:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

domingo, fevereiro 27, 2005

Mulher

(*) Manoel Neto



Mulher, eu mal posso expressar-me. O que falar do mais perfeito dos seres, eu sendo homem, esse ser indelicado, feio, imperfeito? Não falo que não haja homens delicados e sensíveis, falo somente que não são como as mulheres.
A natureza dividiu bem as coisas, ao homem, ela deu a força, à mulher foi dada a beleza e a inteligência, e nós, pobre de nós, passamos as nossas vidas subjugados a vocês, e vocês fazem o que querem conosco, ah, pobre de nós.
Mulher, tu és a detentora do poder, tu és a dona do mundo; basta um gracejo, uma voz mais suave, um olhar insinuante, para o homem fazer guerras, acabar guerras, jogar os papéis para cima e ir rastejando com o sincero desejo de dar-te o céu, o sol e o mar. Mulher carinhosa faz um homem gemer sem sentir dor. Por favor, não nos maltrate. Piedade.
São inspiradas em ti, mulher, os mais geniais poemas, as mais belas musicas, as mais lindas pinturas, as mais exuberantes esculturas; para ti, mulher, o homem, esse privado da beleza e encantado com esta estampada no teu ser, tenta retratar a beleza para ti, baseado em ti mesma, seja ela em forma de palavras, de desenhos, de ritmos, de qualquer coisa.
Peço um pouco de paciência conosco, não somos perfeitos; ensina-nos um pouco o que é a vida, mostra-nos o que é a perfeição, dar-nos um pouco da tua paciência, da tua serenidade, da tua esperteza, assim talvez possamos ser felizes, gozar juntos dos poucos prazeres que a vida nos proporciona, e se esses forem poucos, criaremos outros, você e eu, mulher e homem.
Mulher, cuidas de mim, que não confio em homem, me dá teu amor, teu carinho, leva-me aos mais prazerosos lugares desse mundo, ou do outro, mostra-me o lado bom da vida, ensina-me o que é prazer, me tira a razão, morda-me com essa boca de pavor, agatanha-me as costas, delira e me faz delirar, alivia-te e deixa-me arrepiar-te.
Mulher, tu és o ser mais próximo do que os filósofos chamam de Ágape, amor sem mais uma razão, a não ser a de existir; o homem ama esperando amor em troca, a mulher, enquanto mãe, ama sem esperar reciprocidade, reconhecimento, nada, apenas ama; o homem usa de sua força, seus cinco sentidos, para proteger o seu filho; a mulher, no entanto, usa da sua insignificante força e do seu amor, seus seis sentidos.
Nós, homens, passamos a vida toda buscando um pouco da perfeição das mulheres, e nos surpreendemos e nos deliciamos ao prestigiar, atônitos, essa beleza imponente, essa delicadeza poderosa, esse olhar suntuoso, fascinante, esses lábios, recompensa maior de nossas vidas, recompensa somente não maior que teu coração, mulher, se alguém duvidar ou galhofar de tal fato, despreze tal insignificante e vazio ser, talvez esteja carente dos seus embriagantes carinhos e afagos, dê-lhe um pouco, se possível, faça-o sentir um pouco das suas mãos, da sua pele, deixe-o extasiado, ébrio de prazer com apenas um toque, mulher. Ah, pobre de nós!


(*) Manoel César de Alencar Neto é estudante do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Objetivo Guarabira.
(
mailto:%20netoalencar@uol.com.br)

