:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

domingo, outubro 23, 2005

30 anos sem Herzog

(*) Luiz Elias Miranda


Trinta anos atrás (1975, eu não era nem nascido) era assassinado pela ditadura num porão do DOI-CODI Vladmir Herzog, jornalista paulista filiado ao PC do B (Partido Comunista do Brasil), entre a imprensa nacional ele era uma das poucas vozesque ousava levantar-se contra os absurdos da ditadura que manteve o povo distante do poder por mais de vinte anos. Como resultado de sua coragem, Vladmir foi preso e finalmente assassinado. Quando a sua vúiva Clarisse (a mesma que e citado na música 'o bêbado e equilibrista' do João Bosco e Aldir Blanc) teve acesso ao laudo da autópsia chegou a conclusão que ele foi forjado de uma maneira ridícula que indicava um pretenso suicídio.
O assassinato de Herzog foi um passo importante para a redemocratização de nosso país, um verdadeiro herói que nos ensinou ( e ensina ainda hoje) a lutar por um país justo, democrático, que seja um lugar melhor para viver e, principalmente, livre.
Após sua morte, foi celebrado um imenso culto na praça da Sé (reunindo católicos, protestantes e judeus), todos estranharam a iniciativa do cardeal D. Paulo Evaristo Arns em celebrar esse culto em memória de Herzog visto que padres nunca celebram em sufrágio de mortos 'suicidas', com isso o recado foi dado e de onde Herzog estivesse, tenho plena convicção que estaria satisfeito, pois sua morte não foi em vão e a partir daquele momento seu país caminhava mais firmemente em direção à liberdade que se concretizaria com a eleição de Tancredo Neves em 1985.
(*) Luiz Elias é estudante de direito.

Armar, referendo e decisão

(*) Lédio Rosa de Andrade

Obrigados a votar, os eleitores devem decidir se vão referendar ou não a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003. Poucos sabem disto. Creio que o tema deve ser abordado em etapas: o problema da arma; a questão do referendo; e a decisão popular.
Primeiro, é de se indagar: por que há arma no mundo? Dois fatores destacam-se. Existe um forte desejo internalizado nos humanos pela violência e agressão. A bondade natural de nossa espécie é um mito. Nós gostamos de matar e ferir. A cultura é que segura este desejo. A arma foi inventada porque o corpo humano não possui armas naturais como garras, chifres, colmilhos, veneno e outras tantas. Com elas, completamos nosso corpo para o exercício eficaz da violência. Arma não proporciona paz, mas embate e guerra: individual, de grupos ou de Estados.
Em uma perspectiva ideal, quiçá um dia a cultura universal crie condições de proibir a fabricação de qualquer arma, permitindo que os conflitos sejam decididos corpo a corpo, ou fala a fala. Até lá, arma significa violência, mesmo em legítima defesa.
O referendo não proibirá a fabricação de armas. Elas continuarão a existir, com restrição de comércio. O problema não será extirpado. Então, para que mobilizar toda a população brasileira, efetuando uma votação nacional, com alto custo? Vejo, novamente, duas respostas. Trata-se, inicialmente, da função simbólica do Direito e da Política. Todo governo necessita convencer que funciona. Portanto, envolver toda a sociedade civil em um referendo cria a imagem de funcionamento eficaz da administração pública. Ademais, desvia-se a atenção da população de seus mais cruciais problemas ou dá-se a ela uma compreensão falsa deles.
Pensemos na identificação da violência brasileira às armas e não às desigualdades sociais, provocadas pelo perverso sistema econômico que temos. Ou, na criação de falsas certezas, como: a) pensar que as armas privadas irão compensar a ineficiência da polícia; b) identificar arma com defesa e não com agressão; c) pensar que, para os mais fortes, esta lei irá modificar alguma coisa; d) acreditar que não há tragédias maiores, como as provindas da fome, da falta de proteção no trabalho, das péssimas condições das estradas, todas por incompetência do Estado; e) que é a arma que puxa violência; e f) pensar que nos tirarão direitos no futuro, como se, há décadas, o parlamento não estivesse retirando direitos sociais, previdenciários, econômicos e trabalhistas, especialmente das classes trabalhadoras, com muitos poucos gritando: "E depois, que direito vão nos tirar?"
Com isto, vê-se que o referendo não trata de uma decisão popular sobre como, de fato, será nossa vida, mas, sim, de um cenário criado para mostrar o funcionamento de nossa democracia, mesmo não estando ela a funcionar em setores cruciais, como, haverei de repetir sempre, nas questões sociais, econômicas e todas outras que dizem respeito às bases da sociedade: sua indústria, seu comércio e sua agricultura.
Poderíamos fazer um referendo ou plebiscito, por exemplo, para decidir a questão dos juros, dos empréstimos internacionais, das leis trabalhistas, do acúmulo do capital, da remessa de lucros ao exterior, da concentração da propriedade privada, da distribuição de renda, das privatizações e tantas outras questões importantes para a nação. Mas estes temas, e muitos outros, estão vetados à decisão popular.
Votar sim, votar não, nada alterará a vida concreta dos brasileiros. Volta-me à mente Lampedusa, em sua obra O Leopardo: "Se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude
(*) Lédio Rosa de Andrade é juiz de direito em Tubarão (SC).

