:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, junho 17, 2006

Eco-ética e a dimensão dos direitos humanos

(*) Henrique Toscano
A amplitude e alcance dos direitos humanos é campo de análises profundas, envolvendo aspectos ideológicos,sociológicos,epistemológicos,axiológicos e culturais.O que se almeja fazer, o que realmente se têm na sociedade, os resultados e aplicações da ciência,os condicionantes valorativos e o caráter subjetivo dos seres, formam a matiz de um entendimento que tenta, de maneira apriorística, representar a verdadeira dimensão dos direitos humanos.
O processo de consecução de alguns direitos, relegados a todos que compõem a família humana, tem encontrado óbices principalmente quando, para que tal anseio realmente produza uma eficácia necessária, temos que previamente analisar questões de cunho cultural e axiológico.
Os direitos humanos, como comumente temos ouvido abordagens ou lido aclames políticos dos mais diversos, tem que ser observado dentro de uma ótica propícia, adequando locais e circunstâncias às análises feitas.Tais procedimentos denotam claramente a intenção de se extrair,como fruto das conclusões, um modelo que seja aplicativo e que não possua apenas uma utilidade teórica.
Tal aplicabilidade importa em relatar e apontar os erros e equívocos, principalmente políticos e jurídicos ,que se observam no tocante ao respeito as tais normas que fazem parte deste ordenamento supra-local, que são os direitos humanos.Não só resguardados nas forças políticas e jurídicas, esses direitos tem que assumir uma ética dos desejos[1], pela qual seriam capazes de se auto-afirmar, a partir da ação transformadora de cada cidadão em busca de um processo civilizatório mais condizente as necessidade prementes de uma sociedade bulímica[2].
Em relação aos dias que vivemos, esta eco-ética assumiria o papel de grande porto de salvação do entendimento e bom relacionamento humanos, indispensáveis à manutenção do nosso habitat.Nada mais importante que, na preservação e manutenção desse habitat, terem como regra geral esses direitos, essenciais e basilares para a construção de uma sociedade baseada na virtude.
Nesses caminhos galgados até esta tão esperada pós-modernidade, tropeçamos nos nossos próprios “avanços”.Caminhamos trôpegos em alguns aspectos, mas galopamos demais em outros.Esses passos trôpegos prejudicam demais a nossa racionalidade e capacidade de se entender como célula vital da sociedade e de contribuir eficazmente com sua melhora, não se rendendo à uma irracionalidade que nos leva a pensar que o que há de correto a se fazer são as imposições ditadas por um processo tecno-informatizador.[3]
O papel do ser humano em relação à preservação e respeito dos direitos humanos passa primeiramente por uma análise anterior do próprio Eu, ponto de partida para alcançar o entendimento da realidade e dos processos de mudança cada vez mais freqüentas.Deste ponto de partida, teremos a certeza de que, problemas de menor esfera estarão literalmente debelados quando do momento em que seja necessária uma comunhão de forças em prol de um objetivo maior.
No aspecto cultural, os direitos humanos teriam fulcro principalmente na manutenção da própria existência dos seres, não apenas uma existência biológica a qualquer custo, que seria a sobrevivência, mas uma existência baseada na liberdade e em um mínimo de felicidade.
Axiologicamente, caminhamos para conceituações mais subjetivas do que viria ser a real dimensão desses direitos, baseando-nos no ponto de vista afetivo.O valor atribuído as coisas e as pessoas, a importância, o peso e a repercussão de diversos processos dentro de nossa esfera interior, possuem inegável utilidade para o alcance e aplicação desses direitos pois, se nos baseamos em idéias que nos distanciem do conhecimento da nossa importância e valor dentro de um sistema, acabamos por validar modelos éticos que puramente se baseiam na correção moral e na repressão do que, ao contrário, legitimar o próprio indivíduo, que a partir de um processo de maturação natural, poderia estabelecer metas bem diferentes das que vivenciamos atualmente, baseadas nos sucessos e conquistas individuais e no egocentrismo.
Assegurar uma existência digna, recolocar o homem como peça chave para a história e atribuir-lhe o valor real dentro da sociedade.Talvez sejam metas distantes de serem alcançadas, mas são passos singulares que irão por garantir o melhor convívio em uma sociedade plural, lastreada no respeito-mor dos direitos humanos, inserindo-os numa perspectiva cultural que vise a plena atividade e contribuição do ser, solidarizando suas forças produtivas a favor de todos.
(*) Henrique Toscano Henriques é estudante de Direito da UEPB. email: hthenriques@uol.com.br
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[1] Idéia defendida por Luis Alberto Warat
[2] Sobre este tipo de sociedade, Eduardo Bittar a apresenta como um tipo de convivência humana que exclui, vomita, aqueles que, por incapacidade intelectual e principalmente econômica, não possuem condições efetivas de participar de determinados grupos.
[3] Segundo Luis Alberto Warat, esta sociedade tecno-informatizada regrediria o homem, no momento em que suprime sua satisfação simbólica da pulsão de vida em relação à massa geral de sensações.