sábado, fevereiro 26, 2005

Deitado eternamente em berço esplêndido

(*) Luiz Elias Miranda


Apesar de ter o vocabulário complexo (essa deve ser um dos maiores motivos para que muitas pessoas não saibam nosso hino nacional) considero o hino nacional um dos mais belos de todo o mundo até a hora que começa o infame trecho ‘deitado eternamente em berço esplendido...’. Este um retrato perene do Brasil.
Mas é sobre o hino nacional que vou falar, é sobre nosso calendário. Muitas pessoas criticam a velha máxima dos tempos da formação positivista do intelectualismo brasileiro que afirmava que o brasileiro é preguiçoso. Se formos analisar mais seriamente nesta afirmação há uma certa verdade, temos feriados demais, passamos tempos demais durante o ano sem fazer exclusivamente nada ou, como versa consagrada expressão da cultura popular "coçando o ovo".
O incrível que boa parte da população não se revolta com esta vagabundagem toda. Se ao menos todo este tempo disponível fosse gasto em algo produtivo, se nós gastássemos todo este tempo com aquele benéfico "ócio criativo" ao invés de ficar sentado na frente do sofá pedindo para a mulher trazer uma cervejinha enquanto assiste ao grande clássico do futebol nacional atlético desportivo de imtubiara e associação desportiva dos catadores de papel de nossa senhora da bancarrota pela qüinquagésima terceira rodada do campeonato do Mato Grosso do Oeste.
O problema todo é que temos feriados demais. É muita folga prum país subdesenvolvido. Nem os países do dito "primeiro mundo" têm tantos feriados quantos nós. É feriado de nossa senhora de alguma coisa, festa junina, carnaval... Já que após a proclamação da república (1889) houve a lascisão entre Estado e a igreja católica, a maioria destes feriados, se não todos, poderiam ser riscados de nosso calendário.
Claro que um pouco de ócio é importante, não se pode viver exclusivamente em função de trabalho. Mas o problema entre nós é que vivemos com muito tempo vago que não é empregado em atividades produtivas. E atividades produtivas não são apenas aquelas que podem gerar algum dividendo ($$$$); atividade produtiva é toda aquela que gera alguma satisfação ou faz o bem a algum ser humano. Este hábito de atividades produtivas não remuneradas não faz parte de nossa cultura nacional. Brasileiro está apenas acostumado apenas a desempenhar (e algumas vezes de forma não satisfatória) trabalho que seja remunerado, acho que um pouco de filantropia não faz mal a ninguém e de trabalho duro de segunda a sexta também...


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela Universidade Estadual da Paraíba, um músico pra lá de medíocre nas horas vagas e está decidido a tornar-se o próximo grande constitucionalista em língua portuguesa.
e-mail: luizelias.miranda@uol.com.br

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Peemedebistas medianos

(*)Giordana Gomes de Moura

O último conflito eleitoral que presenciei foi o das eleições à prefeitura em Outubro do ano passado em minha cidade. Apesar do caráter eleitoreiro vigorante, ainda dava para colocar fé em uma empreitada de progressos em meu município, pelo candidato eleito e sua equipe, independente de quem fosse o condecorado. Estavam em pauta dois candidatos, um pelo PL e outro pelo PMDB.
Nas ruas bandeiras amarelas e vermelhas se enroscavam numa explícita luta acirrada. Era grande a vontade de ter o controle da prefeitura e fazer-se de fato sujeito de relações políticas, contatos políticos, espaços políticos. Entre comerciais e comitês era notória a euforia de eleitores por uma vitória, acima de tudo partidária.
Alguns comícios eram marcados até mesmo por trio-elétricos. Entre os blocos animados em estrondosa gritaria e algazarra, estava a figura do (a) candidato (a). O bloco do PMDB, por exemplo, estava sempre contando com o grande e “engrandecedora” presença do “PMDB jovem”, uma equipe que tem como presidente o filho da então candidata e atual prefeita e de uma personalidade que entre outras funções, exerce a de presidente do PMDB. Fiquei sabendo até que o “PMDB jovem” possui, entre outros integrantes, alguns de uma faixa etária não muito condizente com o termo “jovem”. A jovialidade deve vir então do espírito. E a maioria de seus membros deve permanecer para poder tirar uma casquinha na conquista da prefeitura.
Falando nisso, hoje os empregos da prefeitura são preenchidos em sua maioria por essa gente que apoiou com a “cara e a farra” a candidatura da figura eleita. Os eleitores contidos foram esquecidos. Os de outro partido, se não tiverem um bom apadrinhado não são nem mesmo mencionados. Currículos chegam diariamente, sem êxito no que se refere a retornos. Nota-se que ao invés de mandar currículos, teria sido mais produtivo se tais pessoas tivessem, na época da eleição, vestido uma camisa vermelha e ido se embriagar pelo meio das praças, segurando a bandeira do partido em meio a um grupo de jovens gritando: “Guarabira é fiel!”.

