:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, março 04, 2006

A SA petista está de volta

(*)Reinaldo Azevedo

José Dirceu é um homem de muitas faces, como sabemos. Deu início a mais uma. Agora, é articulista do Jornal do Brasil. Fui brindado com referências em um artigo seu chamado Esquerda, volver. A resposta já está prontinha, eu lhes garanto. Publico na próxima edição. Primeira Leitura, com efeito, incomoda os petistas. Acompanhem.
Começo afirmando que “Eles” estão de volta. Durante um bom tempo, a Tropa de Assalto do PT (“SA”, na sigla em alemão) andava um pouco envergonhada. Ora, perder a vergonha era questão de tempo. Bastou o Apedeuta melhorar seu desempenho nas pesquisas, e a canalha se assanhou: violentos, com o dedo em riste, ameaçadores, torcendo pela volta da censura, vendo fantasmas em todo canto, dispostos à ação direta. Os e-mails me chegam aos montes. Poderia ser tudo apenas obra do apparatchik, aquela militância burra, que os dirigentes costumam usar e depois tratar com um pé no traseiro. Mas vai um pouco além.
O PT, sob Ricardo Barzoini, também se rebaixou — e nem poderia ser diferente. No site do partido, uma certa Rosana Ramos, que se diz jornalista, ataca Veja e Primeira Leitura e, no nosso caso, acusa-nos de integrar a “black propaganda da CIA”, reafirmando os termos de Moniz Bandeira para classificar a revista deste site.
O artigo é um primor. A autora dá a entender que leu em inglês o livro Inside the Company – CIA Diary, de um maluco chamado Philip Agee, onde aparece a tal categoria. Logo de cara, dispara: “Dois episódios recentes, envolvendo as revistas Primeira Leitura e Veja (...) recolocam a questão do porquê (sic) a esquerda não possui instrumentos de comunicação capazes de enfrentar a ideologia dominante e construir uma nova hegemonia.” Se leu mesmo a obra em inglês, aquele “porquê” deixa entrever a suspeita de analfabetismo em português. Entendo, Rosana: em Roma, como os romanos. Não há razão para sua gramática ser melhor do que o seu pensamento. Quem gosta do que você escreve merece ler o que lê. Você tem leitores à altura, e eles, uma pensadora que os honra.
É claro que não vou entrar no mérito do que diz esta coitada. Até porque é visível que ela só está em busca de um emprego. Quero é tratar com Dirceu, amanhã... No momento mais iluminado de sua peroração, onde a leveza das idéias se casa à perfeição com a graça do estilo, ela estraçalha: “Um governo de esquerda deve fomentar o desenvolvimento de veículos alternativos como rádios comunitárias e canais de televisão ligados ao governo e aos movimentos sociais.” A coisa fala por si.
Grave não é haver quem pense assim. Grave é que tal pensamento seja abrigado no site do ainda maior partido do país e integre, pois, o conjunto de textos de referência a nortear o comportamento da militância. Segundo entendo, ela é um quadro do PT que se ocupa dessa área. Se a legenda abriga a peça em seu site, é sinal de que a tem como digna de consideração.
É evidente que os petistas que estão no poder olham para gente como Rosana com aquele desprezo que a elite nazista tinha por Ernst Röhm e sua SA, a tropa de assalto que serviu a Hitler, mas que se tornou desnecessária e até perigosa em 1934. No poder, à sua maneira, Lula executou a sua “Noite dos Longos Punhais” e massacrou seus radicais. Estudem esse capítulo do nazismo. É fascinante. O facínora não se livrou de Röhm porque deplorasse suas convicções, e sim porque queria mais método na loucura homicida.
Como o PT quebrou a cara, a SA, que Berzoini ironizava quando ministro da Previdência e tratava com solene desprezo, é chamada para agitar bandeiras e fazer o trabalho de proselitismo. Dirceu, vocês verão na próxima edição, candidata-se a ser o Röhm da hora. Se preciso, a tropa será estimulada a partir para a ação direta. É claro que, se Rosana pudesse ou lhe fosse facultado, sairia por aí empastelando a “imprensa burguesa”. Imaginem que a preclara se atreve a incluir a revista Primeira Leitura, com uma tiragem de 25 mil exemplares, entre os “grandes meios de comunicação de massa”. Grande no coração, moça, no coração...
Se Lula for reeleito, a SA será expulsa ou encostada, contentando-se com relatórios sobre a “mídia burguesa” cheios de baba hidrófoba. Em vez da rede alternativa de comunicação pretendida por Rosana, o governo optará por tentar comprar aquela que já existe, apelando à convergência de interesses entre os “patrões de direita” (como diria a nossa militante) e o governo “de esquerda”. Nada muito diferente do que está em curso hoje. Rosana ou é burra ou é injusta com os seus chefes. Eles estão fazendo tudo direitinho. Tanto estão que o candidato do partido que comandou o maior esquema de corrupção da história do país é o favorito, hoje, para as eleições de outubro.
