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Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

sábado, abril 02, 2005

Adeus Karol...


João Paulo II (1920-2005) Posted by Hello


(*) Luiz Elias Miranda



A agonia de João Paulo II finalmente chegou ao fim, há alguns anos ele vinha passando por seu calvário pessoal com os problemas de saúde que se agravavam dia a dia. O seu ‘braço direito’, o cardeal alemão Joseph Ratzinger e o porta-voz do Vaticano, o espanhol Joaquin Navarro Valls, afirmaram que ele esteve consciente até o último momento, mesmo com o fim estando próximo. Foi um raro caso onde, apesar do corpo estar totalmente deteriorado, a mente permanecia em extrema consciência (apesar de a assessoria de imprensa do Vaticano um, certo momento ter afirmado que a lucidez dele começara a desaparecer). Independente de religião, João Paulo II deixará um imenso legado à cultura humana.
Nascido em 1920 na Polônia, Karol Wojtyla (o nome verdadeiro dele) presenciou em sua juventude um momento muito importante para a Polônia. O país neste tempo tentava resistir ao domínio soviético, em tempos onde até mesmo falar o polonês era proibido, a religião era uma forma de resistir ao domínio estrangeiro. O jovem Karol, que até os vinte anos queria ser ator, virou padre após a morte do pai em 1941 e, com uma religiosidade extremamente nacionalista, com a ajuda de sua capacidade de empolgar platéias, resquícios de seus tempos de palco, incitava os poloneses resistirem ao comunismo e, alguns anos mais tarde ao nacional-socialismo que surgia por influência alemã, o governo nazista tinha intenções de dominar a Polônia como ocorreu em épocas passadas e um de seus maiores opositores na Polônia foi o jovem sacerdote Wojtyla (mais tarde, foi sabido que durante vários anos na II guerra mundial, ele figurou na “lista negra” da SS como provável alvo).
Quando foi eleito papa em 1978, o seu maior objetivo era combater o comunismo no mundo e influência da teologia da libertação[1] dentro da Igreja católica. O que mais impressionava em João Paulo II era a forma de como ele conseguia ser tão liberal na política e tão conservador na religião. Ele criticava o comunismo por este ser uma ditadura brutal que não dava espaço para qualquer tipo de oposição e não ter conseguido realmente eliminar as classes sociais (apesar de mais anos mais tarde, ter reconhecido que o regime tinha seus pontos positivos). Por outro lado, ele também criticava a teologia da libertação (que era um movimento que angariava muitos adeptos na América Latina) pelo fato de que religião e ideologias políticas seriam incompatíveis e também o fato de que muitos dos adeptos da teologia da libertação usavam a religião apenas como um meio de ascensão política.
Alguns fatos também marcaram o papado de João Paulo II que até aquele momento nunca tinham sido praticados por nenhum dos “sucessores de Pedro”, embalado pelo ecumenismo do Concílio Vaticano II, ele tentou aproximar a Igreja com seus antigos desafetos, promoveu reconciliação com judeus, protestantes, ortodoxos, muçulmanos, budistas, reconheceu os erros do passado da Igreja e pediu perdão por estas ações nada nobres (claro que um simples pedido não irá trazer a vida as pessoas que foram mortas pela Igreja e sanar os outros males por ela praticados).
Politicamente ele também foi grande responsável pela queda do comunismo, em 1978 após sua eleição, seu primeiro ato como sumo-pontífice foi visitar a Polônia na festa de São Estanislau (padroeiro da Polônia), mais de um milhão de pessoas espremeram-se nas ruas de Varsóvia e Cracóvia para ver o primeiro papa polonês. Foi a partir desta visita que o comunismo no leste europeu começou a esfacelar-se, após essa visita foi fundado o “solidariedade” que elegeu presidente da Polônia o sindicalista Lech Walesa que deu o golpe de misericórdia no regime comunista polonês. Meses depois, uma visita ao presidente americano Ronald Regan selou definitivamente o já moribundo “império vermelho”. Mas o papa também não poupou críticas ao intervencionismo e ao capitalismo brutal praticado por Washington.
Mas, da mesma forma que foi extremamente liberal na política, João Paulo II imprimiu uma postura moral dogmaticamente rígida, contra os métodos contraceptivos artificiais, uso da camisinha para prevenção da AIDS, sexo antes do casamento, divórcio, homossexualismo entre outras posições conservadoras que lhe rendeu várias críticas durante o pontificado. Entretanto, este conservadorismo, aliado a um imenso centralismo institucional, garantiu a unidade da Igreja que corria o risco de esfacelar-se como instituição depois da “onda liberalizante” oriunda do concílio do Vaticano II.
Definitivamente, o homem que neste momento já descansa ao lado de outros papas em Roma, ou, como disse Ratzinger, ao lado do pai, abençoando e orando por nós, não foi só um líder religioso da maior igreja cristã do mundo que garantiu sua unidade e expandiu propostas ecumênicas e conduziu a maior igreja cristã ao terceiro milênio, ele também foi um grande político que ficará na história da humanidade.

[1] Teologia da libertação: corrente ideológica surgida na década de 1960, que tinha adeptos principalmente na Igreja católica, de conotação marxista, pregava que a religião também deveria ser usada como instrumento de luta social promovendo a libertação dos povos que há séculos eram explorados pelas elites. Seus maiores expoentes na década de 70 eram o frade franciscano Leonardo Boff e o jesuíta alemão Klaus Öff.
(*) Luiz Elias é estudante ded Direito. e-mail: luizelias.miranda@uol.com.br

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

meu caro Elias,
Realmente o mundo inteiro chora pelo nosso querido PAPA; Um homem que com seu exemplo conseguiu unir tanta gente e derrubar tantos muros. Quiçá teremos outro PAPA com tanta força, coragem e determinação!Que Deus olhe em especial p/esse momento,para que essa entrega que O fazemos se transforme em graças de Paz para a humanidade.
Graça

domingo abr. 03, 12:23:00 da tarde 2005  
Anonymous Anónimo said...

Valeu Elias por mais um edificante texto.Seu relato sobre a vida de um dos mais influentes papas serve como um chamado a comunidade para ressaltar os valores do sumo pontifice.

Mais uma vez, parabéns!

Henrique

domingo abr. 03, 08:53:00 da tarde 2005  

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