:::Fantoches nunca mais::: "Alea jacta est!"

Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quinta-feira, agosto 24, 2006

Nós somos os culpados

(*)André Diôgo

Em recente declaração pública, o Ministro do Supremo Tribunal Federal e agora Presidente do Tribunal Superior Eleitoral Marco Aurélio exclamou: “A sociedade não é vítima, mas autora. Somos responsáveis pelos políticos em geral, pelos homens públicos que aí estão.”. Dediquei parte de meu tempo e de meu raciocínio para tentar apreender e compreender tal citação, a qual me pegou de surpresa, especialmente pelo fato de ter sido proferida por tamanha autoridade.

Claramente cabe aqui uma explicação para minha surpresa. Assim que li a citação do Ministro abateu-se sobre mim uma sensação de culpa. “Seria eu responsável por parte do achincalhamento pelo qual passa nosso país? Afinal de contas, também faço parte da sociedade!”. Depois de refletir alguns segundos conclui que Sim. Eu faço parte do circo, da pizzaria, até do zoológico que dizem que este país se tornou. E acredito que você também.

Não! Você até pode proclamar com orgulho que seu voto não foi para nenhum envolvido com os escândalos e coisa e tal, entretanto, ainda assim, me parece que Marco Aurélio continua com a razão. Fazemos todos parte deste Navio sem leme. Ainda bem que o Sr. Ministro se incluiu entre os culpados. Ele poderia ter se imaginado acima disso.

O fato é que nada vai mudar no próximo rebanho que vai para Brasília no dia 1º de janeiro. A renovação que vai haver será muito semelhante àquela de seis por meia-dúzia. Tudo bem! Estou tranqüilo quanto a isso. Nós, sociedade, já estamos acostumados, não é mesmo?

O que o Ministro Marco Aurélio esqueceu ao citar sua frase de efeito é que nem todos são culpados. Não fique tranqüilo agora acreditando que você ou eu possamos nos eximir da culpa. Não estou falando de nós. Na verdade, não estou me referindo a ninguém que, por ventura, leia este artigo e o compreenda. Destes sim posso falar sem rodeios, sem milongas, que fazem parte da sociedade culpada citada pelo Ministro. A parcela vítima a qual me refiro é justamente aquela que vai eleger a maioria dos deputados, a maioria dos senadores e que vai ser decisiva para determinar o homem que subirá a rampa do Planalto. A manipulação das eleições continua acorrendo, os currais (eleitorais) fazem jus aos grandes rebanhos brasileiros e a falta de olhos da justiça para isso me faz ter mais certeza, a cada dia, de que a justiça é míope (Não! Ela não é cega).

Como posso afirmar que o miserável-Fulano-analfabeto que mora no Interior do fim do mundo é culpado por nossos políticos ladrões? A situação em que se encontra um miserável ou um analfabeto, seja ele funcional ou não, não é relevante na hora de se observar a qualidade do voto? A educação que ele teve não conta? Estes Fulanos não estariam, no mínimo, em estado de ignorância plena ou até de coação que ensejasse a completa anulação do ato de votar? Imagino que o Ministro tenha esquecido destes fatos antes de englobar todos como culpados. Todavia, há outra explicação plausível e que passa pela mente de muita gente da sociedade e que é bem simples: “nós somos a sociedade. Aqueles lá..., lá bem longe, são outra coisa, não sei bem o que, mas são outra coisa. Não sociedade.”.

Talvez nossa maior culpa não esteja em colocar os maus políticos em nossas instituições, afinal de contas, somos uma parcela ínfima da sociedade. Nossos votos não enchem um carro de mão, enquanto os dos Fulanos enchem navios e mais navios. Nossa grande culpa, ou falha, se assim preferir, está em permitir que o curral de humanos seja sempre mais e mais manipulado e que suas cabeças passem por uma lavagem cerebral sem que haja nenhuma outra possibilidade de fuga. Evidente que existem pessoas fora desses currais que são completamente manipuladas, mas encaro isto como falhas na linha de produção da cidadania.

A sociedade costumava criar personagens marcantes que levavam um semblante de força e caráter. Era legal ser honesto. Era bom ter um ídolo forte e aguerrido. Tínhamos até políticos que representavam tais papéis. Já ouvi certa vez que bom mesmo é ser um formador de opinião, não um mero qualquer. Ouvi isso certa vez, já não escuto mais isso por aí. É chato defender opiniões, ter voz. Bem mais fácil é deixar para o outro fazer. Assim, passou de mão em mão a responsabilidade que tínhamos de criar contra pontos ao que considerávamos errado ou manipulador e acabou que, de mão em mão, tal responsabilidade caiu e se quebrou.

Como é fácil delegar culpa a outrem. Foi justamente o que fizemos. Deixamos nossos papéis de formadores de opinião e nos tornamos abutres de nossa própria carcaça: só reclamamos, só argüimos.

Deixamos a cargo da criação de valores e morais àqueles que pretendem fechar as mentes das pessoas para a discussão, para o questionamento. Deixamos, literalmente, o lobo tomando conta das ovelhas. E ainda queremos dizer que a culpa é de todos. Queremos repartir nossa culpa para, talvez, diminuir nosso remorso. A culpa é nossa, só nossa. Da que se autoproclamou sociedade, isto porque têm uma gigantesca parcela dela que não proclamou absolutamente nada a respeito dessa tal sociedade e que, na verdade, nem sabe ao certo o que é isso.

(*) André Gonçalves Diôgo de Lima é estudante de Direito pela Fundação Getúlio Vargas

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá André,tudo bem?

Prazer em ver o seu texto publicado em nosso blog, ainda mais por saber que começas a representar bem o papel de questionamento que deve ser levantado por todos os estudantes de Direito de nosso país,uma vez que é por ele que um dia tentaremos conjugar nossos esforços.A temática do escrito vem bem a calhar, uma vez que estamos vivenciando um panorama político e eleitoral no mínimo exótico em suas formas, mas sem muitas modificações estruturantes em seu conteúdo.Os processos apontados em seu texto possuem uma necessidade célere de aplicação, pois não podemos viver décadas a frente, em que vivenciaremos o primado da inteligência( até no âmbito político) e da tecnologia, com costumes caudilhos e com a prática clientelista tão recorrente de arrebanhamento de eleitores.
De maneira mais aguda observo o tamanho esforço que alguns canditados fazem por essas épocas para, ainda em vista dos impedimentos legais, contabilizar votos, no sentido econômico da expressão,pois sabemos que esta é a única moeda de troca forte do pobre e do desvalido, que perde toda a importância humana quando seu direito subjetivo de sufragar algum nome encontra-se inativo.
Mais uma vez, parabéns pelo texto e espero que mais colaborações suas venham para nós, pois com grata satisfação sempre receberemos.
Abraços
Henrique Toscano

sexta ago. 25, 02:49:00 da tarde 2006  

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