:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

terça-feira, outubro 24, 2006

Não o remédio, mas a doença



(*)Roberto Pompeu de Toledo

É o que o Brasil pode acabar levando, aoimportar dos EUA o regime de cotas raciais
O último número da revista Inteligência desnuda, numa série de artigos, o mal com que o Estatuto da Igualdade Racial, já aprovado no Senado e à espera de votação na Câmara, e a conseqüente obrigatoriedade de cotas nas universidades, no serviço público e em outros setores, ameaçam o Brasil. A revista esclarece, para quem ainda não percebeu, que o Estatuto, proposto pelo senador Paulo Paim (PT-RS), revoga o Brasil e institui outro país em seu lugar. Para começar, a tradição republicana de igualdade de todos perante a lei, consagrada na Constituição, é destruída em favor de "uma nova titularidade de direitos, cujo fundamento se encontra na raça, e não no indivíduo", segundo escreve a autora de um dos artigos, a cientista política Monica Grin. No plano das bases da sociedade, o Brasil é intimado a esquecer sua característica mestiça em favor da dualidade preto/branco. O que está em jogo, segundo o historiador José Roberto Pinto de Góes, autor de outro artigo da revista, é um "ambicioso projeto de reengenharia social, ao final do qual a sociedade brasileira terá substituído o orgulho da mestiçagem e da mistura pelo orgulho de ser negro ou de ser branco".
Não há dúvida, sempre é preciso repisar, que o Brasil se caracteriza por enormes disparidades e injustiças, e que políticas de ação afirmativa podem ser um recurso eficaz para combatê-las. O problema é basear tais políticas no conceito de "raça", e não de renda. "A idéia de raça é intrinsecamente má, foi concebida para discriminar, hierarquizar e oprimir", escreve Pinto de Góes. "O Estatuto da Igualdade Racial é uma lei racialista e promotora de diferenciações", acrescenta Monica Grin. Segundo a mesma autora, o Estado ganha, com essa lei, "amplos poderes de intervenção nas liberdades civis", pois passa a contar com "o poder de discriminar racialmente a sociedade".
Ao instituir legalmente a divisão do Brasil em branco e negro (qualquer nuance é ignorada, e os índios são esquecidos), o Estatuto da Igualdade Racial, além de colaborar para a fragmentação do país, cria para grande parte da população a dificuldade de encaixar-se de um ou outro lado. A historiadora Isabel Lustosa, autora de um terceiro artigo em Inteligência, confunde-se ao examinar a própria família: "Em que categoria caberiam meus tios paternos e maternos? Os com traços africanos e um antepassado escravo, mas que têm a pele clara, seriam considerados brancos? E os Lustosa, filhos de um comerciante de Cajazeiras que chegou a ter alguma fortuna, seriam considerados negros por causa da pele, apesar do cabelo escorrido e das perfeitas condições que tiveram para estudar em bons colégios?".
A idéia de reparação pelos malefícios da escravidão, um dos fundamentos do Estatuto, produz novas confusões. "Como um 'afro-brasileiro' pobre poderia convencer com plausibilidade seu vizinho 'branco' pobre de que ele é o culpado pela situação de pobreza em que ambos se encontram?", pergunta Monica Grin. Há o caso inverso do negro que foi possuidor de escravos. Pinto de Góes encontrou, na Sabará de 1830, uma quantidade de negros ou mulatos livres equivalente a três quartos da população total. Desses, 43% tinham escravos. Como indenizar os descendentes desses negros pelos males da escravidão se foram beneficiários dela? Os artigos de Inteligência contribuem com um choque de racionalidade contra a irracionalidade intrínseca aos argumentos baseados no conceito esquivo, falso e perigoso de "raça".
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Olhe-se o mundo em volta. A Europa convive mal e mal com suas populações muçulmanas. Os países muçulmanos eriçam-se contra os cristãos. Nos EUA, permanecem latentes as tensões entre brancos, negros, "latinos" e outros grupos. Em Israel, judeus e palestinos se estraçalham. No Líbano, cristãos e hezbollahs vivem em pé de guerra. Na Índia, hindus e muçulmanos. Na África, múltiplas religiões e etnias se estranham. Como será o mundo do futuro? A continuarmos na atual batida, a intolerância destruirá o planeta antes que o efeito estufa o faça. Se formos na direção oposta, vamos aprender a conviver com a diversidade e as sociedades terão diferentes religiões e cores de pele a conviver em paz. Quer dizer: o mundo ficará mais parecido com o Brasil. O Brasil conta com uma experiência que o qualifica como modelo de sociedade do futuro. No entanto, flerta com a opção de jogá-la fora.
A inspiração para a adoção das cotas "raciais" são os EUA. Seus defensores, mesmo sem saber, seguem a máxima do ex-embaixador em Washington e ex-chanceler (no regime militar) Juracy Magalhães, para quem "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil". A quem acha que o problema do Brasil é parecido com o dos EUA, recomenda-se a leitura de autores como James Baldwin ou John Updike. Vai-se ver o que é racismo. Ao se comprar dos americanos o regime de cotas, é possível que se acabe levando não o remédio, mas a doença.


