:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, março 04, 2006

De fantasmas e cadáveres

(*)Diorindo Lopes Jr.
Uma conhecida, pessoa muito afeita a tragédias e à procura de pêlos em ovos e chifres em cabeças de cavalo, volta e meia se diz muito preocupada com a minha vida solitária. Vive sugerindo promover encontros meus com conhecidas solteironas ou descasadas.
Inútil tentar demovê-la da idéia de que eu me basto o necessário ou, muitas vezes, mesmo sozinho, eu não me suporte o suficiente.
O tempo traz as rugas e as rugas trazem manias.
Em sua gana de bancar o Cupido casadoiro, minha muito preocupada conhecida não imagina como vivo cercado de companhias. Pouco convencionais, é verdade, mas companhias que prezo bastante. Meus queridos fantasmas, por exemplo. Não tem um único dia em que não venham me assombrar.
Manifestam-se através de lembranças de acontecimentos corriqueiros, palavras proferidas há anos, frases que calei e se revoltam com a condenação ao silêncio, anotações hoje incompreensíveis - quando não ilegíveis, personagens de projetos literários que guardo na memória do computador à espera de uma oportunidade melhor para vida lhes dar.
Uma vez, comentei sobre eles num churrasco em minha casa e uma psicóloga, convidada por um amigo, ao sair me deu o cartão de seu consultório.
Com os cadáveres, a relação não é diferente. Fazem-se presentes todos os dias e muitos estão vivos.Falo, é claro, dos escritores e seus livros. Lobato é figura eterna com sua gangue de personagens. E Vinícius, Drummond, Rubem Braga, Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Jorge Amado, França Júnior, Érico, Graciliano, Nelson Rodrigues, Josué Guimarães, Roberto Drummond, Carlinhos Oliveira, Clarice e Cecília, Raquel, João Antonio, e um punhado de muitos outros.
Dos cadáveres vivos e estrangeiros não vou falar, são muitos e podem me cobrar um ou outro esquecimento. De cinema e música também não.
A crônica está longa e o leitor, incomodado, pode desejar que o próximo cadáver seja o meu.
(*)Diorindo Lopes Jr. é jornalista. www.diorindo.jor.br