:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sexta-feira, junho 16, 2006

Copa do mundo

(*) Luiz Elias Miranda

Bem, como esse é o único assunto abordado aqui no Brasil, fazer o quê? Se não é possível vencer o inimigo, só resta-me unir-me a ele.
Desde o início do campeonato mundial de futebol esse é o único assunto abordado pela imprensa nacional (ainda bem que a FIFA só realiza a cada quatro anos).
É bem verdade que há o lado festivo da confraternização entre os países, o espírito de fair play incentivado pelos organizadores. Mas há o lado ruim do evento, enquanto durar a copa, esse é o único assunto que a imprensa abordará e como é tema realmente bastante limitado temos de nos conformar com ridículas pautas de jornal que abordam desde bolhas nos pés de um jogador obeso até machucado nas nádegas do melhor jogador do mundo. Isso que dá nascer no país do futebol, fazia até certa brincadeira com meu irmão certo dia, estávamos a assistir o jornal e a apresentadora estava fazendo previsão das condições temporais da Alemanha para o dia seguinte, chegamos à conclusão que se fossemos uma população mais culta, o jornal seria apresentado totalmente em alemão.
O futebol aqui no Brasil assume uma postura tão importante que podemos defini-lo como um verdadeiro processo ideológico, extremamente poderoso, acredito que o mais poderoso, em nosso país nenhum meio de controle é tão eficaz como o futebol, nada escraviza tanto nossa mente quanto vinte e dois homens correndo atrás de uma bola durante noventa minutos.
Certa vez Karl Marx afirmou que a religião é o ópio do povo quando chegou à conclusão que a religião é apenas uma ideologia burguesa para conter a revolução. Disse isso pelo fato do ópio ter efeito alucinógeno que prejudica a percepção dos sentidos. Trazendo Marx para o Brasil de 2006, o futebol funciona como o ópio do nosso povo tornando-nos mais passivos e inertes do que o habitual.
Certa vez, alguns dias antes da abertura da copa, estava a ler um artigo muito interessante do teólogo suíço Hans Küng[1].Ele afirmava que na atualidade o futebol assumiu uma postura de elevada importância na sociedade ocidental que seria possível classificar o esporte bretão como algo análogo a uma divindade.
Essa comparação (e de certa forma paridade) Deus-futebol aqui no Brasil não é nenhuma novidade, o que me preocupa é o fato de o futebol estar ganhando muita relevância nos países em que até pouco tempo atrás esse esporte não tinha essa importância toda se tornando literalmente um método ideológico em escala mundial (visto que segundo expectativas da FIFA cerca de três bilhões de pessoas veriam apenas a abertura da copa do mundo).
Outra coisa que me deixa de certa forma constrangido é o ‘nacionalismo de copa do mundo’, a maioria das pessoas não cultivam o nacionalismo (em linhas gerais, o amor pelo seu país), essa situação muda totalmente de figura em tempos de copa do mundo onde todos nós acreditamos no Brasil, andamos de vestidos de verde e amarelo e por todo lugar onde andamos é possível encontrar espalhadas bandeiras nacionais. Passada a copa, esse nacionalismo desaparece com uma velocidade incrível, realmente de tudo que a copa tráz, pelo menos isso poderia permanecer.


(*) Luiz Elias é estudante de direito

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[1] Hans Küng é um importante teólogo católico crítico da infalibilidade papal e da doutrina papal com relação ao celibato, ordenação de mulheres e ecumenismo. Teve sua licença de teólogo católico cassada no início do pontificado de João Paulo II (1978-2005). Atualmente concentra suas pesquisas na linha de que seja possível o diálogo da fé cristã com as ciências naturais e a busca de uma ética mundial (Weltethos). Küng está convencido de que é possível se construir esta ética a partir dos valores morais compartilhados pelas grandes religiões do mundo e aceitos pela razão secular.