:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

terça-feira, fevereiro 08, 2005

Entrevista com Rogério Greco

Para quem não o conhece, ele é atualmente uma das maiores autoridades no Brasil; juntamente com os professores Damásio de Jesus, Luiz Flávio Gomes e Fernando Capez; em se tratando de criminologia, direitos humanos ou qualquer tema relacionado à legislação penal. Advogado, professor, torcedor do flamengo (para minha decepção) e evangélico devotado, foi muito acessível concedendo-nos esta entrevista.


FNM: Já que nosso trabalho direciona-se principalmente para os jovens, antes de começarmos “pra valer”, nos fale de sua opção pelo ramo jurídico, como a escolha foi feita?

RG: Na verdade, quando ingressei na faculdade, aos 18 anos de idade, era muito imaturo e não tinha, ainda, convicção do curso escolhido. Com o tempo, percebi que a escolha tinha sido acertada.

FNM: Tocando no assunto de estudo e formação superior, o senhor já tem alguma opinião formada sobre a reforma universitária e as cotas para negros, descendentes indígenas e outras reformas do ensino que o governo federal tentar realizar?

RG: Toda vez que se fala em quotas, seja para negros ou descendentes de indígenas, estamos diante de uma confissão de desigualdade social, feita pelo próprio Estado, que demonstra a sua incapacidade na gestão da coisa pública, não fornecendo à população em geral um ensino digno e capaz de fazer com que haja uma concorrência com igualdade de condições. Como a escola pública é sucateada, a “solução” e a determinação de quotas.

FNM: Acerca deste ciclo de reformas empreendidas por Lula desde que chegou ao poder, algumas não bem sucedidas como a da previdenciária e a tributária, o que o senhor achou da reforma do poder judiciário? É favorável ao polêmico “controle externo?”.

RG: Toda reforma envolve polêmica, porque o novo assusta. Não vejo problema no controle externo, seja do Ministério Público ou do Judiciário. Não havendo interferências em nossas posições pessoais, em nossas fundamentadas convicções, o controle administrativo, certamente, evitará o corporativismo.

FNM: Ainda acerca da reforma do judiciário, o senhor acredita que a súmula vinculante configura-se como um atraso ou um marco na história judiciária do país?

RG: Existem muitas súmulas editadas pelos Tribunais Superiores que são contra legem (contra a lei). No entanto, existem decisões já pacificadas, onde as partes recorrem somente para se ganhar tempo, em detrimento da Justiça. Para eles, a súmula terá uma importância fundamental. Não podemos esquecer que o Estado é o maior “cliente” do Judiciário, sendo um dos grandes responsáveis pelo número enorme de processos aguardando julgamento de questões já pacificadas.

FNM: Nosso atual código penal é de 1940, já não seria mais que na hora de uma reforma ou até mesmo um novo código penal já que vivemos numa época de polêmica quanto à legislação penal?

RG: A parte geral do nosso Código Penal, reforma em 1984, na minha opinião, é muito boa. A parte especial necessita ser reformada, com a abolição de infrações penais já ultrapassadas, bem como com a inserção de novos delitos, criados pela modernidade.

FNM: Nosso país vive um momento bastante delicado, a criminalidade sobe a cada dia, seria o momento exato da lei penal tornar-se mais severa?

RG: Já está demonstrado que não é através do recrudescimento das leis penais que o problema da criminalidade será resolvido. Na maior parte dos casos, estamos diante de crimes contra o patrimônio, cuja origem está na ausência do Estado Social. Quando o Estado resolver assumir o seu papel, certamente o índice de criminalidade diminuirá, sem que seja preciso modificar qualquer lei penal.

FNM: O ser humano sempre tem o péssimo hábito de culpar alguém ou algo pelas coisas ruins que acontecem. Para não fugir desta sina, o que o senhor como culpa do aumento exacerbado da criminalidade no Brasil?

RG: O aumento da criminalidade, como afirmei anteriormente, é devido a ausência do Estado Social, que se transformou em um Estado Penal.

FNM: O senhor acha que há alguma solução a médio ou a longo prazo?

RG: O primeiro passo é tentar diminuir, ao máximo, a corrupção no país. Os bandidos de colarinho branco são verdadeiros genocidas, e responsáveis, juntamente com a Administração Pública, pelo caos social.

FNM: No processo de combate à criminalidade, que papel a família e a escola e os professores têm?