terça-feira, outubro 11, 2005

As armas e os varões

(*) Cerlos Heitor Cony

Não votarei no plebiscito sobre a proibição das armasde fogo. Se fosse obrigado ao voto, o anularia propositadamente, elucidamente. Trata-se de um escapismo, uma forma que a tal sociedadeética e transparente encontrou para, mais uma vez, empurrar com abarriga um dos problemas mais agudos de nosso tempo: a violência. Compequenas alterações, pode-se usar a comparação do termômetro.Proíba-se a compra e o uso dos termômetros e não haverá mais febre nopaís.Os dois lados da questão têm argumentos respeitáveis. A compra dearmas pode colocar um revólver na mesinha de cabeceira ou noporta-luvas do carro. Uma criança, por distração, uma desavençadoméstica, um bate-boca no trânsito e haverá um estrago em forma decrime ou de acidente. Ponto para quem é contra a venda de armas.Os cidadãos éticos, transparentes, republicanos, cumprirão a lei,jogarão fora a arma que compraram no passado e não mais a comprarão nofuturo. Literalmente desarmados, darão sopa aos bandidos quecontinuarão armados, eliminando a hipótese de uma reação por parte davítima. Ponto para quem é a favor da venda de armas.As duas hipóteses são óbvias, mas não é por aí que a onda da violênciae do crime acabará ou diminuirá. A droga é proibida. Uma vez ou outra,os traficantes são caçados e presos, mas o comércio e o uso da drogaaumentam -e todos sabemos que a droga, se não é a responsável única, édisparadamente a causa mais freqüente dos tiroteios, das balasperdidas e 80% dos assaltos nas ruas e residências são a fontepreferencial para os chamados pés-de-chinelo obterem recursos para usopróprio ou para o tráfico miúdo. O graúdo tem outra estrutura, nemprecisa de arma.Uma faca, um caco de vidro ou de lata de cerveja farão vítimas domesmo modo. A violência não está nas armas. Está em nós mesmos,culpados que sabem o que fazem, inocentes que não sabem o que fazer.
(*) Carlos Heitor Cony é cronista

segunda-feira, outubro 10, 2005

TV & mídia, uma relação promíscua


(*) Luiz Elias Miranda


A mídia sempre está ligada de alguma forma ao núcleo de poder de um país, a prova disso é que a maioria dos governos, logo que tomam posse, acham que vão manipular a mídia.
Em nosso país a mídia foi essencial em momentos cruciais de nossa história. O golpe militar foi a oportunidade de a rede globo firmar sua posição à direita e consolidar-se como a maior das formadoras de opinião entre os grupos de comunicação, o grupo de comunicação supracitado também teve um importante papel no período da redemocratização, afinal, quando ela percebeu que ficar ao lado dos militares não ‘dava mais futuro’, claro que ela apoiou o retorno dos civis ao poder e posteriormente derrubou Collor – o mesmo presidente que ajudou com um debate editado a pôr no palácio do planalto – com uma intensa campanha pela impeachment (ou vocês ainda acreditam que foram os ‘caras pintadas’ que derrubou o governo em 1992?).
Em certos momentos os governos chegam a manipular a mídia, acontece em vários momentos de nossa história, entretanto, esse domínio não dura para sempre, um governo sempre encontra oposição em algum grupo de mídia (qualquer que seja o tipo).
A verdade é que esta relação entre o poder e a mídia é algo muito estreito e profundo, afinal, sempre se encontra jornalistas e jornais (não só escritos) dispostos a publicar algo que seja favorável a um governo A ou B; o maior exemplo disto é a atual campanha pelo desarmamento, a rede globo tem feito uma intensa divulgação favorável ao SIM, inclusive engajando na campanha seu elenco classe A para que a população (que já é meio volúvel) seja mais facilmente influenciada.
Se você assiste um jornal de forma crítica, pode muito bem perceber que algumas matérias e pesquisas divulgadas em muitos meios de comunicação são totalmente tendenciosas, já cansei de ver matérias nos jornais televisivos que posteriormente, graças a uma informação vazada, foi descoberto havia sido aquela matéria sido comprado pelo governo de um certo país (calma, garanto que não são os EUA).
O mais provável é que não devemos confiar de maneira muito fiel nos meios de comunicação, necessitamos ser pessoas mais críticas. Nesta desconfiança reside o seguinte problema: como iremos nos informar se não pelos meios de comunicação suspeito que dispomos? Mesmo que um meio de comunicação não esteja noticiando nada de maneira tendenciosa, é impossível que um meio de comunicação transmita a informação de maneira 100% fiel à realidade.
Desta situação surge o dilema que expus acima: como nos informar se todos são suspeitos? Devemos nos abastecer de tantos meios for possível, tomando o cuidado de proceder uma “filtragem crítica” para nos desvencilharmos de todas as tendências e más intenções que algum meio de comunicação posa ter.