sexta-feira, junho 16, 2006

Copa do mundo

(*) Luiz Elias Miranda

Bem, como esse é o único assunto abordado aqui no Brasil, fazer o quê? Se não é possível vencer o inimigo, só resta-me unir-me a ele.
Desde o início do campeonato mundial de futebol esse é o único assunto abordado pela imprensa nacional (ainda bem que a FIFA só realiza a cada quatro anos).
É bem verdade que há o lado festivo da confraternização entre os países, o espírito de fair play incentivado pelos organizadores. Mas há o lado ruim do evento, enquanto durar a copa, esse é o único assunto que a imprensa abordará e como é tema realmente bastante limitado temos de nos conformar com ridículas pautas de jornal que abordam desde bolhas nos pés de um jogador obeso até machucado nas nádegas do melhor jogador do mundo. Isso que dá nascer no país do futebol, fazia até certa brincadeira com meu irmão certo dia, estávamos a assistir o jornal e a apresentadora estava fazendo previsão das condições temporais da Alemanha para o dia seguinte, chegamos à conclusão que se fossemos uma população mais culta, o jornal seria apresentado totalmente em alemão.
O futebol aqui no Brasil assume uma postura tão importante que podemos defini-lo como um verdadeiro processo ideológico, extremamente poderoso, acredito que o mais poderoso, em nosso país nenhum meio de controle é tão eficaz como o futebol, nada escraviza tanto nossa mente quanto vinte e dois homens correndo atrás de uma bola durante noventa minutos.
Certa vez Karl Marx afirmou que a religião é o ópio do povo quando chegou à conclusão que a religião é apenas uma ideologia burguesa para conter a revolução. Disse isso pelo fato do ópio ter efeito alucinógeno que prejudica a percepção dos sentidos. Trazendo Marx para o Brasil de 2006, o futebol funciona como o ópio do nosso povo tornando-nos mais passivos e inertes do que o habitual.
Certa vez, alguns dias antes da abertura da copa, estava a ler um artigo muito interessante do teólogo suíço Hans Küng[1].Ele afirmava que na atualidade o futebol assumiu uma postura de elevada importância na sociedade ocidental que seria possível classificar o esporte bretão como algo análogo a uma divindade.
Essa comparação (e de certa forma paridade) Deus-futebol aqui no Brasil não é nenhuma novidade, o que me preocupa é o fato de o futebol estar ganhando muita relevância nos países em que até pouco tempo atrás esse esporte não tinha essa importância toda se tornando literalmente um método ideológico em escala mundial (visto que segundo expectativas da FIFA cerca de três bilhões de pessoas veriam apenas a abertura da copa do mundo).
Outra coisa que me deixa de certa forma constrangido é o ‘nacionalismo de copa do mundo’, a maioria das pessoas não cultivam o nacionalismo (em linhas gerais, o amor pelo seu país), essa situação muda totalmente de figura em tempos de copa do mundo onde todos nós acreditamos no Brasil, andamos de vestidos de verde e amarelo e por todo lugar onde andamos é possível encontrar espalhadas bandeiras nacionais. Passada a copa, esse nacionalismo desaparece com uma velocidade incrível, realmente de tudo que a copa tráz, pelo menos isso poderia permanecer.


