:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, novembro 26, 2005

Teologia e ciência se complementam

(*) Hans Schwarz


"Os cientistas têm que admitir que necessitam de uma fé, para reconhecer relações fora do mundo observável", afirma o teólogo Hans Schwarz, num ensaio para a DW-WORLD.
"Durante longo tempo a teologia acreditou, na qualidade de rainha das ciências, ter uma reposta definitiva para todas as questões. Ela pensava ser onissapiente. Contudo essa arrogância irritou as outras ciências. Por isso a teologia foi deposta de seu pedestal, que as ciências naturais então ocuparam. Agora anunciavam, no lugar da teologia, saber a resposta certa para todas as perguntas da humanidade. Sua arrogância também foi desmacarada, e espalhou-se um ceticismo cada vez maior quanto às pretensões das ciências naturais."
O teólogo norte-americano Langdon Gilkey, falecido em 2005, fez este relato das relações mútuas entre teologia e ciências naturais durante um congresso reunindo ganhadores do Prêmio Nobel e teólogos.
A ciência não sabe tudo
Em especial os cientistas que se ocupam da pesquisa de base, por exemplo na física atômica ou na cosmologia, notam constantemente que duas novas questões se apresentam, tão logo hajam solucionado uma. Como demonstra o progresso científico, o que hoje parece definitivo estará superado amanhã, e relativizado por novos conhecimentos.
Apesar disso, necessitamos das ciências naturais a cada dia, sobretudo em sua forma aplicada, a fim de administrar nossa vida cada vez mais complexa. Estamos constantemente circundados pelos resultados das ciências aplicadas, da luz elétrica ao laptop, da geladeira ao automóvel. Sem eles, estaríamos mais ou menos perdidos.
Espada de dois gumes
Para que precisamos, além disso, da teologia, ou mesmo da fé? Não basta transformarmos em ações nossos conhecimentos fatuais, adquiridos através da ciência?
A ambivalência dessa idéia fica logo óbvia. Basta pensarmos na invenção da dinamite.
Por um lado ela permitiu construir gigantescos canais, como o do Panamá ou o de Suez, empregada para tirar os recifes. Por outro, através da dinamite e outros explosivos, as armas de guerra e terror ganharam um poder destrutivo muito superior ao das armas de mão, até então utilizadas.
Perda da inocência
Há mais de 200 anos, o filósofo Immanuel Kant advertia que nem todos os problemas se permitem solucionar através da experiência sensória, ou seja, do empirismo. Ao contrário dos empíricos britânicos, dentre eles David Hume, o filósofo alemão constatara que a razão humana e a experiência sensorial em que ela se baseia só podem devassar o mundo dos fenômenos.
No final de contas, as questões referentes a origem e sentido, também ao sentido de nossas ações, não podem ser respondidas a partir do mundo dos fenômenos. Elas se enquadram no campo do numinoso ou – como o denominava Kant – da metafísica.
Devido ao tremendo progresso das ciências aplicadas nos séculos 19 e 20, esse consenso foi se perdendo. Passamos a adotar o princípio de que tudo o que seja tecnicamente factível é também certo.
Mas o filósofo Karl Jaspers caracterizou com razão a crença na dominação técnica de nosso mundo como "superstição da ciência". Desde Hiroshima e Dresden, para não falar em Auschwitz, as ciências naturais perderam sua inocência.
Regiões limítrofes
Além disso, tanto no campo teórico como no prático, os cientistas esbarram cada vez mais em limites que exigem uma avaliação ética, ou mesmo metafísica. Assim, os médicos se confrontam diariamente com o impasse de como e sob que condições a vida deve ser preservada.
No terreno da cosmologia, coloca-se para os pesquisadores mais uma vez a questão sobre o início e o fim do universo. Se houve um big bang, então deduz-se que o universo não será eterno, como ainda se acreditava no século 19.
Também no tocante às supostamente "cegas" leis naturais, certos cientistas falam, para supresa de muitos teólogos, em um princípio antrópico. Este postula que as constantes básicas da natureza haveriam sido minuciosamente orquestradas de forma que, chegado o momento devido, o ser humano surgisse. Assim, a história do universo parece não haver transcorrido de forma tão aleatória como muitas vezes se quer crer.
Um outro fato, puramente prático, também nos ocupa: notamos cada vez mais claramente que os recursos naturais não são inesgotáveis. Porém a ciência não consegue nos responder de forma conclusiva como podemos lidar de forma responsável com nossos recursos.
Para além do empírico
Enquanto durante longo tempo a ética foi uma questão para a filosofia ou a teologia, desenvolve-se cada vez mais uma "ética da técnica", ou uma "ética da medicina", assim como um intercâmcio crescente entre teólogos e cientistas, no tocante a questionamentos metafísicos.
Quando os cientistas acatam os conselhos do teólogos, não é por que estes sempre saibam todas as respostas com exatidão. Mas sim por que muitas questões ultrapassam a competência dos pesquisadores, cujo procedimento se baseia nos princípios empíricos da ciência.
Onde ambos se encontram
Teólogos e cientistas dialogam continuamente para, partindo de seus próprios campos de competência – seja o empírico, seja o metafísico –, refletir sobre problemas do presente e "questões últimas" e, dentro do possível, respondê-las.
Dessa maneira, o teólogo tem que estar familiarizado com os fatos científicos, assim como o cientista com os fundamentos da fé. E como este poderia estar alheio a tais problemas: todo cientista é também um ser humano e, como tal, constantemente confrontado, em sua existência, com as questões da fé.
Os cientistas devem admitir que precisam de uma crença, para estarem aptos a reconhecer as relações mais profundas, para além dos fatos puros e do mundo observável. Do mesmo modo, teólogos necessitam do saber detalhado fatual-científico, para que sua fé não definhe em ideologia cega.
Gostaria de concluir com uma citação do astrônomo e agnóstico norte-americano Robert Jastrow, que escreveu em 1978, em seu livro God and the Astronomers (Deus e os Astrônomos):
"Para o cientista que viveu dentro da crença no poder da razão, a história termina como um sonho mau. Ele escalou a montanha de sua ignorância e está prestes a alcançar o mais alto cume. Ao alçar-se por sobre a última rocha, é saudado por um grupo de teólogos, que lá estavam sentados há séculos."
(*) Hans Schwarz é professor de Teologia Sistemática e Questões Teológicas Atuais, desde 1981, no Instituto de Teologia Luterana da Universidade de Regensburg. Entre seus campos de estudo estão a relação entre teologia e ciências naturais, e história da religião e da filosofia.