(*) Luiz Elias é estudante de direito e um leitor muito desconfiado. E-mail: luizelias_recht@yahoo.com.br

segunda-feira, outubro 03, 2005

Cidadão, defenda seu direito

(*) Luiz Antônio Fleury Filho
Parte significativa da população brasileira está sendo levada a crerque, se optar pelo "sim" no referendo do dia 23 de outubro, verá osíndices de criminalidade, principalmente nos grandes centros urbanos,despencarem no momento seguinte. É mais uma falácia que vem sendoperpetrada pelos defensores da proibição da venda legal de armas defogo e de munições no Brasil. Falácia porque depende de um argumentoque nem de longe se sustenta, o de que os criminosos também deixarãode comprar armas. E isso não vai acontecer, porque bandido não compraarma em loja!Se prevalecer o voto pela proibição do comércio legal de armas, é ocidadão comum, o homem de bem, quem perderá o direito de se defender ede proteger sua família e sua propriedade. Se ele se sentir inseguro,ameaçado, indefeso, não mais poderá adquirir, por meios legais, umaarma para ter em casa e assim exercer o direito fundamental à legítimadefesa, de forma a garantir a sua integridade física e moral até achegada da polícia (que, aliás, nem sempre chega a tempo).Uma informação que a população deve ter para que possa formar seujulgamento é a de que, no dia 23 de outubro, não votará pelaobrigatoriedade de comprar uma arma! Essa é outra confusão que vêmtentando criar entre aqueles que irão às urnas. Se prevalecer o "não",ou seja, se o comércio legal de armas de fogo e de munições continuarautorizado no Brasil, as pessoas não terão de sair de casa paraadquirir uma. Pelo contrário! Segundo as leis atuais, só pode ter nasua casa, loja ou sítio, por exemplo, quem comprovar a necessidade dese defender.Outro ponto importante a se considerar é que a proibição da venda dearmas de fogo e de munições poderá causar uma triste situação noBrasil: a privatização da segurança pública. Sim, porque poucosprivilegiados, uma pequena elite, podem pagar por segurança privada,enquanto que o brasileiro mais humilde terá de se fiar na polícia.Mais do que nunca o país terá duas classes de cidadãos, dessa vez os"com-segurança" e os "sem-segurança".Em 2001, quando fui relator do Estatuto do Desarmamento, defendi queapenas os trabalhadores de empresas de transporte de valores portassemarmas de fogo, para evitar que se criasse um novo monopólio no País, odas companhias de segurança. Infelizmente esse item foi derrubado, porcontrariar interesses poderosos.Volto a dizer que não defendo que cada um tenha em sua casa uma armanem que tenha o porte legal para poder transitar com ela. Aliás, mepermito fazer um parêntese: é inconcebível acreditar que a violênciano País seja gerada por quem tem arma registrada em casa, um númeroínfimo em relação ao total de domicílios brasileiros, apenas 3,5%. Porisso, defendo energicamente que cada um tenha o direito de escolher. Aproibição da venda legal, se acontecer, vai retirar do cidadão umdireito fundamental, o da legítima defesa.Nesse ponto, é imprescindível desfazer outra confusão, em muitoincentivada pelos defensores da proibição. O referendo de 23 deoutubro não se presta a confirmar ou rejeitar o Estatuto doDesarmamento. Ele já está em vigor há mais de um ano e tem dificultadoa compra legal de armas e quase impossibilitado o porte.Hoje, para comprar uma arma segundo as regras do estatuto, é precisoobter certidões, como a de antecedentes criminais, fazer exames(psicológico e de manuseio de armas) e pagar diversas taxas. Alémdesses requisitos, é imprescindível demonstrar a necessidade de teruma arma em casa. Tanto é difícil comprar uma que, em 2004, apenas1.044 foram vendidas em todo o Brasil, conforme relatório dafabricante Taurus enviado à Frente Parlamentar pelo Direito à LegítimaDefesa. Outro parêntese: quem já tem arma registrada perderá o direitoa mantê-la, porque a compra de munição também será proibida.Se não nos mobilizarmos para garantir que o direito do cidadão àlegítima defesa seja preservado, podemos desde já colar no portão denossas casas cartazes que informem aos bandidos que ali não existearma de fogo, que ali não encontrarão resistência alguma se quiseremfurtar, roubar, seqüestrar. Proibir a venda legal de armas de fogo ede munições nada mais é do que garantir aos bandidos condições ideaispara a prática de crimes. Nessa hipótese, só uma estratégia restará àpopulação indefesa: a torcida!
(*) Luiz Antônio Fleury Filho é deputado federal (PTB-SP) e ex-secretário de segurança pública do estado se São Paulo.