:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

¡Salve los gitanos! *

(*) Luiz Elias Miranda



Este ano de 2005 irá ser marcado por muitas comemorações, em especial nos Estados Unidos e na Europa. 2005 marca os sessenta anos do final da segunda guerra mundial (1939-1945) com a definitiva derrocada do nazi-fascismo; muitas pessoas (entre elas historiadores) quando falam sobre guerras, gostam de classificá-la como a mais sangrenta, desumana e brutal que já aconteceu na história humana. Os sessenta milhões de mortos contribuem muito para que muitas pessoas não contestem esta afirmação.
Mas não é sobre a II guerra mundial que quero falar. É sobre um acontecimento que marcou a guerra, o holocausto. Hoje em dia, quando falamos em holocausto, esta palavra é imediatamente associada aos judeus, afinal, cerca de seis milhões de vítimas tiveram o poder de marcar um povo (neste caso o judeu), um governo (o alemão) e esta prática (o assassinato em massa, numa escala quase industrial) acredito que para sempre.
Só que pelo significado próprio da palavra holocausto, ela não possui apenas a significância mais popular de nossos dias. Para falar a verdade, desde os antigos tempos a palavra holocausto era empregada para descrever cerimônias onde uma vítima era sacrificada e algumas vezes queimada. Apenas depois do fim da II guerra, quando a palavra holocausto foi associada à palavra “genocídio[1]”.
Para o povo judeu foi, se encararmos a situação sob um olhar um pouco diferente do usual, extremamente vantajoso ser considerado a principal vítima da matança empreendida pelo nazismo. Quando a guerra acabou e enquanto os aliados procuraram um jeito de manter uma paz (mesmo que armada) com a criação de órgãos como a OTAN (Organização do tratado do Atlântico Norte), a ONU e o Pacto de Varsóvia (no caso do bloco soviético); os judeus iam consolidando sua fama de perseguidos ajudados tanto por dados históricos (hoje é notório que em vários períodos, diversos governos perseguiram povos semitas, principalmente judeus), relatos feitos alta cúpula do regime nazista que estava sendo julgada em Nuremberg[2] e por filmes que tinham o objetivo de mostrar os horrores do nazismo, destes, o que alcançou maior fama foi o documentário feito pelo cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980) e com esta fama de perseguidos conseguiram até ‘ganhar’ um país para que pudessem viver, mas esta é outra história.
Esta prática de associação (holocausto-judeus) é perigosa, ou melhor, é de certa forma incorreta. O fato de este povo ter sido o maior alvo deste regime de exceção não apaga da história as atrocidades cometidas pelos nazistas contra outras etnias.
O regime nazista eliminou sistematicamente todas as etnias que, ideologicamente, considerava inferiores ou que pessoas que ousassem fazer oposição a eles que levariam o povo germânico à glória. Um povo nunca, ou quase nunca lembrado por estudiosos ou pessoas comuns que acham a segunda guerra uma pauta interessante é brutal extermínio dos ciganos.
Ao contrário dos judeus, os ciganos não ganharam um Estado nem ficaram ricos como pessoas que conseguiram, por meios jurídicos, provar perseguições motivadas por razões ideológicas e ganharam indenizações pagas tanto pelo governo alemão e por empresas beneficiadas com o trabalho forçado nos campos de concentração.
A questão dos ciganos até hoje não foi resolvida. Atualmente, acredita-se que os ciganos sejam cerca de quinze milhões só na Europa para onde migraram provavelmente no século V d.C e são um grande problema para diversos países da “civilizada” Europa, a maioria dos países europeus não reconhece o direito dos ciganos e nem sequer reconhece sua existência. Na Alemanha mesmo eles sofrem grande discriminação; entre este grupo o desemprego, as taxas de analfabetismo e outros indicadores sócio-econômicos chegam a ser o dobro do resto do país. A França não dá muita importância para a questão dos ciganos, no restante do continente onde encontramos ciganos, a situação é semelhante.
Os ciganos sempre representaram uma enorme dor de cabeça para estes países. Para alguns setores conservadores da sociedade européia, os ciganos eram bárbaros que tinham o objetivo de perverter os bons costumes com sua cultura inferior, representavam a maldade e esperteza voltada para algum fim não benéfico.
Nunca nenhum estudioso conseguiu identificar de onde os ciganos vieram e porquê eles migraram para a Europa. Provavelmente eles saíram da Índia (alguns especialistas em lingüística perceberam a semelhança entre seus dialetos e alguns dos idiomas falados na península indiana) por causa da invasão muçulmana ao subcontinente indiano entre o século V e VI da era cristã. O mais marcante dos ciganos é sua coesão cultural bastante arraigada e seu sentido de grupo que tenta a todo custo resistir às discriminações e ao aculturamento baseado na conservação das tradições, que para eles têm um significado sagrado.
Bem que já está em hora de organizações não-governamentais, da ONU e dos governos de países que abrigam ciganos deixarem de ignorá-los e comecem a buscar soluções para este problema latente antes que a humanidade perca uma de suas mais ricas culturas.


*Salvem os ciganos.

[1] Palavra proferida pela primeira vez na conferência de Potsdam (julho-agosto de 1945), cunhada por especialistas em direito internacional.
[2] Tribunal de guerra criado em 1948 pelos aliados com o fim de punir os responsáveis pelos crimes contra a humanidade praticados pelos nazistas.
(*) Luiz Elias é estudante do curso de direito pela Universidade Estadual da Paraíba.