domingo, novembro 13, 2005

O oráculo da crise


mai Posted by Picasa


Diogo Mainardi quer derrubar o presidente. Diz isso para quem quiser ouvir. Escreveu a frase com todas as letras nas primeiras linhas de sua coluna na revista Veja. Chegou a ter um processo no Supremo Tribunal Federal por isso, mas ganhou a parada. Para ver Lula na lona, Mainardi recorreu a um método polêmico. Ligou para o deputado federal paranaense José Janene (PP), um dos envolvidos na crise do mensalão. Janene disse que só falaria sobre o assunto em off. Ou seja, Mainardi poderia usar as informações, mas sem dizer quem as havia revelado. "Confie em mim", disse o colunista. Janene admitiu que José Dirceu cooptava parlamentares para votar com o governo federal. Depois de pensar "por um segundo e meio", o colunista mandou o off às favas. Publicou tudo na boca de Janene. O deputado ficou furioso. Por sua revelação, o colunista foi criticado pelos colegas de imprensa. Respondeu ao seu estilo: atirando. Desde então, tem dito que a imprensa acoberta crimes ao se calar, comprou uma briga com o colunista Luís Nassif, da Folha de São Paulo, e agora diz que até o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, é melhor jornalista do que os repórteres brasileiros. Na segunda-feira, Mainardi deu uma entrevista sobre o assunto à Gazeta do Povo. Além de dizer que realmente é confiável, ele se declara um case de sucesso. E admite que ficou insuportável depois que suas críticas pioneiras contra Lula foram adotadas por mais gente. Diz que assumiu uma pose de oráculo. E, assim sendo, continua dando seus palpites. Leia a seguir os principais trechos da conversa.
Você é confiável?
Sou absolutamente confiável. Não sou vendido, em primeiro lugar. Não sou remunerado por ninguém que não seja os meus patrões, que todo mundo sabe quem são. Não sou filiado a nenhum partido. Não faço política partidária simulada ou ostensiva. Não sou pautado. Todas as minhas colunas são da minha cabeça. Não necessariamente tudo o que eu digo faz sentido, mas tudo o que eu digo parte de mim.
Como você pensou na coluna com o deputado José Janene?
Eu imaginei que o Janene não fosse falar comigo. Ele falou porque queria me usar como garoto de recados. Outros repórteres são obrigados a fazer esse papel, para manter fontes, para conseguir interlocutores políticos. Eu não tenho o menor interesse em ter interlocutor político de qualquer partido. A minha coluna não se baseia nisso. Depois que ele me falou coisas que eu considerei extremamente relevantes para discussão política do momento, eu achei que podia romper a chantagem e usar a revelação dele contra o próprio governo.
Quebrar o off foi uma decisão difícil de tomar?
Não. No primeiro momento, eu pensei: "Ah, não posso publicar, que pena". Um segundo e meio depois eu disse: "Mas por que eu não posso publicar?". E essa pergunta me levou a fazer a coluna que eu fiz. E a
Veja deu respaldo total na história?
Me deu total respaldo. Primeiro, eles sabiam que eu estava dizendo a verdade. A partir daí era um problema meu. Eu, como colunista, perdia fontes, deixava de ser confiável como fonte de notícia. Eu nunca tive uma fonte. Nunca me interessou.
O mais surpreendente talvez seja você ter revelado que não gravou a entrevista. Isso abre margem para um processo complicado para você.
Abriria um processo complicado para mim. Seria a minha palavra contra a dele. Em nenhum momento ele negou a entrevista. Eu liguei para ele na semana seguinte, dessa vez gravando, e perguntei se ele queria continuar falando. Perguntei pra ele. "Já que o senhor aceitou revelar em off, por que não faz um esforço de transparência em benefício do país e revela tudo em on [abertamente]." Ele primeiro disse que não negou nada. Mas disse que eu fiz uma cafajestice e desligou o telefone na minha cara. Justamente. Está no direito dele. Mas ele obviamente não negou o que disse porque disse isso mesmo. E corresponde à verdade, inclusive.
Nas últimas colunas, depois do episódio do off, você fez uma espécie de campanha contra a imprensa brasileira. É deliberado isso?
