:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sexta-feira, setembro 30, 2005

Rock pervertido


(*) Luiz Elias Miranda

No último final de semana, vários ‘aborrecentes’ ficaram com os nervos à flor da pele por causa da passagem da pop star Avril Lavigne, atualmente o maior fenômeno da música pop, que toca sem parar nas rádios mundo afora e na MTV, um fenômeno quase inexplicável da mídia.
Basicamente a Avril segue o seguinte modelo: na frente das câmeras uma pretensa pose de rocker rebelde e cheia de "uma tal" atitude (não sei o que este vocábulo aqui pretende significar, eu o escutei numa reportagem na televisão) e com atos que buscam relembrar a rebeldia dos áureos tempos do rock. Entretanto, fora dos palcos do universo do videoclip, ela é totalmente diferente: voz mansa, timidez acentuada, uma criança verdadeiramente.
Ela não tem nada de rockstar, é mais um mero produto da indústria fonográfica, uma criança que cantava bem e foi arrancada de casa (tanto que teve de interromper os estudos aos 16 anos, quando assinou seu primeiro contrato) por empresário muito esperto.
Apesar do visual e da atitude, ela em nada lembra (principalmente nas letras) os grandes e verdadeiros heróis do rock como Hendrix, Led Zeppelin, Janis Joplin e Jim Morisson, ícones formadores de uma geração nascida e criada sob a égide do caos, geração esta que cresceu num conturbado período (‘a ameaça nuclear’) onde desestruturar os padrões era moda e nessa imensa lisergia, acabou se autodestruindo no auge de uma era.
Pelo ‘andar da carruagem’ me pergunto frequentemente qual será a próxima tacada da cruel indústria fonográfica (talvez um dos mais fortes braços da indústria cultural)? Depois de ter feito quase tudo, tendo até posto porcos pra cantar jingle bells, o que nos aguarda num futuro não muito distante? Vejo que num futuro bem próximo e tenebroso possamos chegar ao estágio narrado por Júlio Verne em sua maravilhosa obra "Paris no século XX", neste interessante livro, Verne imagina como seria a França em 1960 (lembrando que Verne faleceu em 1905), nesta época as artes em geral tinham sido completamente corrompidas pela indústria, sendo totalmente desprovida de sentimento, sendo mera técnica que narrava de forma pretensamente poética os procedimentos industriais, neste período tenebroso, onde as ciências humanas haviam sido totalmente esquecidas, os grandes poetas da época de Verne haviam sido totalmente esquecidos.
Não acredito que nosso mundo chegue a tornar-se tão tenebroso (à curto prazo), mas se nossa sociedade permanecer muito tempo alienada pela ideologia da sociedade industrial, não duvido que este dia possa chegar.

(*) Luiz Elias é estudante de direito pela UEPB. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br

domingo, setembro 25, 2005

O STF VIROU TRAMPOLIM

(*) Walter Fanganiello Maierovitch


Como até a torcida do Flamengo já notou, Nelson Jobim usa o Supremo para alçar novos vôos

Alguns políticos de reputação ilibada, notável saber jurídico e acendrado espírito público tiveram o privilégio de alcançar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF). Para ficar em dois exemplos, merecem lembrança o saudoso Aliomar de Andrade Baleeiro e o estimado Paulo de Souza Pinto Brossard.

No governo do presidente Fernando Collor de Mello, o STF começou a mudar de perfil, ou seja, virar trampolim para ambições outras. Tudo começou com José Francisco Rezek, doutor em direito pela Universidade de Paris, professor, jurista brilhante e passagens por várias assessorias políticas. Rezek chegou ao STF em 1983, aos 39 anos.
Como ministro presidente do Tribunal Superior Eleitoral (1989-1990), comandou o processo que culminou na eleição de Collor. Para espanto geral, em especial por ter presidido as eleições, Rezek aceitou o convite de Collor e tornou-se ministro das Relações Exteriores do Brasil.

Assim e pela primeira vez na história do STF, um ministro, órgão do Poder Judiciário, passava à condição subalterna de agente da autoridade do presidente Collor. Em Lisboa, num jantar entre amigos, um saudoso jurista português, espírito da Beira e sutileza de britadeira, comentou a renúncia de Rezek do STF: tivesse acontecido na minha terra, bateria-se o vara-pau beirão no solo e diríamos que alguém havia passado de cavalo a burro. Em outras palavras, Rezek tinha deixado a condição de órgão do Poder para de agente da autoridade do presidente, que, em pouco tempo, deu-lhe passe livre.

