As armas e os varões
(*) Cerlos Heitor Cony
Não votarei no plebiscito sobre a proibição das armasde fogo. Se fosse obrigado ao voto, o anularia propositadamente, elucidamente. Trata-se de um escapismo, uma forma que a tal sociedadeética e transparente encontrou para, mais uma vez, empurrar com abarriga um dos problemas mais agudos de nosso tempo: a violência. Compequenas alterações, pode-se usar a comparação do termômetro.Proíba-se a compra e o uso dos termômetros e não haverá mais febre nopaís.Os dois lados da questão têm argumentos respeitáveis. A compra dearmas pode colocar um revólver na mesinha de cabeceira ou noporta-luvas do carro. Uma criança, por distração, uma desavençadoméstica, um bate-boca no trânsito e haverá um estrago em forma decrime ou de acidente. Ponto para quem é contra a venda de armas.Os cidadãos éticos, transparentes, republicanos, cumprirão a lei,jogarão fora a arma que compraram no passado e não mais a comprarão nofuturo. Literalmente desarmados, darão sopa aos bandidos quecontinuarão armados, eliminando a hipótese de uma reação por parte davítima. Ponto para quem é a favor da venda de armas.As duas hipóteses são óbvias, mas não é por aí que a onda da violênciae do crime acabará ou diminuirá. A droga é proibida. Uma vez ou outra,os traficantes são caçados e presos, mas o comércio e o uso da drogaaumentam -e todos sabemos que a droga, se não é a responsável única, édisparadamente a causa mais freqüente dos tiroteios, das balasperdidas e 80% dos assaltos nas ruas e residências são a fontepreferencial para os chamados pés-de-chinelo obterem recursos para usopróprio ou para o tráfico miúdo. O graúdo tem outra estrutura, nemprecisa de arma.Uma faca, um caco de vidro ou de lata de cerveja farão vítimas domesmo modo. A violência não está nas armas. Está em nós mesmos,culpados que sabem o que fazem, inocentes que não sabem o que fazer.
(*) Carlos Heitor Cony é cronista
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