Eu acho que esse é um dos grandes problemas que nós tivemos nesses últimos dois anos: um alto grau de cumplicidade dos agentes fiscalizadores com o governo. A imprensa é um dos poucos setores da sociedade brasileira que podem esboçar algum tipo de reação. Mas ela ficou muito desarmada com a eleição do Lula, de maneira até assustadora. E foi por isso que eu me meti a falar de política. Mas a sociedade, a imprensa, estava todo mundo muito desarmado, com a guarda muito baixa. Eu me senti empurrado a falar do governo de maneira mais direta. A máfia se baseia no código de silêncio, na omertà. Eu acho que romper o código de silêncio é sempre um serviço. E nesse caso em particular.
Você escreveu que o Brasil tem offs demais. Agora fala em omertà. Você acredita que a imprensa acoberta crimes?
A imprensa brasileira pode ser cúmplice de crimes com o silêncio. Ela pode ser, ela foi muito, muito partidária, muito sectária. E isso é um crime, porque o papel da imprensa é fazer exatamente o contrário. É denunciar o poder público. E não ser o braço armado do poder público.
Você decidiu que a sua função sobre a Terra é fazer sátira?
Eu decidi, mas decidi baseado no que eu tinha à disposição. Você decide o tipo de guerra que vai fazer depois que conhece o seu arsenal. E o meu era só esse, não era grande coisa. Eu só tinha uma faca. Então o que eu tinha que fazer era furar pneu. Essa foi a minha atividade a vida toda.
Você se define às vezes como um mercenário, que trabalha por dinheiro. É outra ironia?
Eu faço questão de trabalhar por dinheiro. É a minha motivação para continuar no trabalho. Mas eu não topo qualquer parada para ganhar dinheiro. São coisas diferentes. O termo mercenarismo é irônico, sem dúvida. É que, para um escritor ser remunerado, é uma coisa tão pouco comum que até hoje eu me surpreendo e não consigo parar de falar sobre isso. E eu gosto também de mostrar que uma posição que não é muito ortodoxa na nossa cultura, que é assim de uma contestação mais debochada, pode dar certo. Sabe, eu sou um caso de sucesso. E eu acho bom falar para as pessoas que alguém que assumiu uma posição de contestação na sociedade conseguiu reconhecimento. É bom, saudável isso.
Se você fosse um marqueteiro, você se definiria como um case de sucesso?
Eu analisaria meu case e diria que tem um certo campo de trabalho. Você acaba de ganhar na Justiça um processo que garante a você o direito de escrever que quer derrubar o presidente. Eu sei que os meus colegas não vão muito com a minha cara, mas é uma sentença importante para todos os jornalistas. A petição [levada ao Supremo Tribunal Federal por um advogado] falava em subversão à ordem constitucional, ou uma coisa assim. E o ministro Celso de Mello diz que não compete ao Supremo a análise deste processo. Depois, ele diz que, apesar disso, entra no mérito da questão. E faz um discurso muitíssimo bem articulado sobre a função da imprensa. Ele fala da necessidade da imprensa de vigiar o poder, inclusive recorrendo a instrumentos como o sarcasmo, a crítica contundente - nas entrelinhas você lê até críticas injustas - contra os políticos, e que eles merecem vigilância ainda mais atenta do que o resto da sociedade.
Apesar de ser uma decisão importante, teve pouca repercussão.
Porque me envolve e os jornalistas não querem me dar essa satisfação. Se fosse outro, poderia ter dado primeira página. No meu caso, não. Eu acho que eles nem concordam muito com a sentença. Eu acho que muita gente queria me ver punido, desmoralizado em público. Mas eu entendo. Eu vivo cagando regra para todo mundo. E nos últimos seis meses eu fiquei uma pessoa bastante insuportável [por ter antecipado as críticas ao PT]. Falo para todo mundo: eu disse, eu disse, eu disse. Eu sou o máximo, eu sou um oráculo, eu sou um sabe-tudo, um sabichão. É óbvio que as pessoas se cansam e planejam a vingança. Eu virei um pentelho recentemente. E eu mereço uma punição. Mas não desse jeito. Não punindo a liberdade de imprensa, por exemplo. E não por algo que eu tenha feito, porque, sujo, eu não sou.
Resumindo, você é mesmo confiável?
Sou absolutamente confiável.

