:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quarta-feira, maio 10, 2006

Saídas

(*) Roberto Mangabeira Unger


Saídas na sucessão presidencial de 2006? Defino como saídas as soluções sucessórias que resultem na tomada do poder por projeto que bote o Brasil para trabalhar e para aprender, fazendo os interesses do trabalho e da produção prevalecerem sobre os interesses financeiros, baseando novo ciclo de desenvolvimento em democratização de oportunidades de ensino e de trabalho e livrando a política da sombra corruptora do dinheiro.Enumero em seguida, sem paixão ou preconceito, as seis saídas que identifico. Pena que, sendo o mundo e o Brasil o que são, as mais promissoras não sejam as mais fáceis.Entre as saídas não incluo a eleição do atual pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Por maiores que sejam suas virtudes, guia-se ele por apoios, conselheiros e convicções comprometidos com a continuidade da trajetória que nos deu 25 anos de estagnação e mediocridade. Das saídas também excluo a simples reeleição de um Lula determinado a prosseguir na mesma direção. Há, contudo, uma diferença relevante entre Alckmin e Lula: aquele, por crença, não faria o que este só não fez por cautela e temperamento.
A primeira saída é que Lula seja reeleito e que mude de rumo. Nada nas circunstâncias brasileiras ou mundiais impede que se abra essa saída, a não ser aquilo que é sempre menos acessível: a mudança do indivíduo, de sua maneira de ver e de tratar o mundo em que atua. Há, porém, razões -muitas razões- que poderiam levar o presidente reeleito a tomar sua reeleição como oportunidade para dedicar novo mandato a novo caminho, resgatando os compromissos em nome dos quais foi eleito em 2002.A segunda saída é que, em algum momento durante eventual segundo mandato, Lula seja impedido ou renuncie e José Alencar, reeleito vice presidente, assuma a Presidência. Como crítico do presidente e de seu governo desde o primeiro momento, quando crítica escasseava, devo dizer que considero o impedimento às vésperas de eleição remédio perigoso e de última instância. Depois, porém, tudo pode acontecer, como demonstra nossa história contemporânea.A terceira saída é que Itamar Franco triunfe na convenção do PMDB e se eleja presidente da República. É muito difícil que ganhe a convenção. Se a ganhasse, porém, teria potencial para ganhar a eleição. E condição e disposição para liderar reorientação do rumo nacional.A quarta saída é que seja Anthony Garotinho vitorioso na convenção do PMDB e na eleição presidencial. Tem mais chance do que Itamar de ganhar a convenção e menos chance do que ele de ganhar a eleição. A bem da verdade, é preciso dizer que Garotinho é o único dos pré-candidatos de qualquer partido que já deu idéia clara de proposta transformadora, ainda que eu discorde de muitos elementos dela, tanto pelo que contém como pelo que exclui.A quinta saída é que Alckmin venha a ser substituído por José Serra e que este se eleja, disposto a pôr fim à política antidesenvolvimentista que está há muito tempo no poder. Substituição penosa, exigiria que o substituto trocasse o relativamente seguro pelo muito inseguro.
A sexta saída é que as verdadeiras oposições se unam em torno de um candidato, conhecido ou desconhecido, contando com o desassombro do país em encontrar caminho de salvamento. Saída difícil de viabilizar só por conta da pequenez dos homens, porém nobre e necessária.Saídas não faltam. O que falta é clareza para vê-las. E desprendimento e audácia para desbravá-las.
(*) Roberto Mangabeira Unger é professor de Direito Constitucional da Law University of Havard. Site pessoal: www.law.harvard.edu/unger
*Publicado na Folha de S. Paulo, ed. 02/05/06, pág. 02.http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0205200607.htm