(*) Luiz Elias é estudante de direito

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[1] Hans Küng é um importante teólogo católico crítico da infalibilidade papal e da doutrina papal com relação ao celibato, ordenação de mulheres e ecumenismo. Teve sua licença de teólogo católico cassada no início do pontificado de João Paulo II (1978-2005). Atualmente concentra suas pesquisas na linha de que seja possível o diálogo da fé cristã com as ciências naturais e a busca de uma ética mundial (Weltethos). Küng está convencido de que é possível se construir esta ética a partir dos valores morais compartilhados pelas grandes religiões do mundo e aceitos pela razão secular.

segunda-feira, junho 12, 2006

Mídia coronelista e severina



(*)Jakson Ferreira de Alencar
A grande imprensa brasileira critica com muita propriedade e eloqüência tanto o coronelismo do Nordeste como o ex-deputado Severino Cavalcanti. Entretanto, a mesma imprensa se esquece de fazer autocrítica e de ver que ela própria é fortemente coronelista e severina, não na mesma amplitude de cidades nordestinas do interior, mas, o que é pior, em amplitude nacional. O primeiro sinal disso é que o grosso da imprensa nacional, que domina a informação no país, pertence a nove famílias, uma versão ampliada das famílias dos coronéis nordestinos.
Essa mídia é coronelista enquanto usa o poder para influenciar e manipular os destinos políticos e econômicos do país, para perpetuar o status quo, quando escolhe candidatos e faz tudo o que pode para que a população os eleja, um procedimento semelhante ao dos coronéis. E é severina ao fazer isso incorporando características que ela própria aponta no Severino Cavalcanti, ou seja de forma retrógrada, pouco ou nada esclarecida e reflexiva, não republicana e antidemocrática, ultrapassada, que, em vez de favorecer o desenvolvimento do país o atravanca.

Tratamento desigual

Não se faz injustiça ao apontar isso na mídia brasileira, também não é exagero; as provas estão nas manchetes e textos que todos os dias ela nos apresenta. Exemplos de coronelismo e severinismo midiáticos não faltam e alguns se tornaram clássicos. Por exemplo, o ocultamento da campanha pelas eleições diretas na Globo, a eleição de Fernando Collor, em grande parte creditada à Globo, mas na qual toda a grande imprensa embarcou, procurando promover Collor, sem que o tal candidato tivesse a consistência, o lastro histórico e político que ele dizia e que a imprensa difundia à exaustão.
Como diz o escritor Rubem Alves, o ser humano tem mania de transformar em verdades idiotices que são muito repetidas. E assim a maioria do país acreditou que Collor era o caçador de marajás, o salvador da pátria exatamente como foi propalado na mídia. Com isso combateu-se o temido Lula nas eleições de 1989. Foi uma batalha assumida pela mídia e o grande empresariado nacional (ocasião em que se deu um grande impulso ao esquema de caixa 2 para financiar as campanhas). Se a imprensa fosse menos severina, poderia ao menos ter escolhido um candidato mais confiável e consistente para evitar a vitória do candidato que ela e a classe econômica que a controla temiam.
Deixando esses exemplos clássicos de lado, voltemo-nos para situações mais recentes. Depois de tanto receber tratamento desigual em relação a outros candidatos por parte da imprensa e de outros setores da sociedade em sucessivas campanhas, o ex-adversário de Collor chegou à presidência. Nem todos votaram nele por convicção política. Além dos que tinham convicção, parte votou porque achava que ele merecia uma chance depois de várias tentativas; parte porque não agüentava mais os que estavam no poder, e outra parte devido ao marketing político. Mas por isso não se pode dizer que a esperança depositada nele não era forte. Lula assumiu o poder como depositário desse simbolismo e todos reconhecem que o fato de um operário chegar à presidência da República é um passo notável numa democracia.

