totalmente centralizado, ou seja, o contrário do que a anarquia deseja. O socialismo é muito perigoso pelo fato de todos os regimes socialistas existentes até a atualidade, sempre acharam um jeito de burlar e fugir do programa anarquista, sempre terminaram transformando-se em regimes ditatoriais e altamente tecnocratas e, conseqüentemente, burocratizados. O socialismo não se firma pelo fato de o homem ser um animal que tem, inatamente, uma insaciável sede de poder, fazendo tudo por causa deste último.
A anarquia seria para mim o ideal, a anarquia seria o sistema de organização (se bem que a anarquia não pode ser considerada como um sistema de organização) mais perfeito jamais vislumbrado pelo homem.
Imaginem um mundo onde ninguém tivesse que se sujeitar à autoridade de ninguém, onde as pessoas se autogovernassem, onde não fosse necessária que nenhuma autoridade existisse para nos apontar deveres a serem cumpridos. A anarquia seria a prova de que o homem é o ser mais racional já existente.
Mas, apesar de toda esta perfeição, acho improvável que anarquia um dia “vinge”, o homem é um ser naturalmente egoísta. Por causa deste egoísmo latente é que se faz necessário o Estado para ordenar, subjugar e ordenar o homem embora muitas vezes ele funcione apenas como um catalisador deste desordenamento.
Luiz Elias Miranda é estudante de direito pela Universidade Estadual da Paraíba.

"A democracia tem pelo menos um mérito, a saber, que um representante do povo não pode ser mais idiota que seus eleitores, já que, por mais idiota que seja, os outros são necessariamente mais idiotas ainda por tê-lo eleito”. Bertrand Russell (1872-1970), filósofo e matemático britânico.


[1] da expressão latina Hommo Lupus Homni.



quarta-feira, dezembro 08, 2004

Lágrimas de Sangue

(*) Vítor Avelino Dutra Magalhães


Nessa solidão que estou no momento,
Penso nos momentos felizes que um dia passei,
Não acredito que um dia pude ser feliz,
Estar do seu lado, junto a você,
Abraçando-a, beijando-a,
Mas nem toda história tem um final feliz,
Nem sempre o mocinho vence,
E nessa minha história não foi diferente,
O mal dominou o bem,
Por isso passo dias e dias isolado,
Chorando para mim mesmo,
Essa angústia que sinto dentro do peito,
Não me deixa ser livre,
Ser um pouco independente,
A pouca liberdade que tenho,
Gasto me detonando,
Desmoralizando-me,
Essas lágrimas que caem dos meus olhos,
É o sangue que vai pouco a pouco sendo derramado,
E sem esse sangue, como vou sobreviver?
Somente com o seu carinho,
Seu amor que você mesmo não sentindo,
Pode demonstrá-lo com a sua ajuda,
Pois sem você não serei ninguém,
E cairei nessa minha solidão sem fim,
E acabarei no fundo do poço,
Me afogando no meu próprio sangue...


(*) Vítor tem 16 anos, é estudante da 1ª série do ensino médio do colégio Nossa Senhora de Lourdes em Cajazeiras. e-mail: vitoravelino_@hotmail.com