segunda-feira, outubro 16, 2006

"Tipicamente guarabirense"



(*) Henrique Toscano Henriques

Fui acusado, ou pelo menos foi o tom da injúria que me fez pensar, de ter o pensamento tipicamente guarabirense. Àqueles que por ventura lêem esta página eletrônica, certamente poucos conhecem Guarabira.Pois bem. Guarabira fica à 92 km da nossa capital, possui cerca de 55 mil habitantes e um eleitorado de aproximadamente 35 mil pessoas.
Situa-se na microrregião do brejo paraibano e é circundada por cidades como Araçagi, Pirpirituba, Cuitegi e Pilõezinhos, todas de pequeno porte. É conhecida como a Rainha do Brejo, por possuir um pulsante comércio e ter, as quartas e sábados, a maior feira livre da região.
Do ponto de vista turístico, possui belas trilhas ecológicas que dão acesso a diversos municípios próximos. É em Guarabira que fica o marco inicial dos caminhos de Padre Ibiapina, que termina em Solânea, no Santuário de Santa Fé.
Em uma de nossas belas serras, a da Jurema, está o Memorial religioso de Frei Damião, ponto de encontro de romeiros de todo o nordeste.
A atual prefeita é Fátima Paulino,do PMDB, eleita no último pleito com mais de 60% dos votos válidos.
Voltando a questão do pensamento tipicamente guarabirense, é com dissabor que escrevo, pois esperava da pessoa que proferiu tais palavras um pouco mais de discernimento. Esperava, porque de longe passava em minha cabeça a idéia de que ter o pensamento tipicamente guarabirense era retrógrado, cafona, antiquado.
Também pensei que ser tipicamente guarabirense não era sinônimo de desatualização, de regresso, de arcaísmo.
Pensei erroneamente que ser tipicamente guarabirense não guardava similitude com ser quadrado, careta ou rude.
Pois é, passamos tanto tempo de nossas vidas acreditando em verdades cabais, e em um segundo caem por terra.
Mas cá constituo minha defesa. E espero convencê-los de que estou certo.
Nasci aqui, em um hospital público, onde dei minha primeira mamadura. Criei-me aqui, e fui vítima do sistema educacional local. Constituí amigos aqui, e os de fora, convenci a conhecer a cidade.
Das vezes que em mim despertaram paixões, foi aqui a paisagem, o pano de fundo de toda uma história.
Sinto imensas saudades quando me desloco daqui, mesmo que seja por pouco tempo, para resolver coisas que na cidade não encontro os meios. Vantagens de lugar pequeno.Falta-nos uma certa infra-estrutura, mas aos poucos chegamos lá.
Daqui levo recordações sadias e lições pro tempo não apagar. É aqui que estudo e sinto o imenso prazer de fazer parte de um ambiente acadêmico tão fértil.
Talvez seja um pouco de exagero meu, mas questiono se seria igualmente feliz em outro lugar. Não é um bairrismo idiota, mas faço do meu lugar de morar, uma das razões de viver.
Não tão bem como quem vaticinou a sentença, sinto-me feliz em escutar, por que só fez aumentar o desejo de ver meus pares guarabirenses bem melhor do que já estão.
O que falta, para algumas pessoas, é saber que o pensamento dos fúteis segue uma tendência localista, e que o pensamento dos inúteis segue o fio da idiotice.
Seja aqui ou em Xangai, sentimentos de amor ao local não significam linearidade de pensamento, de atitude e de personalidade. Tais qualidades são inatas dos seres humanos, e pensar “guarabirense” não é nada mais do que usar o próprio discernimento.
Mais uma vez, reforço minha assertiva: Seja aqui ou em qualquer outro lugar, caráter, discernimento e personalidade não estão expostos a fatores exógenos.
Entristece-me, mas não me abala que o verdadeiro significado de pensar moderno e agir progressivamente, na acepção hodierna, seja pautar uma incoerência de discurso e uma atitude embasada em falsos colóquios, ideologias pueris e faniquitos freqüentes.
Por essas e outras coisas, vivo bem e minimalisticamente, no lugar onde nasci. Disso me orgulho, e não me acovardo diante de insultos dessa natureza.
Seja por impulso ou insensatez, proferir tamanho despautério é erro, quando não é flecha.
Mas quem sabe um dia eu não veja cair por terra o modo de viver do falso burguês, da cultura provinciana, e desse pensamento tipicamente imbecil.

