:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

terça-feira, novembro 01, 2005

Quanto vale a vida hoje?

(*) Luiz Elias Miranda


No último final de semana a polícia carioca conseguiu matar o traficante Bem-te-vi, o criminoso mais procurado do estado do Rio de Janeiro. Entre as imagens divulgadas pela imprensa estava um que muito me chocou: após a operação no morro, em frente ao hospital onde o traficante foi levado após ser baleado, quando da divulgação da morte de bem-te-vi, os policiais começam uma comemoração por aquela morte, se abraçando.
Apesar de eu ter ficado muito chocado, meu irmão estranhou minha reação e afirmou sem mais nem menos: a obrigação da polícia é matar mesmo! Disso comecei a refletir sobre este episódio... A obrigação da polícia não é matar, de muito tempo sabemos que o dever da polícia de segurança (como diz no próprio nome) é garantir a segurança das pessoas e de suas posses. O ideal seria na verdade que não precisássemos da polícia para garantir nossa segurança, se nossa sociedade fosse realmente pacata e a natureza do homem realmente boa (como muitos ainda insistem afirmar equivocadamente) não seria necessário que o Estado criasse um órgão apenas para manter a paz e a ordem pública.
De repente, com esta cena e o posterior “debate” com meu irmão surgiu outra dúvida: quanto vale uma vida nos dias de hoje? Acho que bem pouco pelo fato de pessoas serem mortas por causa de coisas bem fúteis como, por exemplo, uma briga de bar, partida de futebol...
Sempre acreditei e quero continuar a acreditar que a vida é um bem supremo e, por isso mesmo não pode ser retirada por ninguém, nem mesmo o Estado. Neste ponto, ao menos teoricamente o Brasil foi sempre bem civilizado, após a constituição de 1891 (a primeira republicana) a pena de morte foi banida para não mais voltar ao nosso ordenamento jurídico. A de 1988 decreta que não haverá pena de morte em nosso país[1] e nenhuma lei buscará inserir esta pena em nosso país.
Apesar de tudo, hoje a vida vale bem pouco, não é mais aquele valor sublime e inviolável que estaria acima de todos os outros. Em nossa atual situação de guerra civil disfarçada, uma vida pode ser algo com valor muito baixo, acredito que este pensamento vem se consolidando até como um valor presente em nossa sociedade, ao ponto de pessoas e editoriais de jornais elogiarem um assassinato como uma operação bem sucedida da polícia carioca...
A verdade é que a vida não tem mais aquele caráter sagrado que já teve em outras épocas, esta vulgarização da vida chegou a um ponto tão grande que diante de uma morte ou mesmo de um assassinato já ouvi pessoas dizerem: “grande coisa, todo dia morre gente mesmo”. Realmente, vivemos em tempos insanos, esta “insanidade social” é mais que desumana e não conhece limites. Acredito que um dos motivos desta falta de sentimentos para com o semelhante foi desencadeada pelo individualismo, que busca a satisfação da pessoa como indivíduo, não como coletividade.


(*) Luiz Elias é estudante de direito pela UEPB. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br


[1] A não ser em situações excepcionais como o “Estado de sítio” ou “Estado de defesa”.