domingo, dezembro 05, 2004

Missão Social do Advogado

(*) João Baptista Herkenhoff


A “Semana do Advogado” que se celebra cada ano, em torno do Dia da Fundação dos Cursos Jurídicos (11 de agosto), é tempo muito próprio para refletir sobre a missão dos profissionais do Direito.
Num mundo e numa época em que se perdem os referenciais éticos, os mais velhos têm o dever de ajudar os mais jovens a buscar o sentido essencial das coisas.
Ex-alunos que se tornaram advogados e alunos de hoje que se preparam para um dia servir ao Direito, como advogados ou mesmo noutros misteres ligados ao mundo jurídico, freqüentemente me interpelam sobre o que entendo deva ser o fundamento da ética profissional.
Destaco três pontos na ética do advogado: seu compromisso com a dignidade humana; seu papel na salvaguarda do contraditório; sua independência à face dos Poderes e dos poderosos.
Em primeiro lugar, creio que é a luta pela dignidade da pessoa humana que faz da Advocacia, não uma simples profissão, mas uma escolha existencial.
Se nos lembramos de Rui Barbosa, Sobral Pinto, Heleno Cláudio Fragoso, qual foi a essência dessas vidas?
Respondo sem titubear: a consciência de que a sacralidade da pessoa humana é o núcleo ético da Advocacia.
Esta é uma bandeira de resistência porque se contrapõe à “cultura de massa” que se intenta impor à opinião pública, no Brasil contemporâneo. A “cultura de massa” inocula o apreço “seletivo” pela dignidade humana. Em outras palavras: só algumas pessoas têm direito de serem respeitadas como pessoas.
Há um discurso dos Direitos Humanos que é um discurso das classes dominantes. Nações poderosas pretenderam e pretendem “ensinar” direitos humanos. Esquecem-se essas nações que o imperialismo político e econômico é talvez a mais grave violação dos Direitos Humanos.
Os Direitos Humanos que propomos aos jovens como “opção de vida” não são, obviamente, os Direitos Humanos dos poderosos da Terra, dos que fazem dessa causa um instrumento da mentira.
Preferimos buscar noutras fontes a seiva dos Direitos Humanos. E, a nosso ver, a mais rica seiva são os movimentos populares.
De minha parte, não foi nos livros que aprendi Direitos Humanos, embora os livros tenham ajudado a organizar e a tornar metódico o pensamento. Aprendi Direitos Humanos irmanando-me aos oprimidos, nas suas lutas de dor, de sangue e de vida. Aprendi Direitos Humanos com meus companheiros da Comissão “Justiça e Paz” da Arquidiocese de Vitória e nas Comunidades Eclesiais de Base. Sobretudo aprendi Direitos Humanos nas prisões, nas chamadas “invasões”, na Catedral de Vitória que foi aberta aos “sem teto”. Aprendi Direitos Humanos nas margens do Rio Doce, onde famílias estavam sem casa em decorrência das enchentes do rio. Aprendi Direitos Humanos comungando lutas com os que batalhavam pela dignidade humana, proclamando o nome de Deus, e os que batalhavam por essa mesma dignidade humana, recusando nos lábios o nome de Deus. Mas Deus não é um nome, nem é uma proclamação verbal. Sempre me senti irmão de ateus, ou supostos ateus, que acreditavam na dignidade da pessoa humana. Sempre me senti um estranho entre supostos crentes, que proclamam o nome de Deus, mas entendem que a miséria e a injustiça são fatos naturais e se acomodam numa fé vazia. Esses supostos ateus, a meu ver, afirmavam e afirmam, sem o saber, a substância e a essência da Divindade, a Divindade Viva presente no rosto dos perseguidos e dos sofredores.
A apropriação dos Direitos Humanos pelos movimentos populares não significa desprezar a construção dos Direitos Humanos a partir de outros referenciais e outras origens.
Se o objetivo é a dignidade da pessoa humana, é a ruptura de todas as formas de opressão, as vertentes acabam por encontrar-se e os militantes hão de comungar as mesmas lutas.
Nosso segundo ponto lembra que o Advogado salvaguarda o contraditório, isto é, o embate de teses e provas que se defrontam perante o juiz. Já Sêneca percebeu a necessidade do contraditório quando afirmou que “quando o juiz após ouvir somente uma das partes sentencia, talvez seja a sentença justa. Mas justo não será o juiz”.
Finalmente, vejo a independência em face dos Poderes e dos poderosos como atributo inerente ao papel do Advogado. Não tema o advogado contrariar juízes, desembargadores ou ministros. Não tema o advogado a represália dos que podem destruir o corpo mas não alcançam a alma. Não tema o advogado a opinião pública. Justamente quando todos querem “apedrejar” aquele que foi escolhido como “Inimigo Público Número 1”, o advogado, na fidelidade à defesa, é o Supremo Sacerdote da Justiça.
(*) João Baptista Herkenhoff é advogado, escritor e livre-docente da Universidade Federal do Espírito Santo. e-mail: jbherkenhoff@uol.com.br

sábado, dezembro 04, 2004

Natal, a grande festa do... Capitalismo?!

(*) Luiz Elias Miranda
Ah, dezembro... Por onde você passa, sempre vê enfeites natalinos pendurados por todos os cantos, árvores, bolinhas coloridas, aquelas músicas natalinas, pessoas vestidas de papai Noel, nos shoppings as decorações a cada ano estão mais e mais aperfeiçoadas (em alguns, tem a até neve artificial). Todo esse clima e estes preparativos são para saudar aquele que veio ao mundo exclusivamente para nos salvar... O décimo terceiro salário!
Brincadeiras à parte, o natal seria uma grande festa com um fundo religioso grandioso se não sofresse a imensa e desprezível poluição do capitalismo. O natal tem uma intenção muito singela e bonita que a de celebrar o nascimento do redentor do cristianismo, é uma festa singular entre as religiões monoteístas. Entretanto, o capitalismo (como sempre), vê numa festa que nada teria de comercial uma oportunidade de bons negócios e transforma o natal numa negociata.
As lojas nesta época sempre fazem paródias das famosas músicas natalinas, sempre com alguma modificação que induza ao consumo. Fica sempre explicito nestas campanhas que o importante no natal não é a comemoração que deu origem à festa originalmente, mais importante que estas “bobagens” é presentear as pessoas que se gosta, ou seja, importante é gastar e presentear, os valores transcendentais (Gio que me perdoe pelo plágio) ficam relegados para um momento em que não se tenha nada melhor o que fazer.
Não que eu seja contra presentear e ser presenteado, o que, aliás, é muito bom, principalmente ser presenteado, mas é que tenho plena convicção de que o mais importante no natal não são presentes ou novas roupas. Para mim o natal (independente de filiações religiosas) é um momento singular do ano onde temos que tecer reflexões sobre nossas ações, pensar no que acertamos, o que erramos para que no ano que se aproxima, possamos ter ações mais acertadas que no ano anterior e um momento de confraternização entre todas as pessoas.
Mas, ao contrário do que devia ser, o “comercialismo” vê o natal como a melhor oportunidade do ano para se ter lucros, por isso que tantos investimentos em decoração, novos estoques e contratações temporárias. Não que isto não seja importante, mas o fator econômico, em meu ver, é bem mais insignificante que os fatores que listei mais acima. É importante ter lucro, mas transformar literalmente uma festa desta natureza em um verdadeiro “orgasmo lucrativo” não é justificável.
(*) Luiz Elias Miranda é acadêmico de direito pela Universidade Estadual da Paraíba e tem um desprezo visceral pela Maria Rita e por Harry Potter.