¡Salve los gitanos! *
(*) Luiz Elias Miranda
Este ano de 2005 irá ser marcado por muitas comemorações, em especial nos Estados Unidos e na Europa. 2005 marca os sessenta anos do final da segunda guerra mundial (1939-1945) com a definitiva derrocada do nazi-fascismo; muitas pessoas (entre elas historiadores) quando falam sobre guerras, gostam de classificá-la como a mais sangrenta, desumana e brutal que já aconteceu na história humana. Os sessenta milhões de mortos contribuem muito para que muitas pessoas não contestem esta afirmação.
Mas não é sobre a II guerra mundial que quero falar. É sobre um acontecimento que marcou a guerra, o holocausto. Hoje em dia, quando falamos em holocausto, esta palavra é imediatamente associada aos judeus, afinal, cerca de seis milhões de vítimas tiveram o poder de marcar um povo (neste caso o judeu), um governo (o alemão) e esta prática (o assassinato em massa, numa escala quase industrial) acredito que para sempre.
Só que pelo significado próprio da palavra holocausto, ela não possui apenas a significância mais popular de nossos dias. Para falar a verdade, desde os antigos tempos a palavra holocausto era empregada para descrever cerimônias onde uma vítima era sacrificada e algumas vezes queimada. Apenas depois do fim da II guerra, quando a palavra holocausto foi associada à palavra “genocídio[1]”.
Para o povo judeu foi, se encararmos a situação sob um olhar um pouco diferente do usual, extremamente vantajoso ser considerado a principal vítima da matança empreendida pelo nazismo. Quando a guerra acabou e enquanto os aliados procuraram um jeito de manter uma paz (mesmo que armada) com a criação de órgãos como a OTAN (Organização do tratado do Atlântico Norte), a ONU e o Pacto de Varsóvia (no caso do bloco soviético); os judeus iam consolidando sua fama de perseguidos ajudados tanto por dados históricos (hoje é notório que em vários períodos, diversos governos perseguiram povos semitas, principalmente judeus), relatos feitos alta cúpula do regime nazista que estava sendo julgada em Nuremberg[2] e por filmes que tinham o objetivo de mostrar os horrores do nazismo, destes, o que alcançou maior fama foi o documentário feito pelo cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) e com esta fama de perseguidos conseguiram até ‘ganhar’ um país para que pudessem viver, mas esta é outra história.
Esta prática de associação (holocausto-judeus) é perigosa, ou melhor, é de certa forma incorreta. O fato de este povo ter sido o maior alvo deste regime de exceção não apaga da história as atrocidades cometidas pelos nazistas contra outras etnias.
O regime nazista eliminou sistematicamente todas as etnias que, ideologicamente, considerava inferiores ou que pessoas que ousassem fazer oposição a eles que levariam o povo germânico à glória. Um povo nunca, ou quase nunca lembrado por estudiosos ou pessoas comuns que acham a segunda guerra uma pauta interessante é brutal extermínio dos ciganos.
Ao contrário dos judeus, os ciganos não ganharam um Estado nem ficaram ricos como pessoas que conseguiram, por meios jurídicos, provar perseguições motivadas por razões ideológicas e ganharam indenizações pagas tanto pelo governo alemão e por empresas beneficiadas com o trabalho forçado nos campos de concentração.
A questão dos ciganos até hoje não foi resolvida. Atualmente, acredita-se que os ciganos sejam cerca de quinze milhões só na Europa para onde migraram provavelmente no século V d.C e são um grande problema para diversos países da “civilizada” Europa, a maioria dos países europeus não reconhece o direito dos ciganos e nem sequer reconhece sua existência. Na Alemanha mesmo eles sofrem grande discriminação; entre este grupo o desemprego, as taxas de analfabetismo e outros indicadores sócio-econômicos chegam a ser o dobro do resto do país. A França não dá muita importância para a questão dos ciganos, no restante do continente onde encontramos ciganos, a situação é semelhante.
Os ciganos sempre representaram uma enorme dor de cabeça para estes países. Para alguns setores conservadores da sociedade européia, os ciganos eram bárbaros que tinham o objetivo de perverter os bons costumes com sua cultura inferior, representavam a maldade e esperteza voltada para algum fim não benéfico.
Nunca nenhum estudioso conseguiu identificar de onde os ciganos vieram e porquê eles migraram para a Europa. Provavelmente eles saíram da Índia (alguns especialistas em lingüística perceberam a semelhança entre seus dialetos e alguns dos idiomas falados na península indiana) por causa da invasão muçulmana ao subcontinente indiano entre o século V e VI da era cristã. O mais marcante dos ciganos é sua coesão cultural bastante arraigada e seu sentido de grupo que tenta a todo custo resistir às discriminações e ao aculturamento baseado na conservação das tradições, que para eles têm um significado sagrado.
Bem que já está em hora de organizações não-governamentais, da ONU e dos governos de países que abrigam ciganos deixarem de ignorá-los e comecem a buscar soluções para este problema latente antes que a humanidade perca uma de suas mais ricas culturas.
*Salvem os ciganos.
[1] Palavra proferida pela primeira vez na conferência de Potsdam (julho-agosto de 1945), cunhada por especialistas em direito internacional.
[2] Tribunal de guerra criado em 1948 pelos aliados com o fim de punir os responsáveis pelos crimes contra a humanidade praticados pelos nazistas.
