:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quarta-feira, abril 04, 2007

Homens em tempos sombrios

(*)Luiz Elias Miranda

Somos pessoas que vivem em tempos sombrios, apesar dessa frase para alguns estar até mesmo envolta de certo misticismo, presenciamos um momento único da história da humanidade, momento este que torço ser superado em breve, um dia espero contar a meus filhos os tempos sombrios que vivemos nesta época.

A meu ver, nunca na história da humanidade as liberdades mais fundamentais do ser humano estiveram tão ameaçadas, em outros tempos, muito sangue foi derramado em nome de preceitos fundamentais, certo é que estes ideais foram deturpados[1], transformados em novas formas de dominação, mas, a idéia originalmente era boa.

Mas, voltando ao tema principal, em outros tempos – iluminados ouso dizer – o sangue era derramado por idéias mais nobres, em nome da liberdade, da igualdade de todos, pelo fim dos privilégios, pela fraternidade dos povos. Hoje, tudo se inverteu, o sangue é derramado por motivos mesquinhos, o fim da guerra fria não marcou como o início de uma era de paz, foi só o início do agravamento de nossa era sombria, hoje o sangue é derramado por todos os ideais, menos aqueles fundantes do paradigma da sociedade ocidental pós-revolução francesa.

As idéias pelas quais se lutam hoje são as mais diversas possíveis, por serem metas execráveis, não podem ser confessadas as lutam para a manutenção de privilégios, negação da igualdade e destruição da fraternidade, excrescências são cometidas por estes ideais.

Escrevo este texto como um manifesto – ou até mesmo um desabafo – pelo que li no relatório da anistia internacional sobre a situação dos presos de Guantánamo, prisioneiros sem acusação, condenados previamente sem direito à defesa – como se pode ter defesa sem acusação formal? – com os direitos mais básicos negados, com sua dignidade de prisioneiros ignorada, torturados, mortos, tudo isso em nome da justiça e da liberdade, como pode ser uma coisa dessas? E tudo isso protagonizado pelo país que se intitula de maior defensor da liberdade, maior democracia do mundo...

Não posso aceitar esse cinismo em silêncio, não posso ser passivo à esta prevalência da razão cínica que cada dia torna-se mais e mais poderosa, cada dia escraviza mais pessoas e ilude outras tantas com seus chavões ideológicos.

Não posso ficar calado...

Realmente, somos homens em tempos sombrios.



[1] Sobre o fracasso dos ideais da ilustração, cf. ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento.

(*) Luiz Elias Miranda é acadêmico de Direito da UEPB Guarabira