Estranhamente, no início de 1992, Collor nomeou Rezek para, pela segunda vez, integrar o STF: algo até então inédito.

Em 1997, Rezek pediu aposentadoria. Dizem que foi para não enfrentar impedimento regimental para julgar. Melhor explicando, poderia ser alijado dos julgamentos porque o seu futuro sogro também era ministro e o regimento do STF cria uma causa de impedimento, como nos tribunais do júri.

No mesmo ano de 1997, Rezek conseguiu ser designado para a Corte Internacional de Justiça da Organização das Nações Unidas, que cuida de questões arbitrais.
Recentemente, as surpresas ficaram a cargo de Maurício Corrêa, ex-presidente da seção do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, senador constituinte e ministro do presidente Itamar Franco, do qual foi companheiro voyeur no episódio carnavalesco da modelo sem calcinha. Chegou ao STF em dezembro de 1994 debaixo de críticas.

Na presidência do STF, o ministro Maurício Corrêa notabilizou-se por criticar o chefe do Poder Executivo, Luiz Inácio Lula da Silva, esquecendo-se da teoria da tripartição dos poderes de Montesquieu. Além, claro, da nossa Constituição que assegura a independência e a harmonia entre os poderes.

A propósito, em julho de 1889, D. Pedro II incumbiu Salvador de Mendonça e Lafayette Rodrigues Pereira de viajarem para os EUA e estudarem a Suprema Corte. O imperador queria que o Poder Moderador passasse para o Judiciário, com a criação de uma Corte semelhante à norte-americana, o que ocorreu na Primeira República. Como bem sabe Maurício Corrêa.

As contundentes e despropositadas críticas de Correa a Lula levaram a imprensa a noticiar que o ministro estava prestes a se aposentar compulsoriamente e pretendia ganhar espaço para se lançar candidato ao governo do Distrito Federal em 2006.

O sucessor de Corrêa na presidência do STF foi o ministro Nelson Jobim. Há pouco, o jurista Celso Bandeira de Melo lutou pelo seu impeachment. É que Jobim, em livro, contou que havia cometido fraude quando deputado constituinte. Confessou ter redigido artigos que foram incluídos na Constituição sem passar pela votação dos constituintes.

Nesta semana, 60 juízes do Rio Grande do Sul assinaram um manifesto contra Jobim. Com base na legislação que proíbe ao magistrado atividade político-partidária, advertiram Jobim: ou ministro ou político, com referência à propalada intenção de concorrer à Presidência da República, pelo PMDB, que já adiou as suas deliberações para esperar a aposentadoria de Jobim.

Pelo jeito, o recém-criado órgão de controle externo da magistratura, que também é presidido por Jobim, finge que nada está a acontecer.

Não se deve esquecer, ainda, as decisões polêmicas de Jobim, mais como político do que magistrado. Uma delas, em 2002 e quando presidia o Tribunal Superior Eleitoral, não se deu por impedido em caso do seu padrinho José Serra. Sem se dar por suspeito, Jobim encampou a verticalização, ou seja, os partidos políticos ficaram obrigados a repetir nos estados a coligação federal. Isso favoreceu o candidato José Serra.

Como até a torcida do Flamengo já percebeu, Jobim usa o STF, que preside, para alçar novos vôos. Muitos falecidos ministros do STF devem estar rolando nos túmulos, indignados com os destinos do órgão.
(*) Walter Fanganiello Maierovitch é colunista da revista Carta Capital.

sábado, setembro 17, 2005

Massacre no bairro francês...




