:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

domingo, janeiro 21, 2007

Ai de nossos ouvidos



(*)Henrique Toscano Henriques

Por aqui já estamos saturados.A temporada do verão começou e estamos, pelo menos no nordeste, vivendo um onda de ditadura do som imposta pela nossa geração temporariamente praieira.
Todos de férias, curtindo o verão, a azaração,as noitadas e nós, que também queremos curtir o verão tal qual, eles temos que nos vergar à sua força impositiva carreada por magníficos monumentos da agressão auditiva: os sistemas de som automotivos.
Fica aquela macharada toda ao redor, admirando as cornetas e os fones, escutando a tal da lapada na rachada e delirando a cada vez que o cantor enfatiza o taca o pau riquelme.Para aqueles que ainda se acham leigos no assunto, o tal Riquelme não é o centro-avante do escrete argentino, e sim o baterista de uma afamada banda de forró de plástico.
Todos nós somos obrigados a escutar esta porcaria generalizada.Respeito os gostos, mas como diz um dístico bem acertado, toda unanimidade é burra.Quando todos estão a ouvir a mesma coisa todo tempo e toda hora é sinal que algo de bom não há.Viver a diversidade e o pluralismo dos hábitos e a coisa mais fascinante no ser humano, que por si só apresenta-se diferente no aspecto físico, porque não cultivar isso no aspecto cultural?
Este beco em que todos disputam um espaço já abriga milhares. A disseminação de culturas de massa tal qual o funk carioca,o forró eletrônico,o axé baiano e o calipso tem sido de tal maneira violenta que chegamos a pensar que as forças criativas da nossa música se calaram em sinal de desesperança.O pior de minhas constatações é que, por si só, o ritmo não é culpado.No forró podemos admirar o mestre Dominguinhos, ainda em atividade, quanto ao funk, podemos ver que ainda resta na voz de Paula Lima, com um grande apelo jazzístico e de soul music.No axé temos Daniela Mercury, nossa embaixatriz da Unicef.Nos ritmos nortistas ainda nos resta Pinduca e a tradição dos bois.O que realmente pesa é a grande quantidade de grupos que apenas repetem as músicas,os trejeitos, as falas e em muitas vezes a similitude de nomes.
Falta poesia, apuramento musical e muitas vezes, talento.Qualquer um se candidata a conduzir um grupo musical sem ao menos saber o que é música, e contribuem cada vez mais para construir uma geração sem referenciais musicais, sem lembranças auditivas que nos façam rememorar instantes inesquecíveis.
E o que falar dos momentos que irão rememorar? Qual o prazer de se lembrar de momentos em que estávamos apenas conduzidos por uma onda, e que não agíamos de acordo com nossas convicções? Reféns da cultura imposta nos encontramos cada vez mais encurralados em nossos próprios sentimentos. O que há de se fazer, se quero escutar Carolina de Chico tenho que agüentar a chacota de meus amigos julgando-me velho e desprezando minha página musical?Que seja, o importante é não ser massa de manobra nas mãos de quem não sabe o que é realmente escutam.
Em que instante poderemos relembrar antigas paqueras ao som de músicas que sequer insinuam um duplo sentido e que já vão direto ao assunto não deixando mais nada por conta da imaginação.Como diria Ruy Castro, “Todas as vezes que o Tom abriu o piano,o mundo melhorou”.Começo a acreditar no inverso, que cada vez que um idiota abre a mala de seu carro e liga o som o mundo só piora.
Vai entender esta minha geração. Ai de meus ouvidos.