segunda-feira, novembro 07, 2005

A formação do Brasil


(*) Luiz Elias Miranda


Bem, muitos e muitos estudiosos afirmam que o Brasil foi um país formado por bandidos, degenerados de todas as espécies, por este motivo que nossa sociedade seria de uma certa forma esta.
Eu afirmo que não, é certo que logo no início de sua formação, o Brasil recebeu criminosos de todas as espécies (ladrões, estupradores, sonegadores e muitas outras figuras típicas); mas a colonização não foi conduzida por estas pessoas, em pouco tempo o Brasil deixou de ser destino de degredados, em pouco tempo o Brasil passou a ser o destino da mais alta nobreza portuguesa (que foi quem na realidade colonizou nosso país já que Portugal não dispunha de capital suficiente); além do mais, os degredados envolveram-se de uma forma no processo de colonização que podemos compará-los aos “pioneiros” da Nova Inglaterra (que no futuro iria chamar-se Estados Unidos da América), como não poderiam mais retornar a seu país de origem trabalharam para que a Terra de Vera Cruz se transformasse em seu definitivo lar.
As elites portuguesas foram donatárias de imensos lotes de terra em nosso país, algumas famílias chegaram a possuir mais de duzentos mil hectares, em fins do século XIX e início do século passado, algumas dessas famílias chegavam a afirmar que não sabiam onde terminavam suas terras, de preferência, às margens de algum rio.
O processo de formação de nosso país e nossa sociedade foi feito de maneira extremamente elitista e desigual, vivemos mais de quinhentos anos de exploração social e concentração de renda. Desde muito tempo as elites agem de forma extremamente mesquinha em detrimento da maior parte da população que na realidade é quem assume o ônus da luxuosa vida que as classes dominantes do país levam.
Dependendo do que seja mais vantajoso para elas as classes dominantes mudam de posição política como quem muda de roupa. Por séculos apoiou a escravidão, quando viu que não mais vantajoso era, exigiu a libertação dos escravos, sempre apoiou o império, mas quando percebe que as relações políticas entre império e sociedade já estão bastante desgastadas é a primeira facção social (e talvez a única) a apoiar o império, em 1964, foram os primeiros a apoiar o golpe que representou o maior retrocesso de nossa história em todos os aspectos, quando ela percebe em meados da década de 1980 que o regime está fadado à ruína, subitamente tem um ‘espasmo’ democrata, não é irônico isso?
Creio que as classes dominantes representam o maior retrocesso ao nosso Brasil, são elas que desde o início da colonização inserem a corrupção como regra governamental, trancafiam nossa população na ignorância negando-lhe o direito de uma educação digna, e não lhes preta os mais fundamentais direitos como a saúde uma vida digna.


