O caso Piergiorgio Welby: piedade ou assassinato?
Certa vez já abordei o tema ‘eutanásia’ aqui na ocasião da morte da estadunidense Terry Schiavo se era justificável a prática da eutanásia ou se seria o mais correto deixar o paciente agonizar até que seu organismo não agüentasse mais e finalmente desse seu “suspiro final”.
O caso Welby, um poeta italiano que sofria há alguns anos os efeitos devastadores da distrofia muscular, comoveu a Itália, tanto os partidários quanto os que não aceitam a eutanásia. Não agüentando mais o sofrimento por causa dos efeitos avançados da distrofia – Piergiorgio não tinha mais capacidade de fazer nenhum movimento, sua única forma de comunicação era um computador que interpretava os movimentos dos seus olhos – ele, por meio de defensores da eutanásia e alguns amigos pleitearam até com o presidente italiano o direito de poder morrer de forma decente, pedido este negado obviamente já que a Itália é um país de maioria esmagadora católica, denominação cristã que em qualquer caso recusa-se a aceitar a eutanásia como saída para conceder uma morte decente a uma pessoa.
As pessoas que me conhecem sabem que teria tudo para me posicionar contra a decisão do médico Mario Riccio – que desligou o respirador de Welby e pôs fim a vida que o próprio Piergiorgio chamava de ‘tortura’ – a formação católica que sempre tive me impeliria a condenar esse “assassinato” cometido na Itália.
Não acredito que a eutanásia – vocábulo de origem grega, significa ‘boa morte’ – deva ser considerada um crime, ao contrário, é um gesto de humanidade. A meu ver deixar um doente terminal agonizar por tempo indeterminado numa cama de hospital ou mesmo em casa é um verdadeiro atentado à dignidade de qualquer ser humano.
A mesma Itália que quase unanimemente brada contra Riccio chamando-o de assassino e condenando esta pessoa que teve coragem de fazer o que muitos não tiveram à pena máxima mesmo antes do julgamento não lembra que o próprio João Paulo II – chefe máximo da mesma Igreja Católica que negou ontem a Piergiorgio um funeral cristão – recorreu a uma espécie de eutanásia quando não quis mais submeter-se aos tratamentos ministrados pelos médicos e decidiu voltar ao palácio papal. Mesmo assim, os médicos foram chamados de assassinos por terem aceitado pacificamente a decisão do sumo-pontífice? Ao Karol Wojtyla foi negado um funeral cristão? Claro que não...
Não quero influenciar ninguém, só quero despertar a reflexão e desmistificar a idéia de que a eutanásia seja um ato reprovável, ao contrário, pelo menos eu considero a consagração do princípio da dignidade humana, um último suspiro de dignidade frente a dolorosa experiência de morrer dolorosa e vagarosamente.
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