Virulência questionável

Ele assumiu o governo procurando ser conciliador, mas nem isso nem o simbolismo que o trouxe ao poder foram o bastante para evitar a acidez da grande imprensa contra ele e seu governo. Isso dava para saltar aos olhos de qualquer leitor ou espectador atento desde o começo do governo. Por exemplo, quando a política externa do governo Lula promoveu a cúpula dos países árabes e latino-americanos, a imprensa contrária ao governo taxou-a de idiotice completa, que apenas provocaria a ira dos Estados Unidos. No entanto, depois dela as exportações para tais países multiplicou-se em larga escala. Em edição do Bom Dia Brasil, da TV Globo, a jornalista Miriam Leitão dizia que o "governo bate no peito" devido aos recordes de exportação, "mas quem exporta são os exportadores", ou seja, na concepção que ela passa, o governo de um país não tem papel nenhum em agir para melhorar as exportações, isso se deve apenas aos empresários.
Se isso fosse verdade, os déficits na balança comercial que o Brasil sofreu no governo anterior seriam por quê? Será que os empresários não estavam querendo ganhar dinheiro? A Veja diz que a política externa do governo Lula é o maior fracasso diplomático do país, no entanto os números e os fatos dizem o contrário – trata-se do melhor desempenho em exportações do país em todos os tempos, em grande parte devido à política externa do governo, isso apenas para citar alguns poucos exemplos do que se vê de acidez e manipulações contra o atual governo diariamente na mídia.
Certamente as críticas são boas para fazer qualquer governo manter a linha e trabalhar para melhorar. O que é questionável é a virulência que chega a transformar fatos positivos em negativos ou a abafar os positivos e divulgar à exaustão os negativos. Tudo isso em contraste com a grande benevolência para com o governo anterior, não só durante todo o governo, mas ainda hoje, quando se enaltece tanto e se dá tanto espaço à figura de FHC mesmo quando 70% da população o rejeitam, segundo pesquisas de opinião. Certamente uma crítica equilibrada ao governo FHC, sem a virulência que se vê nas críticas ao governo Lula, teria contribuído para um melhor desempenho de seu governo, chamado a atenção para pontos fracos, alertando em relação a posturas erradas etc.

Vista grossa

E com isso o Brasil e o próprio FHC, seu partido e seus aliados e também a própria mídia teriam ganhado muito. A capacidade reflexiva dos donos do poder político, econômico e midiático, entretanto, não foi e não é capaz de enxergar isso. Um governo como o de FHC, tão hegemônico tanto no Congresso quanto na mídia, "deita-se em berço esplêndido", esconde facilmente as mazelas, adia problemas, sente-se pouco instigado a melhorar, fica convencido de que não precisa fazer muito esforço para conquistar a população, crente de que a mídia sua aliada cuida disso. Mas em alguma hora todos esses problemas estouram, como de fato aconteceu, e com isso todos sofrem, o país, os mais pobres e até mesmo a própria mídia, até hoje muito endividada desde os tempos de FHC. Entretanto, falta sabedoria em tais donos do poder para perceber isso.
Com a crise política que estourou no meio do governo Lula, a forma desonesta com a qual a mídia o vinha tratando escancarou-se. Se antes já se transformava em negativo até o que houvesse de mais positivo, ou se retirava do governo qualquer mérito por resultados positivos, com a crise apoiada em erros do PT e em fragilidades do governo isso chegou às raias da insanidade, até o ponto em que criminosos condenados e presos, ao fazer qualquer denúncia sem provas, ganhavam imediatamente capas de revistas e primeiras páginas de jornais como portadores da mais absoluta verdade. Operou-se uma verdadeira caça às bruxas em relação ao PT e ao governo, sem contrapontos ou ponderações. Coisas muito mais problemáticas em tempos passados, como as privatizações, jamais tiveram tratamento igual, por isso muitos cientistas políticos chegaram a falar em "golpe branco" contra o governo Lula, o que é uma tese bastante plausível.
A militância do PT jamais imaginaria que o partido viesse a utilizar caixa 2 em suas campanhas, mas daí à desfaçatez e ao cinismo com que a mídia cobriu o episódio, fazendo de conta que caixa 2 não é prática corrente no atual sistema político brasileiro, há uma diferença muito grande. A única novidade era que também o PT, que se definiu sempre como defensor de uma política diferente para o país, tenha cometido os mesmos erros de outros partidos, a saber, dos partidos que são aliados da mídia e têm o beneplácito da vista grossa desta para seus erros.

