:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

segunda-feira, outubro 16, 2006

"Tipicamente guarabirense"



(*) Henrique Toscano Henriques

Fui acusado, ou pelo menos foi o tom da injúria que me fez pensar, de ter o pensamento tipicamente guarabirense. Àqueles que por ventura lêem esta página eletrônica, certamente poucos conhecem Guarabira.Pois bem. Guarabira fica à 92 km da nossa capital, possui cerca de 55 mil habitantes e um eleitorado de aproximadamente 35 mil pessoas.
Situa-se na microrregião do brejo paraibano e é circundada por cidades como Araçagi, Pirpirituba, Cuitegi e Pilõezinhos, todas de pequeno porte. É conhecida como a Rainha do Brejo, por possuir um pulsante comércio e ter, as quartas e sábados, a maior feira livre da região.
Do ponto de vista turístico, possui belas trilhas ecológicas que dão acesso a diversos municípios próximos. É em Guarabira que fica o marco inicial dos caminhos de Padre Ibiapina, que termina em Solânea, no Santuário de Santa Fé.
Em uma de nossas belas serras, a da Jurema, está o Memorial religioso de Frei Damião, ponto de encontro de romeiros de todo o nordeste.
A atual prefeita é Fátima Paulino,do PMDB, eleita no último pleito com mais de 60% dos votos válidos.
Voltando a questão do pensamento tipicamente guarabirense, é com dissabor que escrevo, pois esperava da pessoa que proferiu tais palavras um pouco mais de discernimento. Esperava, porque de longe passava em minha cabeça a idéia de que ter o pensamento tipicamente guarabirense era retrógrado, cafona, antiquado.
Também pensei que ser tipicamente guarabirense não era sinônimo de desatualização, de regresso, de arcaísmo.
Pensei erroneamente que ser tipicamente guarabirense não guardava similitude com ser quadrado, careta ou rude.
Pois é, passamos tanto tempo de nossas vidas acreditando em verdades cabais, e em um segundo caem por terra.
Mas cá constituo minha defesa. E espero convencê-los de que estou certo.
Nasci aqui, em um hospital público, onde dei minha primeira mamadura. Criei-me aqui, e fui vítima do sistema educacional local. Constituí amigos aqui, e os de fora, convenci a conhecer a cidade.
Das vezes que em mim despertaram paixões, foi aqui a paisagem, o pano de fundo de toda uma história.
Sinto imensas saudades quando me desloco daqui, mesmo que seja por pouco tempo, para resolver coisas que na cidade não encontro os meios. Vantagens de lugar pequeno.Falta-nos uma certa infra-estrutura, mas aos poucos chegamos lá.
Daqui levo recordações sadias e lições pro tempo não apagar. É aqui que estudo e sinto o imenso prazer de fazer parte de um ambiente acadêmico tão fértil.
Talvez seja um pouco de exagero meu, mas questiono se seria igualmente feliz em outro lugar. Não é um bairrismo idiota, mas faço do meu lugar de morar, uma das razões de viver.
Não tão bem como quem vaticinou a sentença, sinto-me feliz em escutar, por que só fez aumentar o desejo de ver meus pares guarabirenses bem melhor do que já estão.
O que falta, para algumas pessoas, é saber que o pensamento dos fúteis segue uma tendência localista, e que o pensamento dos inúteis segue o fio da idiotice.
Seja aqui ou em Xangai, sentimentos de amor ao local não significam linearidade de pensamento, de atitude e de personalidade. Tais qualidades são inatas dos seres humanos, e pensar “guarabirense” não é nada mais do que usar o próprio discernimento.
Mais uma vez, reforço minha assertiva: Seja aqui ou em qualquer outro lugar, caráter, discernimento e personalidade não estão expostos a fatores exógenos.
Entristece-me, mas não me abala que o verdadeiro significado de pensar moderno e agir progressivamente, na acepção hodierna, seja pautar uma incoerência de discurso e uma atitude embasada em falsos colóquios, ideologias pueris e faniquitos freqüentes.
Por essas e outras coisas, vivo bem e minimalisticamente, no lugar onde nasci. Disso me orgulho, e não me acovardo diante de insultos dessa natureza.
Seja por impulso ou insensatez, proferir tamanho despautério é erro, quando não é flecha.
Mas quem sabe um dia eu não veja cair por terra o modo de viver do falso burguês, da cultura provinciana, e desse pensamento tipicamente imbecil.

Fica Mário de Andrade com a baliza de meu texto:

“Morte à gordura!Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
‘— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!’”

E viva o pensamento tipicamente guarabirense!

(*) Henrique Toscano é estudante de direito pela UEPB

7 Comments:

Blogger Luiz Elias said...