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br



terça-feira, novembro 01, 2005

Quanto vale a vida hoje?

(*) Luiz Elias Miranda


No último final de semana a polícia carioca conseguiu matar o traficante Bem-te-vi, o criminoso mais procurado do estado do Rio de Janeiro. Entre as imagens divulgadas pela imprensa estava um que muito me chocou: após a operação no morro, em frente ao hospital onde o traficante foi levado após ser baleado, quando da divulgação da morte de bem-te-vi, os policiais começam uma comemoração por aquela morte, se abraçando.
Apesar de eu ter ficado muito chocado, meu irmão estranhou minha reação e afirmou sem mais nem menos: a obrigação da polícia é matar mesmo! Disso comecei a refletir sobre este episódio... A obrigação da polícia não é matar, de muito tempo sabemos que o dever da polícia de segurança (como diz no próprio nome) é garantir a segurança das pessoas e de suas posses. O ideal seria na verdade que não precisássemos da polícia para garantir nossa segurança, se nossa sociedade fosse realmente pacata e a natureza do homem realmente boa (como muitos ainda insistem afirmar equivocadamente) não seria necessário que o Estado criasse um órgão apenas para manter a paz e a ordem pública.
De repente, com esta cena e o posterior “debate” com meu irmão surgiu outra dúvida: quanto vale uma vida nos dias de hoje? Acho que bem pouco pelo fato de pessoas serem mortas por causa de coisas bem fúteis como, por exemplo, uma briga de bar, partida de futebol...
Sempre acreditei e quero continuar a acreditar que a vida é um bem supremo e, por isso mesmo não pode ser retirada por ninguém, nem mesmo o Estado. Neste ponto, ao menos teoricamente o Brasil foi sempre bem civilizado, após a constituição de 1891 (a primeira republicana) a pena de morte foi banida para não mais voltar ao nosso ordenamento jurídico. A de 1988 decreta que não haverá pena de morte em nosso país[1] e nenhuma lei buscará inserir esta pena em nosso país.
Apesar de tudo, hoje a vida vale bem pouco, não é mais aquele valor sublime e inviolável que estaria acima de todos os outros. Em nossa atual situação de guerra civil disfarçada, uma vida pode ser algo com valor muito baixo, acredito que este pensamento vem se consolidando até como um valor presente em nossa sociedade, ao ponto de pessoas e editoriais de jornais elogiarem um assassinato como uma operação bem sucedida da polícia carioca...
A verdade é que a vida não tem mais aquele caráter sagrado que já teve em outras épocas, esta vulgarização da vida chegou a um ponto tão grande que diante de uma morte ou mesmo de um assassinato já ouvi pessoas dizerem: “grande coisa, todo dia morre gente mesmo”. Realmente, vivemos em tempos insanos, esta “insanidade social” é mais que desumana e não conhece limites. Acredito que um dos motivos desta falta de sentimentos para com o semelhante foi desencadeada pelo individualismo, que busca a satisfação da pessoa como indivíduo, não como coletividade.


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela UEPB. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br


[1] A não ser em situações excepcionais como o “Estado de sítio” ou “Estado de defesa”.