Fica Mário de Andrade com a baliza de meu texto:

“Morte à gordura!Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
‘— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!’”

E viva o pensamento tipicamente guarabirense!

(*) Henrique Toscano é estudante de direito pela UEPB

O poder e os sem-poder


(*) Leonardo Boff

A atual campanha para a Presidência se reveste de certa dramaticidade. É mais do que escolher um político para ocupar o centro do poder estatal. O que está em jogo são dois projetos de Brasil. Um representa o projeto dos detentores do poder, do ter, do saber e da comunicação. Seus atores ocupam há séculos o espaço público e o Estado. Construíram um Brasil para si, de costas para o povo do qual, no fundo, sentem vergonha, pois o consideram ignorante, atrasado e “religioso”.
O outro projeto é dos sem-poder, dos destituídos de cidadania e excluídos dos benefícios sociais. Historicamente, resistiram e se rebelaram, mas sempre foram derrotados. Entretanto, conseguiram se organizar e criar um contrapoder com capacidade de disputar o mais alto cargo da Nação.
Geraldo Alckmin representa o projeto das classes dominantes. Na verdade, elas não possuem um projeto-Brasil, pois o consideram ultrapassado. Agora, vigora o projeto-mundo no qual o Brasil deve se inserir mesmo como sócio menor. Seguem as receitas do neoliberalismo que implicam o enfeudamento da política pela economia, aprofundando as desigualdades sociais. Esse projeto foi implantado durante o governo FHC. Se vitorioso, Alckmin o retomará com fervor.
Lula representa o projeto alternativo. Cansado das elites, o povo votou em si mesmo elegendo Lula como presidente. Carismático, tentou, com relativo sucesso, fazer uma transição: de um Estado elitista e neoliberal para um Estado republicano e social. Para salvar o Titanic que ameaçava afundar, teve que fazer concessões à macroeconomia de viés neoliberal, mas deu, como nenhum governo antes, centralidade ao social com programas que beneficiaram cerca de 40 milhões de pessoas.
Desta opção pelo social pode nascer um outro tipo de Brasil com uma democracia inclusiva que resgate a dignidade de milhões de excluídos e marginalizados. O significado histórico de reeleger Lula é permitir-lhe acabar esse começo de construção de um outro Brasil possível.
(*)Leonardo Boff é escritor e teólogo

sábado, outubro 07, 2006

Veja - Borja: "Perdemos o sentido da civilização"