Giordana Gomes de Moura.E-mail:giordanadireito@hotmail.com


segunda-feira, fevereiro 21, 2005

¡Salve los gitanos! *

(*) Luiz Elias Miranda



Este ano de 2005 irá ser marcado por muitas comemorações, em especial nos Estados Unidos e na Europa. 2005 marca os sessenta anos do final da segunda guerra mundial (1939-1945) com a definitiva derrocada do nazi-fascismo; muitas pessoas (entre elas historiadores) quando falam sobre guerras, gostam de classificá-la como a mais sangrenta, desumana e brutal que já aconteceu na história humana. Os sessenta milhões de mortos contribuem muito para que muitas pessoas não contestem esta afirmação.
Mas não é sobre a II guerra mundial que quero falar. É sobre um acontecimento que marcou a guerra, o holocausto. Hoje em dia, quando falamos em holocausto, esta palavra é imediatamente associada aos judeus, afinal, cerca de seis milhões de vítimas tiveram o poder de marcar um povo (neste caso o judeu), um governo (o alemão) e esta prática (o assassinato em massa, numa escala quase industrial) acredito que para sempre.
Só que pelo significado próprio da palavra holocausto, ela não possui apenas a significância mais popular de nossos dias. Para falar a verdade, desde os antigos tempos a palavra holocausto era empregada para descrever cerimônias onde uma vítima era sacrificada e algumas vezes queimada. Apenas depois do fim da II guerra, quando a palavra holocausto foi associada à palavra “genocídio[1]”.
Para o povo judeu foi, se encararmos a situação sob um olhar um pouco diferente do usual, extremamente vantajoso ser considerado a principal vítima da matança empreendida pelo nazismo. Quando a guerra acabou e enquanto os aliados procuraram um jeito de manter uma paz (mesmo que armada) com a criação de órgãos como a OTAN (Organização do tratado do Atlântico Norte), a ONU e o Pacto de Varsóvia (no caso do bloco soviético); os judeus iam consolidando sua fama de perseguidos ajudados tanto por dados históricos (hoje é notório que em vários períodos, diversos governos perseguiram povos semitas, principalmente judeus), relatos feitos alta cúpula do regime nazista que estava sendo julgada em Nuremberg[2] e por filmes que tinham o objetivo de mostrar os horrores do nazismo, destes, o que alcançou maior fama foi o documentário feito pelo cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) e com esta fama de perseguidos conseguiram até ‘ganhar’ um país para que pudessem viver, mas esta é outra história.
Esta prática de associação (holocausto-judeus) é perigosa, ou melhor, é de certa forma incorreta. O fato de este povo ter sido o maior alvo deste regime de exceção não apaga da história as atrocidades cometidas pelos nazistas contra outras etnias.
O regime nazista eliminou sistematicamente todas as etnias que, ideologicamente, considerava inferiores ou que pessoas que ousassem fazer oposição a eles que levariam o povo germânico à glória. Um povo nunca, ou quase nunca lembrado por estudiosos ou pessoas comuns que acham a segunda guerra uma pauta interessante é brutal extermínio dos ciganos.
Ao contrário dos judeus, os ciganos não ganharam um Estado nem ficaram ricos como pessoas que conseguiram, por meios jurídicos, provar perseguições motivadas por razões ideológicas e ganharam indenizações pagas tanto pelo governo alemão e por empresas beneficiadas com o trabalho forçado nos campos de concentração.
A questão dos ciganos até hoje não foi resolvida. Atualmente, acredita-se que os ciganos sejam cerca de quinze milhões só na Europa para onde migraram provavelmente no século V d.C e são um grande problema para diversos países da “civilizada” Europa, a maioria dos países europeus não reconhece o direito dos ciganos e nem sequer reconhece sua existência. Na Alemanha mesmo eles sofrem grande discriminação; entre este grupo o desemprego, as taxas de analfabetismo e outros indicadores sócio-econômicos chegam a ser o dobro do resto do país. A França não dá muita importância para a questão dos ciganos, no restante do continente onde encontramos ciganos, a situação é semelhante.
Os ciganos sempre representaram uma enorme dor de cabeça para estes países. Para alguns setores conservadores da sociedade européia, os ciganos eram bárbaros que tinham o objetivo de perverter os bons costumes com sua cultura inferior, representavam a maldade e esperteza voltada para algum fim não benéfico.
Nunca nenhum estudioso conseguiu identificar de onde os ciganos vieram e porquê eles migraram para a Europa. Provavelmente eles saíram da Índia (alguns especialistas em lingüística perceberam a semelhança entre seus dialetos e alguns dos idiomas falados na península indiana) por causa da invasão muçulmana ao subcontinente indiano entre o século V e VI da era cristã. O mais marcante dos ciganos é sua coesão cultural bastante arraigada e seu sentido de grupo que tenta a todo custo resistir às discriminações e ao aculturamento baseado na conservação das tradições, que para eles têm um significado sagrado.
Bem que já está em hora de organizações não-governamentais, da ONU e dos governos de países que abrigam ciganos deixarem de ignorá-los e comecem a buscar soluções para este problema latente antes que a humanidade perca uma de suas mais ricas culturas.


