:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

segunda-feira, abril 24, 2006

Pão bolorento

(*)Henrique Toscano Henriques

Muito já se discutiu, ainda mais nessas últimas semanas, sobre os destinos da ética e da moral do povo brasileiro.Jornais e revistas constantemente abordam o tema estabelecendo correlações claras com o atual momento político que vivenciamos.A cada dia, baluartes da dignidade e da retidão política caem dos mais altos postos do governo derrubados por escândalos jamais vistos.
Os altos cargos do governo e do poder em nosso país estão sofrendo uma espécie de dedetização, para exterminar de vez os insetos que por muito tempo ocuparam postos que influíram diretamente em nossas vidas e que, ao invés de servir a esse intuito de maneira positiva,obviamente,promoveu o maior espetáculo de locupletação já visto.O erário nunca sofreu tanto e os lobistas,cada vez mais ousados, mostraram realmente como é que se trabalha em busca de dinheiro fácil.
Todo esse escândalo, acompanhado de perto por todos os brasileiros e com recordes de audiência durante os inquéritos das afamadas CPIs dos correios e dos bingos, aliada as sessões do Conselho de Ética, gerou o interesse geral da nação por aquilo que se descortinava na tela da TV.O princípio da publicidade, instrumento basilar para a participação popular democrática na administração pública, que antes era tido por alguns como algo extremamente enfadonho devido aos repisados discursos dos políticos, se tornou, de uma hora pra outra, o condutor do maior "oba-oba" já visto.Alguns paravam de trabalhar para assistir os depoimentos e os processos de cassação. O clima era de copa do mundo.
Pois bem, por todo esse processo foi gerado outro.Antes tidos como alienados e fáceis de enganar, os eleitores, por assim dizer, saíram "macetados" e mais astutos quanto às ladainhas políticas.Reconheceram que nem sempre os mais polidos e bem aparentados, de fala mansa e persuasiva, são aqueles que realmente se engajam para conseguir algo de melhor para nossa população.O dístico popular, "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento", não cairia tão fácil em outro lugar.
A par disso, podemos elaborar várias questões: Será que agora, depois desse longo processo de depuração que o poder político passou, a consciência dos cidadãos irá melhorar em relação às escolhas de seus candidatos? Irá o Congresso Nacional sofrer uma mudança maciça e um processo de oxigenação do ambiente?
Talvez essas questões só o tempo responda, mas boa parte de seu conteúdo é presumível.
O Brasil, como é sabido, vive uma crise de representatividade e , porque não dizer, uma crise moral concomitante.Os escolhidos pelo povo, na maioria das vezes, não se elegem para atender os anseios da população pois,assim que alçados aos seus postos, tem de trabalhar incessantemente para satisfazer as vontades de empresas privadas que apoiaram suas candidaturas, empenhando seu gordo "dobrão",legitimamente enquadrado no eufemismo do "dinheiro não contabilizado" (leia-se, caixa dois) e na prática reiterada da compra de votos.
A classe política cada vez mais vem merecendo o descrédito da população e o desdém daqueles que pouco acreditam na existência de políticos honestos (entendam a dificuldade que foi juntar esse substantivo à esse adjetivo).O cenário é de tanta desesperança que o nosso povo não sabe porque vota em determinado candidato, por vezes se utilizando de critérios como a aparência,apelo popular ( entenda-se : tapinha nas costas, beijo na criança, um trocado pra cachaça) e assim por diante, detalhes que não deveriam influenciar nem um pouco diante da seriedade que é conduzir alguém à um posto de responsabilidade tão alta.
Tudo isto que ocorre bem próximo de nós tem suas motivações em algo que foi anteriormente citado .A ética e a moral estão trilhando o caminho da incerteza , fato este que pode eclodir uma verdadeira crise.Os representantes do povo, que deveriam dar o exemplo, realmente o fazem, mas na acepção mais errônea e negativa possível.
Os políticos criaram uma moral própria que aceita como normais práticas reiteradas de corrupção, locupletação e tráfico de influência.O clímax dessa crise se deu quando o nosso presidente, em uma infeliz entrevista concedida durante uma visita à França, admitiu ser comum, quase numa entonação de aceitável, a prática do caixa dois.Essa individualização da moral, absteve todo sentimento de culpa ou rejeição das práticas de alguns políticos, gerando uma dormência na consciência dos mesmos, que pouco se preocupam com as conseqüências que o exercício de seus mandatos podem provocar.
Mas, em outubro tudo muda.Os cínicos sobem aos palanques, a massa de manobra se verga às suas promessas, dançam ao som dos jingles e fazem o "v" da vitória. "Vê" esse que poderia ser mostrado à nossa querida deputada Ângela, mostrando a ela a vitória da impunidade.
Depois de cada apelo político, muitos que escrevem costumam encerrar seus textos da seguinte maneira: "Então caros eleitores, no dia 03 de outubro ponham a mão na consciência e mudem os destinos de nosso país, pois voto não tem preço e sim conseqüência..." e por aí vai.O alerta não está de todo errado, mas como fazer do voto um instrumento da mudança se as nossas opções são as mesmas, mudando apenas a corzinha do partido e o número? Como escolher um bom político se a classe não sofre uma oxigenação, uma mudança de parâmetros morais e éticos? Como o nosso voto pode ser instrumento de mudança se os que são eleitos apenas pensam na mudança de suas próprias vidas? O eleitor tem que ter em mente que nem tudo está perdido, mas que se alguns políticos se acomodam é por falta de policiamento e acompanhamento de suas gestões a partir da utilização de instrumentos constitucionais que garantem ao cidadão o conhecimento de tudo o que e feito com o nosso dinheiro.A crise da ética não só atinge quem é eleito, mas também quem elege, pois a banalidade com que se trata o nosso direito ao voto é que provoca as maiores distorções nesse processo que deveria ser democrático.
Não nos deixemos levar pelas aparências, pois a bela viola um dia há de ser um pão bolorento, ou não, se fizermos por onde.Buscar a substância de cada candidato e praticar uma acirrada vigilância, só assim há de reinar um dia uma democracia "moralmente aceitável" com um povo moralmente isento para efetuar julgamentos éticos.
(*)Henrique Toscano é estudante de Direito

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Henrique...

Granded texto, não podeeria deixar de postar um comentário a um texto tão legal, como sempre você nos brinda com suas análises acompanhadas de um vocabulário ao mesmo tempo simples e incisivo.

Neste texto, tocaste bem no centro da ferida, ondee estaria a ética que mais de dois mil anos atrás Confúcio indicou como sendo a política uma extesão da primeira???

De certa forma, a democracia encontra-se num estado ded degeneração latente, ela já não se dá muito bem com o liberalismo, com o 'corruptismo' nacional menos ainda; mas ainda é o sistema onde dedvemos apontar todas nossas fichas.

Encontramo-nos imersos num verdadeiro 'mar de lama' de denúncias, mas acredito que a publicidade advinda pós 1988 é um ponto muito positivo, já houveram tempos onde isto tudo acontecia e não chegava aos meios de comunicação, ficando na velha 'boca pequena' dos bastidores do poder...

Estamos a atravessar uma grave crise ética, política, institucional, enfim, uma crise generalizada, em os rincões do Estado. Entretanto, acredito que esta crise virá auxiliar o crescimento político de todos nós, as gerações futuras não terão essa corrupção cultural que assola a nossa geração e gerações anteriores à nossa, espero eu que um dia a política das negociatas e do clientelismo chegará ao fim...

Elias

segunda abr. 24, 09:17:00 da tarde 2006  

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