:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, dezembro 23, 2006

O caso Piergiorgio Welby: piedade ou assassinato?

(*) Luiz Elias Miranda

Certa vez já abordei o tema ‘eutanásia’ aqui na ocasião da morte da estadunidense Terry Schiavo se era justificável a prática da eutanásia ou se seria o mais correto deixar o paciente agonizar até que seu organismo não agüentasse mais e finalmente desse seu “suspiro final”.

O caso Welby, um poeta italiano que sofria há alguns anos os efeitos devastadores da distrofia muscular, comoveu a Itália, tanto os partidários quanto os que não aceitam a eutanásia. Não agüentando mais o sofrimento por causa dos efeitos avançados da distrofia – Piergiorgio não tinha mais capacidade de fazer nenhum movimento, sua única forma de comunicação era um computador que interpretava os movimentos dos seus olhos – ele, por meio de defensores da eutanásia e alguns amigos pleitearam até com o presidente italiano o direito de poder morrer de forma decente, pedido este negado obviamente já que a Itália é um país de maioria esmagadora católica, denominação cristã que em qualquer caso recusa-se a aceitar a eutanásia como saída para conceder uma morte decente a uma pessoa.

As pessoas que me conhecem sabem que teria tudo para me posicionar contra a decisão do médico Mario Riccio – que desligou o respirador de Welby e pôs fim a vida que o próprio Piergiorgio chamava de ‘tortura’ – a formação católica que sempre tive me impeliria a condenar esse “assassinato” cometido na Itália.

Não acredito que a eutanásia – vocábulo de origem grega, significa ‘boa morte’ – deva ser considerada um crime, ao contrário, é um gesto de humanidade. A meu ver deixar um doente terminal agonizar por tempo indeterminado numa cama de hospital ou mesmo em casa é um verdadeiro atentado à dignidade de qualquer ser humano.

A mesma Itália que quase unanimemente brada contra Riccio chamando-o de assassino e condenando esta pessoa que teve coragem de fazer o que muitos não tiveram à pena máxima mesmo antes do julgamento não lembra que o próprio João Paulo II – chefe máximo da mesma Igreja Católica que negou ontem a Piergiorgio um funeral cristão – recorreu a uma espécie de eutanásia quando não quis mais submeter-se aos tratamentos ministrados pelos médicos e decidiu voltar ao palácio papal. Mesmo assim, os médicos foram chamados de assassinos por terem aceitado pacificamente a decisão do sumo-pontífice? Ao Karol Wojtyla foi negado um funeral cristão? Claro que não...

Não quero influenciar ninguém, só quero despertar a reflexão e desmistificar a idéia de que a eutanásia seja um ato reprovável, ao contrário, pelo menos eu considero a consagração do princípio da dignidade humana, um último suspiro de dignidade frente a dolorosa experiência de morrer dolorosa e vagarosamente.

(*) Luiz Elias é estudante de direito.