:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quinta-feira, maio 18, 2006

Nosso eterno gosto pelas crises


(*) Henrique Toscano Henriques

Parece-me, como parece também a muitas outras pessoas, que há algum tipo de envolvimento maior que o de apenas meros espectadores dos brasileiros em relação as crises desencadeadas nos últimos tempos.Ambas, resguardam pontos similares em relação ao que poderia ser feito e a quem, que era de direito e de dever, deveria se manifestar e, infelizmente, não se manifestou.
Semanas atrás, a nacionalização do gás boliviano deu azo as maiores discussões no campo do valor de nossa soberania, do valor da soberania boliviana, dos limites de exercício e, principalmente, o que o nosso presidente, como representante maior de uma empresa brasileira instalada em solo boliviano, e falando por mais de hum milhão de consumidores diretos do GNV e outros tantos indiretos, através dos produtos beneficiados que se utilizam do gás natural como fonte primária de energia de produção, deveria ter feito.
Os meios de comunicação rebateram de maneira feroz as anêmicas atitudes de nosso chefe de estado, que entrou no jogo de Davi contra Golias, escanteado do projeto de criação de uma força sul-americana maior,encabeçada pelo agora chefe do bloco de países da América do Sul, mancomunado com os ensinamentos de Fidel, Hugo Chávez.
Como se não bastasse, longe de nós, acordaram, planejaram e puseram em prática o plano de nacionalizar o gás sem ao menos comunicar, nem que seja pelo mero dever de educação, a importante mudança ao maior comprador e senão, maior país investidor em solo boliviano.Atitudes confiscatórias e o desprezo pelos contratos feitos entre a Petrobrás e o governo de Evo Morales, colocaram em xeque o poder de decisão do Brasil quando se fala em política econômica internacional.Estamos nos prostituindo,e o pior, aceitando pouco por isso.
Agora, o outro fato.Uma onda de violência, como a imprensa internacional bem definiu, assolou a maior cidade do país.O sensacionalismo nas TVs deixou bem claro o que aconteceu e como aconteceu, o porquê é bastante presumível e ficou sempre nas explicitas entrelinhas. Ações coordenadas dos “bin ladens”, bandidos com dívidas com grupos criminosos ,aliados àqueles que receberam o indulto e passaram o dia das mães em casa, com o compromisso de matarem ao menos um policial, produziram no fim de semana um dos maiores massacres já vistos e um dos mais chocantes ataques às forças policiais em nosso país.Em um único dia, foram mortas mais pessoas do que nos dias mais violentos da perene guerra do Iraque.Mais uma vez, a resposta do chefe do executivo foi anêmica e irritante, ao enunciar que tudo estava sob controle.
Transtornos relatados, o nosso país se afunda em discussões, que, a meu ver ,não passam de um colossal “jogo de empurra” em que ninguém chama pra si nenhum tipo de responsabilidade, muito menos de omissão declarada e leniência, quando não queremos falar na existente e proba anuência dos agentes carcerários,em relação a crise de São Paulo.
Quanto a nossa crise continental, a Bolívia, miserável e sacudida politicamente, impôs sua vontade sobre algo que é de suma importância para o seu povo e que se configura como uma moeda de peso para sua economia.Permita-me discordar de Mangabeira Unger, profundo entendedor de política internacional, quando afirma da condução da crise: “ Tratam-se as relações entre dois países vizinhos -- um grande e outro pequeno – a respeito de assunto de peso para ambos, porém muito mais vital para o pequeno do que para o grande, como ocasião só para garantir, ainda que por revide e coação, nossa parte.”. O peso para ambos é diferente .A Bolívia precisa do gás muito mais que nós, mas, ao estatizar, comete uma atitude suicida, como bem escreveu Roberto Pompeu de Toledo, em recente artigo a Veja, pois provoca um desgaste demasiado nas relações econômicas entre os países e, a longo prazo, estimula a exploração do Brasil por outras fontes de gás, existentes e abundantes em nosso país.Pro outro lado, a Bolívia não possui capital suficiente para investir na tecnologia de exploração do gás, o que muito nos preocupa, pois nos seremos os fomentadores do investimento boliviano.O repasse será feito em breve.
No caso de São Paulo, nos esbaldamos mais uma vez com uma crise fresquinha.Todas as mazelas de nosso país resolveram dar a noção de existência num fim de semana só.Falta de segurança, estrutura de combate à violência totalmente sucateado, política penitenciária defasada, corrupção interna, anuência das autoridades, mesquinharia política e a famosa desfaçatez do Governador de São Paulo ao admitir que “Tudo estava sob controle”. Artur Xexéo, indagou de maneira irônica: “O que mais deveria ter sido fechado em São Paulo para que o governador não falasse bobagem?” Acho que a boca do mesmo (o governador).
Antes que tudo se acabe, que os bandidos cortem o fio da internet, que o Governo não permita mais o uso de blogs com instrumento de opinião pública, que me interditem como louco, que rasguem a constituição, que cassem nosso direito ao voto ou que transformem todo esse deplorável espetáculo em politicagem (disso não se escapa), fica aqui o registro do nosso gosto por crises, pois se pouco fazemos pra sair delas, é porque gostamos, de maneira tão espontânea que pegamos uma pipoquinha e um refrigerante para assisti-las no telejornal.
Talvez um dia sejamos mais inclinados a outros espetáculos, possamos admirar a plenitude do homem, não a queda, a vitória dos direitos constitucionais, e não sua constante violação.Talvez, mas bem talvez mesmo, tenhamos um presidente mais enérgico e políticos mais preocupados com o povo e que detestem, mas detestem mesmo, as crises,fazendo de tudo pra evita-las ou contorna-las.

(*) Henrique Toscano Henriques é estudante de Direito. email: hthenriques@uol.com.br