(*) Luiz Elias Miranda


Bem, esse título soou meio estranho, é que lembrei do famoso filme ‘massacre no bairro chinês’, pus bairro francês para lembrar da mais famosa área turística de New Orleans, a tragédia do furacão Katrina foi um verdadeiro massacre, no dia posterior à passagem do tornado, a cidade parecia uma área de catástrofe nuclear.
Esse furacão serviu uma vez mais para atestar a incompetência do governo de ‘bushinho’ (que recentemente na assembléia geral da ONU provou que não sabe nem ir ao banheiro sozinho...). O site kibe loko afirmou que há muitas semelhanças entre o governo de George W. Bush e do Lula (os dois não conseguem passar um dia sequer sem dar uma ‘cagada’). A frase tem certo ‘quê’ de verdade, mas numa coisa temos que defender o Lula, ele teria que ser infinitamente mais imbecil do que é para ser tão retardado quanto o Bush.
A tragédia do furacão Katrina foi a prova definitiva que única potência está sob a direção de um idiota racista. Enquanto pessoas morriam, passavam fome e estavam sem ter onde passar a chuva, a única atitude tomada pela presidência americana foi o velho “tô nem aí pra nada”, somente depois de muitas críticas (algumas até em rede nacional como a do governador da Lousiana) é que Bush tratou de fazer algo (e isso só aconteceu cerca de cinco dias após a passagem do furacão por lá).
Tiveram a ‘maravihosa’ idéia de abrigar a população de Nova Orleans num estádio coberto enquanto tratavam de remove-las da cidade, por ironia, nos noticiários só se via no estádio a população negra pelo fato da população branca já ter sido quase toda removida para o Texas. Além de se omitir ao socorro, as autoridades dos EUA deram ao mundo uma mostra de seu famoso racismo e famigerado ódio racial.
A vida é uma coisa realmente extremamente irônica, uma atitude tomada num certo momento sempre influencia o que será vivido no futuro, como num ciclo... especialistas em biosistemas do mundo todo, há anos advertiam sobre o perigo da devastação dos pântanos do rio Mississipi localizados na Lousiana, estes especialistas afirmavam que inundações ou até mesmo tragédias catastróficas poderiam acontecer por causa desta devastação. O resultado foi visto na completa inundação de Nova Orleans e a dificuldade do escoamento da água causando até casos de cólera (uma doença típica como todos nós sabemos de países sem a mínima infra-estrutura básica).
Nesta funesta tragédia ficou provado que os EUA não estão perdendo em nada para os mais carentes países africanos que, muitas vezes, em tragédias algumas vezes até piores trabalharam de forma muito mais eficiente no socorro às vítimas.
Mas, de certa forma, a ironia maior foi o caso seguinte: as tempestades tropicais são causadas pelo ‘esquentamento’ excessivo das águas do Golfo do México, este calor excessivo por lá é causado principalmente pela emissão desenfreada de gases poluentes na atmosfera. Pensem bem, qual foi um dos países que se negou a subscrever a convenção de Kyoto sob o pretexto que iria causa desaceleração econômica???
Fica aí a lição, esperamos que aprendam com esta tragédia que custou várias vidas graças à incompetência, racismo e defesa dos interesses da classe industrial lobista.

(*) Luiz Elias é estudante de direito. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br