Desequilíbrio democrático

A intenção não é defender o governo Lula e o PT nem muito menos desmerecer o período de FHC, mas simplesmente dizer que há uma disparidade muito grande na cobertura que a mídia faz em relação aos dois governos e que isso não é bom para o país e para a evolução de sua democracia; é algo de índole coronelista e severina, uma antidemocracia.
Essa disparidade pode ser constatada numericamente comparando-se a cobertura no episódio da compra de votos para a reeleição de FHC em contraste com o episódio do suposto "mensalão" (ainda não provado) do governo Lula. No primeiro, a grande imprensa abafou o quanto pôde, embora houvesse provas exatas; no segundo amplificou ao máximo, sem que houvesse provas que justificassem tamanha virulência. No caso de FHC a revista Veja passou 12 edições (enquanto durava o episódio) sem dar a cobertura merecida; já no episódio de Lula, ela não só alardeou como deu pelo menos umas 15 capas seguidas ao tema, em tom pesado, chegando a comparar Lula a Collor, sendo que a conjuntura política era completamente diferente à do período do presidente cassado (claramente dois pesos duas medidas). Talvez se os fatos ocorridos no tempo de FHC tivessem sido apurados, a tão sonhada e propalada reforma política já tivesse sido feita e o país não estivesse passando por essa nova crise que, entre as sucessivas crises políticas, já é algo rotineiro no país.
Igual disparidade de tratamento pela mídia acontece sistematicamente em todos os níveis de governo no país e em todas as campanhas eleitorais, em que se procura massacrar midiaticamente partidos, candidatos e governos identificados com causas de esquerda, com os movimentos sociais e que visam a uma melhor distribuição de renda no país; por outro lado, a mesma mídia enaltece os políticos mais identificados com os ideais da direita e a manutenção da ordem social vigente. Isso é totalmente semelhante, na verdade idêntico, ao coronelismo e provoca um forte desequilíbrio democrático e não contribui para o avanço do país.

Leitura crítica

O coronelismo e o severinismo político aliados aos seus pares midiáticos criam mecanismos para perpetuar a desigualdade social no país, formam uma simbiose que dificulta o aprimoramento político e a distribuição da renda nacional. Com isso, todos perdem, inclusive a própria mídia, que joga fora a possibilidade de formar novos leitores e espectadores entre os que hoje não têm condições financeiras de assinar revistas e jornais ou de comprar os produtos que a TV e o rádio anunciam, e poderiam fazê-lo se a renda do país fosse mais bem distribuída. A mídia perde também credibilidade subestimando a inteligência de seus usuários, pois o cidadão esclarecido, ao ver as manipulações grosseiras, fica com a impressão de que o acham incapaz de perceber esse jogo.
Se um dos fatores principais para o empobrecimento do Nordeste brasileiro é o coronelismo e os "políticos severinos", o coronelismo e o severinismo midiático fazem o mesmo com o país inteiro: atravancam seu desenvolvimento. Se a mídia fizesse cobertura política mais imparcial, mais objetiva, balizada e aprofundada, com certeza contribuiria muito para termos um país mais desenvolvido e mais justo. Por enquanto, com raras exceções, não está à altura disso, não tem nível mais elevado do que os dos muitos maus políticos que ocupam o Congresso Nacional e o Poder Executivo. Tem preferido atender aos interesses escusos de determinadas linhas político-ideológicas aos interesses da nação. Falta espírito público à mídia e faltam políticas públicas para os meios de comunicação no país.
E mais: à menor tentativa de criação dessas políticas, os donos do poder midiático reagem ferozmente. Portanto, o país não precisa apenas de reforma política, precisa também de uma reforma da mídia, que não pode ficar concentrada nas mãos de tão poucos, formando um pensamento único e procurando eliminar dissidentes do jogo político. Da mesma forma que os coronéis do Nordeste mandam matar seus adversários. Enquanto essas reformas não vêm, é importante que as instituições sociais, em particular as escolas, procurem formar pessoas com capacidade de leitura crítica tanto da mídia quanto da política e da relação entre ambas.
(*) texto extraído do site : www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br