*Salvem os ciganos.

[1] Palavra proferida pela primeira vez na conferência de Potsdam (julho-agosto de 1945), cunhada por especialistas em direito internacional.
[2] Tribunal de guerra criado em 1948 pelos aliados com o fim de punir os responsáveis pelos crimes contra a humanidade praticados pelos nazistas.
(*) Luiz Elias é estudante do curso de direito pela Universidade Estadual da Paraíba.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Devaneio Bélico II

(*)Giordana Gomes de Moura


Enquanto conversava com o filho caçula, a vizinha escuta um estrondo. Casas caindo em seqüência e pessoas correndo em desespero. As explosões eram muitas, consecutivas, perturbadoras e inviáveis, ilógicas, porém persistentes.
Zombava-se do choro, da correria embriagada daqueles seres que mais pareciam formigas em um açucareiro; conversas trocadas em tom de indignação e mais desespero, cada vez mais mortes rondavam as restantes vidas. O riso do descaso vinha do outro lado, do que ordena o mundo, que faz e desfaz caprichos impiedosos em busca de uma glória indecente.
Por ali eu corria, com lágrimas descendo até tocar aquele chão que mais parecia nos levar ao inferno descabido, ao inferno extremamente forçado, que não nos era merecido. Entre os sustos, os deslizes desentendidos e o mal-estar de ver cabeças separadas do restante do corpo espalhados pelas esquinas, derrotados de um sangue já podre, vi aquela criança deformada pela calçada, aparentando ter uns nove meses, no máximo. Era ainda um bebê, com a vida quebrada e com o terror expresso em seu último suspiro.
Pessoas caiam ao meu lado aos gritos, era o pior filme de terror que eu já tinha visto. E enquanto o desespero aterrorizante me consumia; via parentes se contorcendo pelas paredes em seus últimos movimentos dotados de um martírio impiedoso e de uma dor devastadora. O barulho parecia querer explodir minha cabeça e meu pai me surpreende partido em frente a uma feira livre: Era o final da razão!
O medo consumiu os ares, os arrepios indignados, mortíferos. A ordem econômica em totalidade gananciosa e vadia me proporcionava a grande desgraça de uma tragédia como danos irreversíveis e traumas existentes por toda uma eternidade. Mas a ordem sorri. Enquanto morremos em uma vida desesperadora, o sorriso dos responsáveis tem seu soado, sua discrição dotada de elegância. Cuidados com a feição para aparecer na em programas de tv e comentar a respeito de um esboço dotado de total mediocridade sobre nossa situação. Frieza sem inteligência, perdida, covarde, até quando tratou de seu próprio povo, em onze de Setembro.
(*)Giordana Gomes de moura.e-mail:giordanadireito@hotmail.com