Henrique, belo texto, não tenho nenhum ponto deficinete a apontar nele (como sempre).
Não sou guarabirense de nascimento, morei 13 anos nesta maravilhosa cidade, foi lá que fui construído como ser humano, onde meu caráter foi moldado, onde apredi que uma atitude condizente com o discurso que profiro vale muito mais que palavras hipócritas proferidas com tom de uma falsa superioridade farisaica.
Foi lá que aprendi que honestidade, sinceridade e outras qualidades que deveriam ser caras a todo ser humano valem muito mais que sobrenomes nobres, riqueza material e vida plástica.
É claro que em em Guarabira, assim como em todos os lugares,em especial nas cidades maiores, encontramos pessoas com hábitos não muito salutares. Mas isso não significa que pensar seja mau, errado, cafona ou qualquer outro detrativo...
A grandeza das pessoas está em seu interior, o exterior muitas vezes não condiz com o interior totalmente podre que muitas pessoas têm.
Críticas gratuitas e alógicas merecem apenas o desprezo...

abraços, siga em frente...

segunda out. 16, 07:29:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

meu querido Henrique,
vc sabe que não costumo fazer comentarios aqui no seu blog embora sempre leio os textos que são muito atrativos à leitura, não que não goste de comentar mas que sou muito timida p/fazê-lo; porém não resisti a este magnifico texto e quero parabenizar vc por tudo o que escreveu e dizer que se te admirava até ontem hoje sinto orgulho de ter como amigo da nossa familia alguem tão especial como vc. DEUS TE ABENÇOE E PROTEJA SEMPRE.
GRAÇA

quarta out. 18, 03:19:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

quarta out. 18, 07:56:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

Geanne,

Talvez você realmente não tenha entendido o sentido do texto.Defendo aqui os tipicamente guarabirenses, não na acepção da chancela criada por vc, que considero de exíguo valor. No entanto, sempre haverá, em qualquer lugar, pessoas que agem futilmente, que frequentam esses tais "bares monótonos" ,que caiam em um "vazio cultural" e levem uma "vidinha medíocre", seja aqui ou ao lado da Côte d'Azur.
O que não admito, em nenhuma hipótese, é usar o gentílico de minha cidade para estereotipar pessoas medíocres, vis e fúteis.
Não posso também achar que o simples fato de nascer guarabirense implique em carregar tais adjetivos.Estilo de vida ,ideologia e cultura são, antes de tudo, pretensões do ser, e não da urbe.
Não sei se vc se recorda, mas aqui mesmo no blog escrevi um texto chamado "Jovens estereótipos" em que criticava o estilo de ser de alguns jovens de minha cidade,sem defini-los como "tipicamente guarabirenses".
É lastimável que algumas pessoas ainda pensem que ser guarabirense seja um gentílico diminuto, que nos faça pobres materialmente( como realmente somos) e mais pobres ainda do ponto de vista cultural.
Quanto a "capacidade intelectual", não escrevo para pessoas culturalmente elevadas, nem considero isso critério.O texto é em bom português e quem realmente se sente guarabirense o entende, não tolerando que com eles seja crivado o termo que representa uma pequena parcela da população de qualquer lugar.
Entendo que a construção do termo foi uma estupidez, e que nos livros do cartório não mereceria figurar tamanho dislate.

Desculpe a discordância, mas não arredo pé de convicções

Henrique Toscano

quarta out. 18, 10:53:00 da tarde 2006  
Blogger CoB said...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK.
Oxente, poi eu ja ri demai lendo ece testo e eces comentarios.
Pense cuma eu ja ri a beça!
Ai, ai, ai... mas que coiza!
Reaumente fui surprendidu.

Aliás, não sei se vocês perceberam... mas o correto é "quis", e não "quiz". =)

Henrique, belo texto!
Meus parabéns.
Tenhu orguio de telu comu un conterraneu.
Muito orgulho mesmo, meu caro.

Passar bem.

quinta out. 19, 07:05:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

"toda unanimidade é burra"
a frase é clichê,eu bem o sei.mas a idéia parece distante para algumas pessoas que costumam generalizar os fatos.

quarta nov. 08, 05:41:00 da tarde 2006  
Anonymous Anónimo said...

Henrique, venho lhe aplaudir pelo belíssimo texto!Fico imensamente feliz por ver as obsevações feitas pela cidade que tanto amo.Concordo, como também compartilho, das experiências vividas.
Como você, também nasci no hospital público desta cidade,cresci,estudei...
Invejo você pelo privilégio em poder cursar sua faculdade aqui,pois como foi tratado no texto sofro pela falta de estrutura que "ainda" a cidade não ofere. Sinto falta das mínimas situações desta cidade.

Enfim,parabéns!

quinta dez. 14, 09:44:00 da manhã 2006  

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