:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

terça-feira, abril 18, 2006

Maldade de menino

(*)Diorindo Lopes Jr.
Eu gostava de passar uns dias de férias na casa de meu primo Jorge. Seus amigos de rua eram meio da pá virada e só faziam brincadeiras iradas. A que eu mais gostava, mesmo nadando mal, era balançar na ponta de uma corda e me jogar no meio do rio.
Dava, se tanto, uns cinco metros de altura, só que a adrenalina que rolava...!
Mas teve um dia que não deu rio, tanto que choveu. E choveu tanto que os cavalos nem precisaram se abaixar para tomar água.
Fui dormir sem sono algum. Ver desenho animado na televisão e vencer meu primo Jorge no jogo de botão não me parecia diversão, eu não queimava energia nenhuma e fizemos isso o dia inteiro.
Primo Zé Carlos, irmão mais velho de meu primo Jorge, tinha viajado no caminhão de tio Roedas e eu dormia em sua cama.
— Você lembra do Akira, aquele japonesinho que morava na rua de cima de minha casa? – perguntei ao meu lerdo e sonolento primo Jorge.
—Sei. O que tem?
—Ele matou a mulher e se matou...
—Foi...?! – meu primo Jorge sentou-se na cama.
—Saiu até no jornal. Cortou o pescoço dela e bebeu quase todo o sangue. Depois, abriu a barriga, comeu metade do fígado, arrancou o coração, deu duas dentadas e jogou o resto para o cachorro
—Nossa...!
Na verdade, seu Noburo, a mulher, Akira e as duas irmãs tinham se mudado da cidade. Mas minha imaginação precisava de um pouco de ação.
Tínhamos doze e onze anos nessa época e eu ainda não sabia que um dia iria virar escritor.
—Então, amarrou o cinto no cano do chuveiro e se enforcou. O delegado falou pro jornal que tinha dois palmos de língua pra fora da boca...
—Verdade...?!
—E eu lá minto pra você, Jorge?! Agora vê se dorme que eu estou com sono!
No outro dia, logo cedo, tia Iracema precisou trocar a roupa de cama de seu filho caçula.
(*)Diorindo Lopes Jr. é escritor. www.diorindo.jor.br