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

“Demokrathia”

(*) Luiz Elias Miranda


Que o mundo vive de discursos repletos de falsidade e demagogias. O primeiro e maior deles é uma tal de democracia. Não considero a democracia (atualmente) como um sistema de governo, costumo (e até gosto) ver a democracia como a maior campanha publicitária dos tempos atuais.
Quem tem mais ou menos a minha idade (beira os vinte ou tem até vinte e cinco) deve lembrar dos produtos do “grupo imagem” que passavam a tarde na TV manchete, mal dublados, eles apresentavam produtos miraculosos, que tudo faziam, mas, na verdade, a maioria não tinha muita serventia. A democracia em nossos tempos funciona assim, muito valorizada, falada, comentada, mas não tem muita utilidade.
Fazendo uma análise realmente crítica e sem se deixar levar por capas demagógicas, a democracia não existe nesses tempos de alta tecnologia e grandes mercados consumidores.
A palavra que usei como título é a palavra grega da qual se originou o termo democracia; como todos sabem, o sistema de governo democrático surgiu na Grécia (em Atenas para ser mais exato), lá, a democracia, era realmente a práxis do significado de seu nome, governo da maioria. Naqueles tempos todos os cidadãos atenienses iam a praça central para discutir os problemas políticos da cidade e votá-los, não existiam partidos políticos, deputados ou senadores; é que chamamos democracia direta, a única que pode propriamente ser chamada democracia no sentido estrito da palavra, vontade do povo.
O que conhecemos hoje é apenas um sistema que usurpou o processo decisório do povo, o que alguns chamam democracia indireta (particularmente, prefiro a palavra sistema representativo) que pode facilmente ser corrompida pelo poder econômico. O capitalismo tem reduzido a democracia a uma mera série de formalismos procedimentares.
O sistema representativo foi inserido pela burguesia após abandonar sua veia revolucionária, como afirmava Karl Marx (1818-1883). Após tirar dos reis e da nobreza o poder absoluto do qual estes últimos eram dotados, os primeiros, para conseguir perpetua-se no poder, a burguesia teve a “genial idéia” de inserir este elemento onde poderiam excluir grande parte da massa explorada que estava insatisfeita com a sua miséria.
Então, qual seria solução para este dilema? Ditaduras nunca são recomendáveis, como o homem tem uma sede incontrolável pelo poder, e sempre que alguém tem muito poder em suas mãos, tende a dele abusar em detrimento dos outros, não seria a solução. O fim do capitalismo poderia ser encarado como uma solução para este quadro desolador que vivemos. Mas, afinal, não vivemos na era da ditadura do capital? Não é verdade que o conselho deliberativo de algumas corporações decidem os rumos do mundo numa mesa de reuniões? Só consigo imaginar uma verdadeira democracia (leia-se sistema representativo direto, sem intermédio de partidos e sem eleições) num sistema que não seja o capitalista. O capitalismo apresenta esta tendência de que algumas coisas de suma importância sejam sacrificadas em nome dos lucros.
(*) Luiz Elias é acadêmico do curso de Direito pela Universidade Estadual da Paraíba e vive um momento de extrema satisfação.

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Entrevista com Rogério Greco

Para quem não o conhece, ele é atualmente uma das maiores autoridades no Brasil; juntamente com os professores Damásio de Jesus, Luiz Flávio Gomes e Fernando Capez; em se tratando de criminologia, direitos humanos ou qualquer tema relacionado à legislação penal. Advogado, professor, torcedor do flamengo (para minha decepção) e evangélico devotado, foi muito acessível concedendo-nos esta entrevista.