sábado, setembro 10, 2005

A morte atrás da esquina


(*) Diorindo Lopes Júnior

Naquele Natal, uma loja instalou a primeira escada rolante da cidade e teve até festa, com direito a banda e fogos. Não era muito grande, mas era a primeira.
Meu primo Jorge veio passar uns dias em casa e levei-o para conhecer a novidade. Como eu, na primeira vez, encantou-se e subiu e desceu umas quinze vezes.
Compramos duas casquinhas de sorvete e ele quis andar uma outra vez. Fiquei mais atrás. Ainda estava subindo e ele já descia. Quando passamos um pelo outro, fui lamber meu sorvete e ele empurrou minha mão. Minha cara lambuzou-se toda.
As pessoas que desciam atrás dele caíram na gargalhada, as que subiam atrás de mim também e ele, já lá embaixo, se contorcia de tanto rir.
Iniciei a descida sem qualquer intenção de lhe arrancar o fígado a dentadas. Apenas dar um nó em suas orelhas de abano, por trás da nuca. Um nó cego, mas tão cego, que só um bisturi poderia desatar.
Ele percebeu e danou-se a correr. Como já contei várias vezes, os pés do lerdo do meu primo Jorge pareciam ganhar asas quando ele se metia em confusão.
Entretanto, não tinha muita resistência e até alcançar minha casa para se proteger na barra da saia de minha mãe, teria de enfrentar quatro quarteirões de subida. Já estava cansado no final do primeiro. Se o sinal fechasse, eu o pegaria sem nem precisar correr.
E o sinal fechou. Mas meu primo Jorge me surpreendeu virando a esquina. Ouvi o barulho da freada, um barulho surdo de batida, um berro de mulher e outros gritos. Continuei correndo.
Teria o lerdo de meu primo Jorge sido atropelado?
Não, não foi. Ao também dobrar a esquina, trombei com ele. Estava paralisado, pálido, aparvalhado, besta. Suas orelhas de abano estavam murchas e sem cor. A menos de dois metros de seus pés, jazia um corpo inerte e um pouco ensangüentado de homem.
A partir daí, tudo ficou bastante confuso. A motorista atropelante berrava no meio da rua que não tinha culpa, outras pessoas gritavam entre si, alguém mandou alguém telefonar para a polícia e outro para a ambulância, um sujeito abaixou-se, segurou o pulso do homem e sentenciou para trazerem folhas de jornais.
O morto estava sem um de seus sapatos.
Meus joelhos começaram a bater entre si, uma alma piedosa trouxe velas, adultos se aproximaram e nos afastaram da cena, minhas pernas bambearam e o pão com manteiga comido no café da manhã desentendeu-se no meu estômago com a casquinha de sorvete que meu primo Jorge não me deixou saborear por inteiro e ambos vieram acertar suas diferenças na via pública.
Pensei que também fosse morrer e precisei me escorar num poste para não beijar a lona.
Recuperado, puxei meu primo Jorge pelo braço e atravessamos a rua. Daria o nó cego em suas orelhas de abano um outro dia.
Só para não perder o hábito, seu calção estava molhado e pingava pela parte da frente.

(*) Diorindo Lopes Júnior (www.diorindo.jor.br) é jornalista e autor, entre outros, de O Sol em Capricórnio (www.atualeditora.com.br).

terça-feira, setembro 06, 2005

7 de Setembro...



(*) Luiz Elias Miranda


Amanhã é comemorado o aniversário da independência do Brasil, toda uma ‘aura’ reveste esta data, o suposto dia no qual nos libertamos da tirania metropolitana, em que demos o definitivo grito pela liberdade...
Tudo uma grande balela, a independência brasileira foi uma das maiores piadas do século XIX. Foi a única independência no continente americano onde não houve nenhuma forma de conflito, isto é uma vergonha para todos nós não ter acontecido nenhuma luta por nossa independência e ainda tivemos de pagar a escandalosa quantia de dois milhões de libras esterlinas para sermos livres depois de nossas riquezas terem sido vilipendiadas por quase três séculos e meio. Uma grande falta foi o fato de o Brasil não ter sido incluído nas “rotas libertadoras” de San Martín (para quem não sabe, o libertador da Argentina) ou de Simon Bolívar (homem que mais libertou países na América, tendo sido responsável pela libertação da Colômbia, Venezuela e mais alguns países que não me recordo agora).
No ensino médio, tive um professor de história do Brasil muitíssimo engraçado, ele afirmava que a independência do Brasil foi dada com a seguinte cena: Pedro I voltava de uma grande farra, ‘podre de bêbado’, acometido uma grande dor de barriga e só de ressaca decidiu tornar o Brasil independente. Esta cena também foi retratada por um poeta modernista que também não me recordo ao certo quem foi, se não me falha a memória foi o Manuel Bandeira.
Como história de ficção, a independência nacional foi uma história bem bolada, na época do império o imperador Pedro I era o grande responsável por ter nos tornado livres e ao mesmo tempo deixado sua família dois milhões de libras mais rica e, de quebra, ser um dos últimos monarcas absolutos que o terrível século XIX tinha deixado vivo.
Na república a figura do imperador foi ‘demonizada’, a formação positivista da ‘república do florete’ buscou mártires para o país, a maioria das pessoas ainda hoje busca mártires para nosso Brasil, elas ainda não conseguiram entender que um país necessita de heróis, quem busca mártires são as religiões.
Chegamos ao século XXI com outro tipo de dominação. Sai a dominação política e entra a dominação econômica, cultural, ideológica e porquê não também política ainda, afinal, como diz o escritor Moçambicano Agualusa, mesmo após esses 183 anos ainda não conseguimos nossa real independência.
A dependência que vivemos hoje é bem diferente da do século XIX, sai o domínio metropolitano e entra o domínio do capital financeiro especulativo dos conglomerados transnacionais que, mesmo no mundo todo em número inferior a cem, conseguem exercer um dpmínio cruel sobre todo mundo forjando uma 'pseudorealidade' de tudo que nos rodeia.
Mas do que nunca, procuramos independência como diz o capital inicial...
(*) Luiz Elias é estudante de direito. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br