É que a menina (?) acha pouco e está doida para oferecer os seus préstimos. Acredita que pode reprimir e discriminar com mais eficiência do que os atuais líderes do partido. Tem a mesma natureza daqueles que propuseram o Conselho Federal de Jornalismo. De certo modo, em meio ao flagelo que é o PT, não deixa de ser uma sorte que os sindicalistas devotem aos “intelectuais” da SA o desprezo que devotam. Como Sartre deixou claro na peça As Mãos Sujas, ninguém está mais talhado para cometer um crime do que um intelectual de esquerda. Sartre escreveu a peça antes de se tornar um stalinista gagá. Mas não se anime, Rosana: eu não a estou classificando de “intelectual”. Digamos que você é a intelectual possível no PT de hoje.
DireitaUm querido amigo me ligou uma noite destas. Tivemos conversas variando do ameno ao muito grave sobre o Brasil, o mundo, a natureza humana, a melhor disposição para acomodar os móveis da sala. Num dado momento, ele me disse que os meus textos estavam “muito direitistas” e que era preciso moderar. E evocou a avaliação coincidente de duas outras pessoas pelas quais tenho respeito intelectual. Poucas inteligências vivas me interessam. As pessoas em questão se incluem nesse grupo seleto. Fiquei cá a pensar com os meus botões e brocados de conservadorismo, estes que me enfeitam a alma e tornam meus textos objeto da fúria de alguns e do apreço de outros — nesse último caso, há quem os tenha quase como tábua de salvação: é como se eu tirasse essas pessoas da solidão.
Este meu amigo está à minha esquerda em muita coisa, embora Rosana certamente o tivesse como mais um membro da “black propaganda” da CIA. A distinção entre direita e esquerda, dizem alguns, caiu na obsolescência. É curioso que os que fazem tal observação sejam, na totalidade dos casos, tachados de “direitistas” pelos esquerdistas. O resumo é o seguinte: uma pessoa de esquerda não teme dizer a sua filiação ideológica porque a supõe legitimada por seus bons sentimentos. Já um não-esquerdista, sob o risco de cair vítima do estigma, tenta desesperadamente eliminar a categorização para ver se consegue salvar a sua alma.
Não tenho qualquer receio dessa classificação. E, se querem saber, esse tipo de porfia é um pouco cansativa. O medo da patrulha, está claro, é que pauta a opinião da maioria silenciosa. Há dias, o Estadão, antes satanizado nas escolas de jornalismo como símbolo do pensamento conservador, quem sabe reacionário, fez um editorial sobre a controversa decisão do STF que, na prática, elimina a categoria dos crimes hediondos. Seu desdobramento prático pode ser a libertação de alguns milhares de criminosos perigosos. Notava-se o desconforto no texto. Mas não era menor a sua preocupação em não parecer histérico e contrário ao politicamente correto no caso. E o que é, no caso, o politicamente correto? Acatar o princípio da progressão da pena.Ai daquele que disser o óbvio no meio do salão: a violência não faz senão crescer no Brasil; a impunidade é um acinte à cidadania brasileira; o investimento federal em segurança público é pífio; a burocracia judiciária torna o cidadão comum refém do crime organizado, e a mais alta corte do país faz o quê? Ora, ocupa-se de, na prática, aumentar a insegurança do indivíduo que trabalha e paga seus impostos. Dizê-lo passa a ser uma ofensa, uma manifestação óbvia de atraso e, pois, de reacionarismo. Não haverá um só político de respeito a se levantar contra a medida. A reação ficará por conta daqueles que fazem o discurso do medo. Ou seja: a covardia dos homens de bem, temerosos da patrulha da esquerda, entrega uma causa justa na mão de demagogos. É assim que um país vai para o brejo. Afinal, não é?, tememos todos ser de direita. Todos queremos agradar aos furores íntimos de gente como a tal Rosana sei lá das quantas.Dirceu de novo E do que me acusa, e a outros, José Dirceu, o ex-condestável da República? Justamente de “direitismo”. Sim, o homem cassado pela Câmara por quebra de decoro parlamentar resolveu pegar no meu pé. Vocês vão ter de esperar. Trato dele na próxima edição, agora que ele assumiu uma nova face. Certamente tão moral quanto as outras
(*)Reinaldo Azevedo é jornalista. www.primeiraleitura.com.br