FNM: Já que nosso trabalho direciona-se principalmente para os jovens, antes de começarmos “pra valer”, nos fale de sua opção pelo ramo jurídico, como a escolha foi feita?

RG: Na verdade, quando ingressei na faculdade, aos 18 anos de idade, era muito imaturo e não tinha, ainda, convicção do curso escolhido. Com o tempo, percebi que a escolha tinha sido acertada.

FNM: Tocando no assunto de estudo e formação superior, o senhor já tem alguma opinião formada sobre a reforma universitária e as cotas para negros, descendentes indígenas e outras reformas do ensino que o governo federal tentar realizar?

RG: Toda vez que se fala em quotas, seja para negros ou descendentes de indígenas, estamos diante de uma confissão de desigualdade social, feita pelo próprio Estado, que demonstra a sua incapacidade na gestão da coisa pública, não fornecendo à população em geral um ensino digno e capaz de fazer com que haja uma concorrência com igualdade de condições. Como a escola pública é sucateada, a “solução” e a determinação de quotas.

FNM: Acerca deste ciclo de reformas empreendidas por Lula desde que chegou ao poder, algumas não bem sucedidas como a da previdenciária e a tributária, o que o senhor achou da reforma do poder judiciário? É favorável ao polêmico “controle externo?”.

RG: Toda reforma envolve polêmica, porque o novo assusta. Não vejo problema no controle externo, seja do Ministério Público ou do Judiciário. Não havendo interferências em nossas posições pessoais, em nossas fundamentadas convicções, o controle administrativo, certamente, evitará o corporativismo.

FNM: Ainda acerca da reforma do judiciário, o senhor acredita que a súmula vinculante configura-se como um atraso ou um marco na história judiciária do país?

RG: Existem muitas súmulas editadas pelos Tribunais Superiores que são contra legem (contra a lei). No entanto, existem decisões já pacificadas, onde as partes recorrem somente para se ganhar tempo, em detrimento da Justiça. Para eles, a súmula terá uma importância fundamental. Não podemos esquecer que o Estado é o maior “cliente” do Judiciário, sendo um dos grandes responsáveis pelo número enorme de processos aguardando julgamento de questões já pacificadas.

FNM: Nosso atual código penal é de 1940, já não seria mais que na hora de uma reforma ou até mesmo um novo código penal já que vivemos numa época de polêmica quanto à legislação penal?

RG: A parte geral do nosso Código Penal, reforma em 1984, na minha opinião, é muito boa. A parte especial necessita ser reformada, com a abolição de infrações penais já ultrapassadas, bem como com a inserção de novos delitos, criados pela modernidade.

FNM: Nosso país vive um momento bastante delicado, a criminalidade sobe a cada dia, seria o momento exato da lei penal tornar-se mais severa?

RG: Já está demonstrado que não é através do recrudescimento das leis penais que o problema da criminalidade será resolvido. Na maior parte dos casos, estamos diante de crimes contra o patrimônio, cuja origem está na ausência do Estado Social. Quando o Estado resolver assumir o seu papel, certamente o índice de criminalidade diminuirá, sem que seja preciso modificar qualquer lei penal.

FNM: O ser humano sempre tem o péssimo hábito de culpar alguém ou algo pelas coisas ruins que acontecem. Para não fugir desta sina, o que o senhor como culpa do aumento exacerbado da criminalidade no Brasil?

RG: O aumento da criminalidade, como afirmei anteriormente, é devido a ausência do Estado Social, que se transformou em um Estado Penal.

FNM: O senhor acha que há alguma solução a médio ou a longo prazo?

RG: O primeiro passo é tentar diminuir, ao máximo, a corrupção no país. Os bandidos de colarinho branco são verdadeiros genocidas, e responsáveis, juntamente com a Administração Pública, pelo caos social.

FNM: No processo de combate à criminalidade, que papel a família e a escola e os professores têm?