Leia trechos da entrevista do jurista Célio Borja (foto acima, de Oscar Cabral) a Lucila Soares:
"O QUE A CRISE ATUAL TEM DE DIFERENTE DAS ANTERIORES?
O presidente da República, que está no olho do furacão, tem grande apoio popular. Isso faz uma enorme diferença. Possivelmente, num primeiro momento, quando ele podia ter sido trazido à responsabilidade por atos de subordinados imediatos seus, a oposição se deteve, mais com receio da reação popular do que da eventual fragilidade da acusação ao presidente. Do ponto de vista estritamente político, é a diferença mais relevante.
E DO PONTO DE VISTA ÉTICO?
Perdemos o sentido da civilização. E a mais importante prova disso é que uma parte considerável das pessoas que receberam o voto popular, que representam o povo brasileiro, tem uma conduta incompatível com um padrão mínimo de decência.(...)
ESSA ATITUDE É RESULTADO APENAS DE DECEPÇÃO TRANSFORMADA EM CINISMO OU TAMBÉM DA AUSÊNCIA DE DEBATE?
Estamos vivendo uma situação de traição dos intelectuais, tomando emprestado o título do livro do escritor francês Julien Benda, morto em 1956. A maior parte dos nossos intelectuais tem um passado de esquerda. Agora se calam, pois temem ser cobrados. É uma pena, porque as inteligências indiscutíveis que nós temos se sentem constrangidas pelo fato de terem tido compromisso com algumas idéias no passado. Acham que, se falarem mal do presidente hoje, estarão ajudando a corrente oposta, os reacionários de sempre, os ricos em detrimento dos pobres. Isso é uma simplificação absurda, inaceitável. Clique aqui para ler mais