Como conservar nossos livros

(*)Diorindo Lopes Jr.
Este foi o tema que dominou uma recente conversa que tive com um amigo, o escritor Marçal Aquino. Somos apaixonados por eles, mas vivemos em São Paulo, como protegê-los dos insetos e da fuligem que cinco milhões de carros e ônibus despejam diariamente na poluída atmosfera paulistana?
Não chegamos a qualquer conclusão, exceto a de limpá-los periodicamente e espalhar algumas bolinhas de naftalina pelas estantes. Mas o papo rendeu algumas lembranças.
-- Livro só serve para ocupar espaço e juntar poeira, seu...! Ele tem bronquite! - uma prima se aborreceu quando presenteei seu rebento com meia dúzia de livrinhos infantis.
Minha prima odeia livros, trauma de infância.
O máximo que se aproximou de um, a vida toda, foi durante uma briga no colégio. Alguém lhe acertou o nariz com Memórias de Emília e a napa inchou.
A biblioteca de Marçal é umas cinco ou seis vezes mais volumosa que a minha e ele já desistiu de ordená-la. Algumas vezes, compra um livro mesmo sabendo que já o tem, mas não se arrisca a procurá-lo em uma aventura pelas inúmeras estantes.
Quem é apaixonado por livros sabe como é isso.
A gente pega um, lembra-se de um trecho, encontra outro com outro trecho e acaba se esquecendo do que estava atrás quando começou a busca.
Eu até procuro organizar a minha: autores nacionais dum lado e estrangeiros do outro. Livros que ainda não li, empilho no chão - às vezes, os montes me servem de degrau.
Faz alguns anos, uma empregada cheia de boas intenções - talvez pretendendo um aumento na diária - resolveu dar uma ordem na biblioteca. Quando voltei à noite, juro, chorei no sofá.
Ela os havia ordenado por tamanho e cores das capas. Deixou minha estante parecida com uma gigantesca caixa de lápis de cor.
Felizmente, na época eu tinha menos da metade dos volumes que tenho hoje. Ainda assim, levei mais de ano para retornar cada um ao seu lugar.
Encerro com uma frase que Marçal contou que seu tio-avô vivia repetindo: Na vida, um Homem deve cuidar direito de seus dentes e dos seus livros.

segunda-feira, junho 05, 2006

Até quando???


Até quando Suzane Louise von Richthofen vai ficar impune?


(*) Sidney Duarte é estudante de Zootecnia pela UFPB. e-mail sj_demolay@yahoo.com.br

quinta-feira, junho 01, 2006

Vai começar o espetáculo

(*)Manoel César


Há umas semanas atrás, estive freqüentando a Câmara Municipal da minha cidade acompanhando um projeto de lei que propus a um vereador, que não vem ao caso. Pois bem, sentava sempre em uma das três primeiras filas, braços cruzados, esperando pacientemente a sessão das 16h começar às 16:30. Aos poucos iam chegando pessoas, sentando, conversando, esperando. Quando entra algum vereador, acena com a mão para a platéia sem olhar a quem, senta e também espera. Os vereadores vão entrando, conversando, até que chega o presidente, senta e em nome de Deus inicia mais uma reunião da casa Osório de Aquino, e pede para o excelentíssimo senhor primeiro secretário ler a ata da última reunião, e todos os outros vereadores atentamente se viram e conversam com quem esteja próximo. A ata sempre é aprovada sem ressalvas. Passa-se então para as proposições, lêem-se os projetos, os requerimentos, que também são sempre aprovados sem ressalvas.

Um certo dia fui assistir a votação do projeto que sugeri, e coincidentemente era o mesmo dia da aprovação das contas da gestão passada. Casa lotada, imprensa, seguranças dentro e fora do prédio a paisana, com rádios e armas, polícia militar na porta, e o calor ao quadrado. Então que começa, em nome de Deus, a sessão. Bastava algum dos vereadores falar algo que a torcida organizada do seu partido bradava, batia palmas, jogava confetes e serpentinas, entrava em êxtase, quase no nirvana, sobre as vaias da outra torcida. Em meio de todas formas possíveis, imagináveis e não imagináveis de adiar e não adiar a reunião, enfim começou a votação. Com o seu fim, gritos, delírios, orgasmos e o calor ao cubo recheavam a pequena sala de reuniões.

Foram embora alguns dos populares, e eu com o rosto encharcado de suor, estava contente com a proximidade da votação do projeto. Foi quando uma rapaziada começou a gritar algo próximo dos vereadores, então um excelentíssimo vereador saiu do seu lugar a passos ferozes e com um soco quase derrubou um dos populares que remanesceram da votação, seus colegas o seguraram, a polícia entrou, os seguranças também, a imprensa também, e o calor estava quase insuportável quando o presidente encerra a sessão. A votação do meu projeto foi adiada pra quase duas semanas depois, porque a próxima terça era muito próxima da sexta-feira da semana santa.

Infelizmente não fui mais a casa Osório de Aquino, que tantas gargalhadas me rendeu. Numa cidade pequena como a minha, onde as opções de lazer e divertimento são escassas, a Câmara Municipal se mostrou uma grande alternativa às tardes ociosas assistindo à TV Senado.


(*)Manoel César de Alencar Neto será estudante de Direito da Universidade Estadual da Paraíba. netoalencar@yahoo.com.br