RG: A família e a escola formam a base da sociedade, e têm uma importância fundamental no combate à criminalidade, como já demonstraram as pesquisas realizadas no âmbito da criminologia.

FNM: Já que estamos tratando de problemas relacionados à realidade brasileira, o sistema penitenciário também é uma mazela latente de nosso Estado. O senhor seria favorável ao tratamento penal alternativo para as penas mais leves já que os presídios funcionam como verdadeiras “universidades do crime”, como já chegou a afirmar o professor capixaba João Baptista Herkenhoff?

RG: Na verdade, o ideal seria a conjugação da penas alternativas para as infrações leves e médias, e a completa revogação daquelas que não possuem relevância social, a exemplo do que ocorre com muitas contravenções penais, que somente tomam tempo da Justiça, que poderia estar se dedicando a apuração de delitos realmente graves.


FNM: Ainda sobre o sistema prisional, já que algumas vezes a administração pública é omissa, entidades diversas do chamado “terceiro setor” militam e atuam em favor das causas dos “cidadãos de terceira classe” que estão privados de sua liberdade. Como o senhor avalia a atuação dessas entidades como a pastoral carcerária que é ligada à igreja católica?

RG: Qualquer intervenção no sentido de fazer com que os direitos humanos sejam preservados é bem vinda.

FNM: O discurso do PT tem mudado muito de 1980 até o presente momento. Como o senhor poderia avaliar o desempenho do PT nessa sua primeira vez no governo federal sem estar na oposição?

RG: É muito fácil criticar, apontando os erros e sugerindo soluções, quando não se tem o poder para resolver os problemas sociais. Agora que o PT detém o poder, por melhores que sejam as suas intenções, certamente não conseguirá resolver todos eles, podendo, no entanto, minimizar o caos social.

FNM: Muitos observam que a criminalidade tem como uma de suas raízes as disparidades sociais, que em nosso país são gigantescas, uma melhor distribuição de renda seria o primeiro passo da diminuição dos atuais índices de criminalidade?

RG: Com certeza uma melhor distribuição de rendas faria com que houvesse uma diminuição na criminalidade, principalmente naquelas ligadas ao patrimônio.

FNM: Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso as campanhas de prevenção às drogas têm-se intensificado. O senhor é favorável à legalização do consumo de tóxicos ou acredita que os consumidores apenas alimentam o tráfico, e este, por sua vez, financia diversas atividades criminosas?

RG: Não acredito na legalização do uso de drogas. No entanto, teríamos que pensar em soluções realmente eficazes para o tratamento do viciado.

FNM: Já que estamos no campo penal, desde 1992, com os escândalos que levaram ao impeachment de Fernando Collor de Mello, a investigação dos “anões do orçamento”, o golpe dado por Georgina de Freitas no INSS e o recente caso de venda de sentenças do juiz federal Rocha Matos, o senhor acredita que os três poderes estão mais transparentes e que a opinião pública está mais vigilante e atenta à transparência dos membros dos três poderes no exercício de suas funções?

RG: Com a queda do regime militar, tudo ficou mais transparente. Aquilo que acontecia às ocultas, agora é trazido à luz. A imprensa, hoje, tem um papel fundamental, auxiliando, muitas vezes a descoberta de fatos criminosos até então não investigados.

FNM: O ministério público é uma das instituições mais importantes, e mais atuantes, de nossa sociedade. Após a grande autonomia que lhe foi dada com a constituição de 1988, agora querem limitar esta independência e sua liberdade de ação. O senhor acredita ser acertada esta decisão que há alguns anos polemiza opiniões que pretende retirar certa parte desta autonomia do ministério público?

RG: Talvez o Ministério Público seja, hoje, uma das instituições de maior credibilidade no país. O poder que foi dado ao MP pela Constituição Federal de 1988 tem sido revertido em favor da sociedade. Assim, somente aqueles que temem o Ministério Público têm, realmente, interesse na diminuição de seus poderes constitucionais.

