:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

domingo, agosto 28, 2005

Orelhas de abano



(*) Diorindo Lopes Júnior

Sempre que eu ia a Pirajuí, meu primo Jorge me colocava no seu time de futebol. Não que eu fosse craque, mas tinha uma sorte...!
A bola resvalava em mim e entrava. Uma vez, tropecei na frente do gol e enfiei a cara na areia. Alguém chutou, a bola bateu em... em.. em meu traseiro e, como se fosse num morrinho artilheiro, encobriu o goleiro.
Meu primo Jorge jogava na defesa. Não era alto, mas suas generosas orelhas de abano espanavam qualquer cruzamento. Pegasse no gol, pareceria uma Kombi com as portas abertas olhada de frente.
Já contei: algumas pessoas roem as unhas quando ficam nervosas ou distraídas. Até uns vinte anos – quando fez a plástica –, meu primo Jorge era tão orelhudo que mordiscava os próprios lóbulos.
Foi por causa de suas orelhonas que conhecemos o Bugre. Era como chamavam um moleque do Mato Groso – que, na época, era um só – e morava com a mãe e os irmãos num casarão perto da estação de trens, onde tocavam um pequeno quiosque de comida pantaneira – deliciosa!
Parecia negro como meu avô, mas sua pele tinha um quê diferente. As feições lembravam as de um índio, mas seus olhos eram claros e os cabelos pretos bastante lisos. Era um pouco mais velho que a gente e falavam que seu pai tinha virado almoço de sucuri.
Uma tarde, voltávamos de uma pelada pela linha do trem, um imbecil tacou pedra num cacho de abelhas e o enxame nos atacou. Todo o bando levou alguma ferroada, mas as fartas orelhas de meu primo Jorge foram as que mais sofreram.
Na frente da estação, ainda esbaforido pela carreira, começou a ter convulsões e parou de respirar. Bugre entrou em ação: abriu-lhe a boca e esticou a língua para fora; estava bem inchada, tanto que não voltou para dentro. Com uma faca fina, cutucou as ferroadas e tirou bem uns cinco ou seis ferrões.
Dona Bugra, uma senhora bonitona, apareceu com álcool, que fez meu primo Jorge voltar a si, e uma garrafa de cachaça com mel (ou era própolis?) para aliviar a dor – não bebendo, mas passando nos machucados.
Reparei, mas fiquei quieto: com as orelhonas de abano inchadas, meu primo Jorge lembrava muito uma borboleta com as asas esticadas...

(*) Diorindo Lopes Júnior (www.diorindo.jor.br) é jornalista.

3 Comments:

Blogger Luiz Elias said...

Grande Diorindo!!!!

tuas histórias me inspiram a cada, embora eu tenha chegado a conclusão que definitivamente não sei escrever nesse teu estilo fabuloso apesar de admirar pra kct...

Como sempre, vc e o Jorge metidos em algum tipo de confusão, essa do bugre foi muito boa... Não fazia idéia que alguém pudesse ter as orelhas maiores que o meu pimo Ericson (quando erámos guris até falávamos que até de orelhão ele tinha nome...)

grande texto... fabuloso como sempre

Abraços

Luiz

domingo ago. 28, 08:56:00 da manhã 2005  
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segunda jul. 17, 10:36:00 da tarde 2006  
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