terça-feira, outubro 03, 2006

Não à Direita

(*)Emir Sader
Qualquer que seja o juízo que se tenha do governo Lula – mais ou menos severo nas críticas -, o quadro político está fortemente polarizado entre direita e esquerda. A esquerda pode errar muitas vezes, a direita erra menos. Esta escolheu um mau candidato, mas aponta firme contra quem considera seu inimigo fundamental, hoje representado pelo governo Lula.É uma constatação de fato que constitui o eixo central dos enfrentamentos do campo político no processo eleitoral atual.Não entremos a considerar as razões dessa oposição e dos ataques brutais contra o governo. Sabemos que não é zelo pela ética, porque a direita tolerou, participou e ganhou com todas as maracutaias da ditadura, do governo Collor, do governo FHC e de tantos governos locais. Constatamos sua virulência e seu objetivo de desalojar o governo Lula, apesar da moderação de tantos aspectos desse governo. Trata-se de uma ofensiva contra a esquerda, como fica claro nos temas programáticos centrais da direita: menos Estado, retomada das privatizações (Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal, BNDES), menos tributação, corte maior dos gastos públicos, maior abertura da economia, fim das regulações estatais, privilégio das relações externas com o Norte e fim da política Sul/Sul, menos soberania e integração, mais livre comércio e Alca, políticas de segurança pública ainda mais repressivas, tratamento duro com os movimentos sociais.Caso venha a ganhar o candidato tucano-pefelista, ninguém, no campo da esquerda, dos movimentos sociais, do campo popular e do pensamento crítico, será poupado da sanha direitista que se apossou da elite brasileira, ninguém deixará de sofrer direta e indiretamente os efeitos dessas políticas, inclusive no seu aspecto criminalizador dos movimentos sociais e diretamente repressivo.Não bastasse os apelos a Carlos Lacerda, as comparações com Watergate, o editorial da FSP (“Degradação”) de domingo passado é parecido com o do Correio da Manhã (“Basta”) nas vésperas do golpe de 1964 (foi taxado, corretamente, de lacerdista por Luis Nassif). Querem criar um clima de agosto de 1954 – com CPIs funcionando de “República do Galeão” -, de março de 1964 – deslegitimando governos e preparando o impeachment, caso a vontade popular uma vez mais se volte contra eles.Era a direita unificada, como há muito não se via – praticamente todo o grande empresariado, a totalidade da grande mídia privada monopolista , todos os partidos da direita e outros que um dia não eram de direita, aderidos ao bloco tucano-pefelista, unidos na mesma campanha contra a candidatura de Lula. Como não podem ganhar no primeiro turno, seu objetivo hoje é chegar ao segundo turno, contando com os votos de todos que não votem por Lula. E criar aí um clima de virada, com todo o contexto de terror, apoiado na unanimidade monopolista da grande mídia privada, valendo-se de todos os métodos de manipulação de que tem se mostrado capaz, seja na maquiagem de pesquisas, seja na editorialização absoluta dos noticiários e no uso brutal do poder que sua mídia monopolista pode ter a favor do seu candidato – Alckmin, do bloco tucano-pefelista.A esquerda tem que mostrar agora que sabe distinguir os campos de enfrentamento, mais além das diferenças que têm. A esquerda que não distingue o campo e os movimentos da direita, não é esquerda, se perde nos ataques dispersos a outros candidatos do próprio campo da esquerda e acaba perdendo seu próprio caráter de esquerda. A esquerda tem que demonstrar, diante dessa feroz ofensiva da direita, que sabe colocar em prática uma política de frente única, que não confunde inimigos estratégicos com aliados táticos, que sabe distinguir as linhas de divisão das contradições irreconciliáveis entre direita e esquerda.Não abrir mais flancos ao inimigo – ademais dos graves erros cometidos pelo PT – e aparecer firmemente unida numa frente antidireitista, que fortaleça a esquerda, que aponte para seus inimigos fundamentais – o neoliberalismo, a hegemonia imperial estadunidense, o monopólio midiático. Contra o poder do dinheiro, das armas e da palavra – pilares do poder no mundo atual e inimigos fundamentais da esquerda.Para poder, no dia seguinte da derrota imposta à direita, trabalhar para recompor a esquerda, formulando projetos democráticos, populares e soberanos para o Brasil, mobilizando o pensamento crítico do país e os movimentos sociais, políticos e culturais – que constituem o eixo e a força maior da esquerda. Para pressionar o novo governo, para que caminhe na direção efetiva de superação dos três obstáculos maiores com que se enfrenta a esquerda, no Brasil, na América Latina e no mundo: os monopólios do dinheiro, das armas e da palavra. Que trabalhe de forma concentrada e unificada pela substituição do modelo econômico por um outro, centrado em metas sociais e não econômico-financeiras; que retome um projeto de desenvolvimento acelerado centrado na expansão do consumo popular; que realize plenamente a reforma agrária, promova centralmente a economia familiar e a política de segurança alimentar, em oposição aos modelos centrados na exportação e nos transgênicos; que consolide e expanda os processos de integração regional e no Sul do mundo; que trabalhe decididamente pela democratização dos meios de comunicação, que inclua da legalização e o incentivo das rádios comunitárias, ao fortalecimento das mídias públicas e das alternativas, que retome fortemente a implementação dos softwares alternativos – entre tantas outras demandas da esquerda e dos movimentos sociais.Mas, antes, saber unir-nos e mobilizar-nos para barrar a ofensiva da direita radicalizada, que é o elemento mais característico da fase final da campanha presidencial, derrotá-los já no primeiro turno, demonstrando que a esquerda sabe reconhecer seus inimigos, sabe reunir forças para derrotá-los, porque nenhum setor de esquerda, do campo popular, dos movimentos sociais e do pensamento crítico ficarão imunes a uma eventual vitória do bloco tucano-pefelista – inimigo fundamental da esquerda.Trata-se assim, nesta reta final da campanha, de ganhar os votos suficientes para consolidar a vitória no primeiro turno, para frear o ímpeto terrorista da direita e abrir os espaços para a recomposição da esquerda, que permitam formular um projeto de nação democrática política, social, econômica e culturalmente, fazer com que a esquerda retome, de forma unificada, a iniciativa e coloque com força seu objetivo fundamental – um Brasil pós-neoliberal.Não à direita, não a seu projeto de terror e manipulação midiática, de tentar impor um segundo turno de vale-tudo entre direita e esquerda. Derrotar a direita com a força do povo e da unidade da esquerda.