RG: A família e a escola formam a base da sociedade, e têm uma importância fundamental no combate à criminalidade, como já demonstraram as pesquisas realizadas no âmbito da criminologia.

FNM: Já que estamos tratando de problemas relacionados à realidade brasileira, o sistema penitenciário também é uma mazela latente de nosso Estado. O senhor seria favorável ao tratamento penal alternativo para as penas mais leves já que os presídios funcionam como verdadeiras “universidades do crime”, como já chegou a afirmar o professor capixaba João Baptista Herkenhoff?

RG: Na verdade, o ideal seria a conjugação da penas alternativas para as infrações leves e médias, e a completa revogação daquelas que não possuem relevância social, a exemplo do que ocorre com muitas contravenções penais, que somente tomam tempo da Justiça, que poderia estar se dedicando a apuração de delitos realmente graves.


FNM: Ainda sobre o sistema prisional, já que algumas vezes a administração pública é omissa, entidades diversas do chamado “terceiro setor” militam e atuam em favor das causas dos “cidadãos de terceira classe” que estão privados de sua liberdade. Como o senhor avalia a atuação dessas entidades como a pastoral carcerária que é ligada à igreja católica?

RG: Qualquer intervenção no sentido de fazer com que os direitos humanos sejam preservados é bem vinda.

FNM: O discurso do PT tem mudado muito de 1980 até o presente momento. Como o senhor poderia avaliar o desempenho do PT nessa sua primeira vez no governo federal sem estar na oposição?

RG: É muito fácil criticar, apontando os erros e sugerindo soluções, quando não se tem o poder para resolver os problemas sociais. Agora que o PT detém o poder, por melhores que sejam as suas intenções, certamente não conseguirá resolver todos eles, podendo, no entanto, minimizar o caos social.

FNM: Muitos observam que a criminalidade tem como uma de suas raízes as disparidades sociais, que em nosso país são gigantescas, uma melhor distribuição de renda seria o primeiro passo da diminuição dos atuais índices de criminalidade?

RG: Com certeza uma melhor distribuição de rendas faria com que houvesse uma diminuição na criminalidade, principalmente naquelas ligadas ao patrimônio.

FNM: Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso as campanhas de prevenção às drogas têm-se intensificado. O senhor é favorável à legalização do consumo de tóxicos ou acredita que os consumidores apenas alimentam o tráfico, e este, por sua vez, financia diversas atividades criminosas?

RG: Não acredito na legalização do uso de drogas. No entanto, teríamos que pensar em soluções realmente eficazes para o tratamento do viciado.

FNM: Já que estamos no campo penal, desde 1992, com os escândalos que levaram ao impeachment de Fernando Collor de Mello, a investigação dos “anões do orçamento”, o golpe dado por Georgina de Freitas no INSS e o recente caso de venda de sentenças do juiz federal Rocha Matos, o senhor acredita que os três poderes estão mais transparentes e que a opinião pública está mais vigilante e atenta à transparência dos membros dos três poderes no exercício de suas funções?

RG: Com a queda do regime militar, tudo ficou mais transparente. Aquilo que acontecia às ocultas, agora é trazido à luz. A imprensa, hoje, tem um papel fundamental, auxiliando, muitas vezes a descoberta de fatos criminosos até então não investigados.

FNM: O ministério público é uma das instituições mais importantes, e mais atuantes, de nossa sociedade. Após a grande autonomia que lhe foi dada com a constituição de 1988, agora querem limitar esta independência e sua liberdade de ação. O senhor acredita ser acertada esta decisão que há alguns anos polemiza opiniões que pretende retirar certa parte desta autonomia do ministério público?

RG: Talvez o Ministério Público seja, hoje, uma das instituições de maior credibilidade no país. O poder que foi dado ao MP pela Constituição Federal de 1988 tem sido revertido em favor da sociedade. Assim, somente aqueles que temem o Ministério Público têm, realmente, interesse na diminuição de seus poderes constitucionais.

FNM: Muitas pessoas mostram-se favoráveis à adoção da pena de morte em nosso país. Apesar de nossa constituição deixar expressamente claro que não pode haver nenhuma lei que trate sobre a pena capital, o senhor acha que poderia ser uma saída, a curto prazo, para a intimidação dos criminosos em potencial?

RG: Não. Nos EUA fizeram uma pesquisa nos estados que aboliram e nos outros que criaram a pena de morte, e não houve qualquer diminuição nos índices de criminalidade grave naqueles que a mantiveram. Portanto, não se pode afirmar que a pena de morte tem o poder de intimidar os criminosos.