Este ano de 2005 irá ser marcado por muitas comemorações, em especial nos Estados Unidos e na Europa. 2005 marca os sessenta anos do final da segunda guerra mundial (1939-1945) com a definitiva derrocada do nazi-fascismo; muitas pessoas (entre elas historiadores) quando falam sobre guerras, gostam de classificá-la como a mais sangrenta, desumana e brutal que já aconteceu na história humana. Os sessenta milhões de mortos contribuem muito para que muitas pessoas não contestem esta afirmação.
Mas não é sobre a II guerra mundial que quero falar. É sobre um acontecimento que marcou a guerra, o holocausto. Hoje em dia, quando falamos em holocausto, esta palavra é imediatamente associada aos judeus, afinal, cerca de seis milhões de vítimas tiveram o poder de marcar um povo (neste caso o judeu), um governo (o alemão) e esta prática (o assassinato em massa, numa escala quase industrial) acredito que para sempre.
Só que pelo significado próprio da palavra holocausto, ela não possui apenas a significância mais popular de nossos dias. Para falar a verdade, desde os antigos tempos a palavra holocausto era empregada para descrever cerimônias onde uma vítima era sacrificada e algumas vezes queimada. Apenas depois do fim da II guerra, quando a palavra holocausto foi associada à palavra “genocídio[1]”.
Para o povo judeu foi, se encararmos a situação sob um olhar um pouco diferente do usual, extremamente vantajoso ser considerado a principal vítima da matança empreendida pelo nazismo. Quando a guerra acabou e enquanto os aliados procuraram um jeito de manter uma paz (mesmo que armada) com a criação de órgãos como a OTAN (Organização do tratado do Atlântico Norte), a ONU e o Pacto de Varsóvia (no caso do bloco soviético); os judeus iam consolidando sua fama de perseguidos ajudados tanto por dados históricos (hoje é notório que em vários períodos, diversos governos perseguiram povos semitas, principalmente judeus), relatos feitos alta cúpula do regime nazista que estava sendo julgada em Nuremberg[2] e por filmes que tinham o objetivo de mostrar os horrores do nazismo, destes, o que alcançou maior fama foi o documentário feito pelo cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) e com esta fama de perseguidos conseguiram até ‘ganhar’ um país para que pudessem viver, mas esta é outra história.
Esta prática de associação (holocausto-judeus) é perigosa, ou melhor, é de certa forma incorreta. O fato de este povo ter sido o maior alvo deste regime de exceção não apaga da história as atrocidades cometidas pelos nazistas contra outras etnias.
O regime nazista eliminou sistematicamente todas as etnias que, ideologicamente, considerava inferiores ou que pessoas que ousassem fazer oposição a eles que levariam o povo germânico à glória. Um povo nunca, ou quase nunca lembrado por estudiosos ou pessoas comuns que acham a segunda guerra uma pauta interessante é brutal extermínio dos ciganos.
Ao contrário dos judeus, os ciganos não ganharam um Estado nem ficaram ricos como pessoas que conseguiram, por meios jurídicos, provar perseguições motivadas por razões ideológicas e ganharam indenizações pagas tanto pelo governo alemão e por empresas beneficiadas com o trabalho forçado nos campos de concentração.
A questão dos ciganos até hoje não foi resolvida. Atualmente, acredita-se que os ciganos sejam cerca de quinze milhões só na Europa para onde migraram provavelmente no século V d.C e são um grande problema para diversos países da “civilizada” Europa, a maioria dos países europeus não reconhece o direito dos ciganos e nem sequer reconhece sua existência. Na Alemanha mesmo eles sofrem grande discriminação; entre este grupo o desemprego, as taxas de analfabetismo e outros indicadores sócio-econômicos chegam a ser o dobro do resto do país. A França não dá muita importância para a questão dos ciganos, no restante do continente onde encontramos ciganos, a situação é semelhante.
Os ciganos sempre representaram uma enorme dor de cabeça para estes países. Para alguns setores conservadores da sociedade européia, os ciganos eram bárbaros que tinham o objetivo de perverter os bons costumes com sua cultura inferior, representavam a maldade e esperteza voltada para algum fim não benéfico.
Nunca nenhum estudioso conseguiu identificar de onde os ciganos vieram e porquê eles migraram para a Europa. Provavelmente eles saíram da Índia (alguns especialistas em lingüística perceberam a semelhança entre seus dialetos e alguns dos idiomas falados na península indiana) por causa da invasão muçulmana ao subcontinente indiano entre o século V e VI da era cristã. O mais marcante dos ciganos é sua coesão cultural bastante arraigada e seu sentido de grupo que tenta a todo custo resistir às discriminações e ao aculturamento baseado na conservação das tradições, que para eles têm um significado sagrado.
Bem que já está em hora de organizações não-governamentais, da ONU e dos governos de países que abrigam ciganos deixarem de ignorá-los e comecem a buscar soluções para este problema latente antes que a humanidade perca uma de suas mais ricas culturas.
*Salvem os ciganos.
[1] Palavra proferida pela primeira vez na conferência de Potsdam (julho-agosto de 1945), cunhada por especialistas em direito internacional.
[2] Tribunal de guerra criado em 1948 pelos aliados com o fim de punir os responsáveis pelos crimes contra a humanidade praticados pelos nazistas.
(*) Luiz Elias é estudante do curso de direito pela Universidade Estadual da Paraíba.
e-mail: miranda_pb@hotmail.com
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