FNM: Muitas pessoas mostram-se favoráveis à adoção da pena de morte em nosso país. Apesar de nossa constituição deixar expressamente claro que não pode haver nenhuma lei que trate sobre a pena capital, o senhor acha que poderia ser uma saída, a curto prazo, para a intimidação dos criminosos em potencial?

RG: Não. Nos EUA fizeram uma pesquisa nos estados que aboliram e nos outros que criaram a pena de morte, e não houve qualquer diminuição nos índices de criminalidade grave naqueles que a mantiveram. Portanto, não se pode afirmar que a pena de morte tem o poder de intimidar os criminosos.

FNM: Recentemente, encerramos, embora algumas cidades ainda estejam realizando eleições, mais um bem-sucedido (ou quase) processo eleitoral. O senhor acredita na democracia?

RG: Acredito na democracia, pois a liberdade é inerente ao ser humano.

FNM: Sempre que conhece um intelectual, a dúvida quase que automática é de que se ele é adepto de alguma corrente de pensamento. O senhor é adepto de alguma dessas correntes de pensamento ou de alguma ideologia?

RG: Não. Na verdade, sou fiel aos pensamentos de Jesus Cristo. Se as pessoas conhecessem a Palavra de Deus, o mundo seria muito melhor.

FNM: Já que estamos falando com um jurista, nos últimos anos ocorreu uma explosão de bacharéis, mas, embora haja muitas faculdades, o índice de alunos reprovados no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) atesta que o nível de ensino oferecido nas faculdades não é bom. O senhor imaginaria alguma solução para mais este problema? Seria correto limitar a abertura dos cursos?

RG: Acredito que não exista corpo docente suficiente para todas as faculdades. Dessa forma, o ensino fica prejudicado e, conseqüentemente, isso se reflete no exame da OAB.

FNM: Agora, saindo destes assuntos mais sérios, o senhor tem algum hobby?

RG: Tenho alguns. Gosto muito de tocar bateria. Tenho participado, algumas vezes, de um grupo de louvor e adoração na Igreja onde congrego. Já gravamos até um CD, para distribuirmos gratuitamente aos amigos.


FNM: Como uma grande parte dos brasileiros gosta de futebol, o senhor torce ou tem afinidade com algum clube brasileiro?

RG: Sou flamenguista. Quando morava no Rio, participava de torcida organizada. Era um pouco fanático por futebol. Hoje não me importo muito. Só fico realmente chateado com a derrota é para o Vasco (não sei se você já ouviu falar nesse time?).

FNM: Tem alguma pessoa que o senhor admira? Quem são?

RG: Sim, Jesus Cristo. Depois que descobri que Jesus está vivo, a minha vida foi completamente modificada. Com certeza, hoje, ele é o meu melhor amigo.

FNM: As músicas que fazem sucesso entre os jovens, como o funk carioca, fazem apologia à violência e à vulgaridade sexual. O senhor acredita que estas músicas influenciam os jovens?

RG: A música tem o poder de influenciar as pessoas tanto para o bem, quanto para o mal.

FNM: A música brasileira é elogiada por diversos artistas estrangeiros. Nos últimos anos, com o ciclo do pagode, axé e do funk não parece que entramos num processo de decadência?

RG: Gosto da música brasileira. Atualmente, só escuto música gospel.

FNM: Já que entramos nesta “seara cultural”, quem, na opinião do senhor, está fazendo boa literatura e boa música em nosso país?

RG: Não gostaria de citar nomes, pois é arriscado esquecer de alguém tão bom ou melhor do que aqueles que foram citados.

FNM: Finalizando esta entrevista, queremos agradecer à boa vontade e disposição do senhor. O senhor teria algo mais a acrescentar ou uma mensagem para as pessoas que acessam nosso site e estão lendo sua entrevista?

RG: Gostaria que as pessoas tivessem tempo e curiosidade de ler a Bíblia. É um livro maravilhoso, enriquecedor. Ele mudou a minha vida.