FNM: Recentemente, encerramos, embora algumas cidades ainda estejam realizando eleições, mais um bem-sucedido (ou quase) processo eleitoral. O senhor acredita na democracia?

RG: Acredito na democracia, pois a liberdade é inerente ao ser humano.

FNM: Sempre que conhece um intelectual, a dúvida quase que automática é de que se ele é adepto de alguma corrente de pensamento. O senhor é adepto de alguma dessas correntes de pensamento ou de alguma ideologia?

RG: Não. Na verdade, sou fiel aos pensamentos de Jesus Cristo. Se as pessoas conhecessem a Palavra de Deus, o mundo seria muito melhor.

FNM: Já que estamos falando com um jurista, nos últimos anos ocorreu uma explosão de bacharéis, mas, embora haja muitas faculdades, o índice de alunos reprovados no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) atesta que o nível de ensino oferecido nas faculdades não é bom. O senhor imaginaria alguma solução para mais este problema? Seria correto limitar a abertura dos cursos?

RG: Acredito que não exista corpo docente suficiente para todas as faculdades. Dessa forma, o ensino fica prejudicado e, conseqüentemente, isso se reflete no exame da OAB.

FNM: Agora, saindo destes assuntos mais sérios, o senhor tem algum hobby?

RG: Tenho alguns. Gosto muito de tocar bateria. Tenho participado, algumas vezes, de um grupo de louvor e adoração na Igreja onde congrego. Já gravamos até um CD, para distribuirmos gratuitamente aos amigos.


FNM: Como uma grande parte dos brasileiros gosta de futebol, o senhor torce ou tem afinidade com algum clube brasileiro?

RG: Sou flamenguista. Quando morava no Rio, participava de torcida organizada. Era um pouco fanático por futebol. Hoje não me importo muito. Só fico realmente chateado com a derrota é para o Vasco (não sei se você já ouviu falar nesse time?).

FNM: Tem alguma pessoa que o senhor admira? Quem são?

RG: Sim, Jesus Cristo. Depois que descobri que Jesus está vivo, a minha vida foi completamente modificada. Com certeza, hoje, ele é o meu melhor amigo.

FNM: As músicas que fazem sucesso entre os jovens, como o funk carioca, fazem apologia à violência e à vulgaridade sexual. O senhor acredita que estas músicas influenciam os jovens?

RG: A música tem o poder de influenciar as pessoas tanto para o bem, quanto para o mal.

FNM: A música brasileira é elogiada por diversos artistas estrangeiros. Nos últimos anos, com o ciclo do pagode, axé e do funk não parece que entramos num processo de decadência?

RG: Gosto da música brasileira. Atualmente, só escuto música gospel.

FNM: Já que entramos nesta “seara cultural”, quem, na opinião do senhor, está fazendo boa literatura e boa música em nosso país?

RG: Não gostaria de citar nomes, pois é arriscado esquecer de alguém tão bom ou melhor do que aqueles que foram citados.

FNM: Finalizando esta entrevista, queremos agradecer à boa vontade e disposição do senhor. O senhor teria algo mais a acrescentar ou uma mensagem para as pessoas que acessam nosso site e estão lendo sua entrevista?

RG: Gostaria que as pessoas tivessem tempo e curiosidade de ler a Bíblia. É um livro maravilhoso, enriquecedor. Ele mudou a minha vida.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

meu querido Elias, cada vez vc me impressiona mais com a qualidade dos seus trabalhos apresentados aqui no blog.Pontanto nunca duvide de que estou torcendo sempre por vc e acredito muito no seu sucesso!
um grande bjo da sua tia Graça.

quinta fev. 24, 05:49:00 da tarde 2005  
Anonymous Anónimo said...

Já tinhamos conversado sobre a hipótese desta entrevista, Elias, e me lembro do seu semblante ancioso a espera de uma resposta. Rogério Greco foi bastante simpático e atencioso ao atender o pedido de responder a tais perguntas e enviá-las,diga-se de passagem com uma rapidez inesperada.
Esse foi um grande passo que vc deu. Nunca duvidei de sua capacidade de alcançar seus objetivos e continuo a botar muita fé no seu talento profissional. De repente vc uma dia será reverenciado como um de nossos adorados "salves". Falando nisso vou tentar negociar a entrevista com eles neh...vou indo la!
Parabéns "Ilhias"!!!!!!!!
Gio

quinta fev. 24, 06:00:00 da tarde 2005  

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