Um golpista sem farda


(*)Diogo Mainardi
"Quem é pego com dinheiro sujo deve serpunido. Os lulistas sabem que o Tribunal Superior Eleitoral acabará cassando omandato de Lula. É a lei. Se o golpe é legal,a defesa da legalidade só pode ser golpista"

Estou aqui. Em Jacarepaguá. Rede Globo. Comendo bisnaguinhas com presunto e queijo. Quantas já comi? Seis? Sete?
Faltam duas horas para o debate eleitoral. Lula acaba de mandar uma mensagem à Rede Globo. A mensagem diz: "Não posso render-me à ação premeditada e articulada de alguns adversários que pretendiam transformar o debate desta noite em uma arena de grosserias e agressões". Foi só para isso que eu vim a Jacarepaguá. Para ver Lula na arena. Ele desistiu no último momento. Chegou a mandar sua lista de convidados. De todos eles, eu só queria ter visto sua secretária particular. A mulher de Oswaldo Bargas. Preciso parar de comer bisnaguinhas com presunto e queijo.
Entro no auditório. Quem é aquele? Gabriel Chalita? Fiz um artigo a respeito dele. Quem é aquele outro? Ricardo Noblat? Sei de uma história dele dos tempos da Propeg. Geraldo Alckmin está acenando para mim ou para a Paula? É para a Paula. Chegou o Tasso Jereissati. O irmão dele está me processando. Viu o cabelo do Alberto Goldman? Errou a tintura.
Começa o debate. Fala Cristovam Buarque. Fala Geraldo Alckmin. Fala Heloísa Helena. Réplica. Tréplica. Lula faz falta. O repórter na minha frente anota sem parar. Olho meus papéis. Só há uma anotação: Chiquinho 97626382. É o celular do motorista. No fim do primeiro bloco, telefono para o Chiquinho e volto correndo para casa.
Quero que Lula perca. Mas perder ou ganhar é igual. Se ele perder, tem de ser cassado. Se ele ganhar, tem de ser cassado. O comando da campanha eleitoral de Lula foi pego com dinheiro sujo. Quem é pego com dinheiro sujo deve ser punido. Os lulistas sabem que o Tribunal Superior Eleitoral acabará pedindo a cassação do mandato de Lula. É a lei. José Dirceu, Marco Aurélio Garcia, Ricardo Berzoini e Tarso Genro já declararam que aplicar a lei contra Lula é golpe. Tarso Genro alertou para o risco de um "golpe branco", um "golpe eleitoreiro", um "golpe jurídico", um "golpe brando". Na última quinta-feira, num artigo publicado no Globo, ele chegou até mesmo a chamá-lo de "golpe legal". Se o golpe é legal, a defesa da legalidade só pode ser golpista. E a defesa da ilegalidade só pode ser democrática. Depois de legitimar o roubo, o lulismo está conseguindo legitimar o golpe de Estado. Se é assim, eu sou golpista. Um golpista sem farda. Um golpista sem tanque. Um golpista sem bala.
O golpista Mainardi se entrincheira com seus leitores. Do outro lado da barricada, o lulismo. Falta-nos apenas um comando. Um general bigodudo e truculento. O segundo mandato de Lula será melhor do que o primeiro. Pelo menos para nós, golpistas. Um fato nós já sabemos com certeza: está rolando um bocado de dinheiro sujo na campanha eleitoral. Aquele mesmo dinheiro sujo que seria usado para comprar o depoimento fraudulento dos Vedoin. Procurando um pouquinho, no segundo mandato poderemos encalacrar um petista por semana.
O golpe dará certo.