quinta-feira, setembro 01, 2005

Ideologias de uma sociedade burguesa do terceiro mundo



(*) Luiz Elias Miranda


Tanto eu como o Henrique já falamos aqui sobre a famigerada da ideologia, só para relembrar, o conceito foi criado pelo enciclopedista francês do século XVIII Destutt de Tracy e mais tarde revisado por Karl Marx; o Papai Noel proletário afirmava que as ideologias eram falsas consciências, falseamentos da realidade gerados por uma classe dominante para alienar uma classe dominada e esta não percebesse sua real situação[1].
Mas, a dúvida que tem me assolado ultimamente é a seguinte: como uma determinada classe dominante instrumentaliza uma ideologia para que ela sirva a seus propósitos? Relativamente simples, mas na realidade é bem complicado, serei o mais simples possível. Marx esclarece muito sobre a dominação das classes dominantes e sobre a alienação das classes exploradas[2]; há uma classe dominante, ela precisa de algum instrumento que lhe ajude a manter seu domínio e que auxilie fazer as pessoas exploradas e dominadas nesta situação de alienação, para isto vale-se de expedientes intelectuais que consigam manter as classes exploradas “bitoladas”, como fábricas de ideologias as classes dominantes possuem imensas fileiras de intelectuais de plena disposição a fabricá-las aos milhares.
A burguesia de um país de ‘terceiro mundo’ como a nossa possui alguma ideologia ou algo similar? Claro, como toda classe dominante que se preze ela possui uma ideologia ‘engatilhada’. Como seria esta ideologia então, fazendo uso das palavras de um (dentre muitas outras especialidades) sociólogo conterrâneo meu, a ideologia de nossa classe dominante é morar em mansões e apartamentos a beira-mar e desfilar em carros de preferência importados[3]. Quanto mais desenvolvido é o país em análise, mais inconfessável é a ideologia das classes dominantes.
Outras vezes afirmei a existência da chamada “indústria cultural” e da ideologia da sociedade industrial (ou capitalista). Estes são mais dois instrumentos que vem somar-se a ideologia das classes dominantes, Theodor W. Adorno foi o primeiro a alertar sobre indústria cultural como forma de alienação essa transformação da cultura em produto do mercado, ele afirmou que “através da ideologia da indústria cultural, o conformismo substitui a consciência, jamais a ordem por ela transmitida é confrontada com o que ela pretende ser ou com os reais interesses do homem[4]”. Sobre a ideologia da sociedade capitalista (ou industrial) ela cria (juntamente com a tecnocracia) um universo totalitário em que sociedade e natureza estão em constante estado de inércia para que este ambiente totalitário seja conservado, provocando assim uma estrutura de imobilidade social e um habitat de paralisia racional e contestativa[5].
A forma mais eficiente da propagação de suas idéias elitistas de dominação é a educação. Não há forma mais eficiente de alienar um ser humano que começar esta dominação desde sua formação mais básica. Uma pessoas comum após vinte anos de ensino infestado desta ideologia não tem nenhuma gana de libertar-se desta dominação que perpetua-se entre nós desde o período colonial e já que nossa sociedade encontra-se totalmente imobilizada pelas ideologias e pelo efeito da mortal da combinação indústria cultural mais ideologia capitalista sem um único movimento contestativo que não esteja por elas contaminado ou pelos velhos interesses pessoais escusos e nunca revelados...


(*) Luiz Elias é estudante de direito. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br


[1] Neste sentido, cf. MARX, Karl. A ideologia alemã (Die deutsche Ideologie).
[2] Uma advertência, em alguns pontos as teorias de Marx encontram-se totalmente superados, mas em outros como em seus estudos sobre a exploração intelectual (ideologias) e da força de trabalho (mais-valia) ainda é bastante atual, deve ser lido com bastante cautela.
[3] ALMEIDA, Agassiz. A república das elites.
[4] ADORNO, Theodor. A indústria cultural. Apud ALMEIDA, Agassiz. A república...
[5] Neste sentido, cf. MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial.