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Política,sociedade e cultura.Para resumir em três tópicos seriam estes os temas pelos quais queremos sempre gerar uma polêmica ou expor nossos pensamentos.Todavia, no blog também há espaço para as coisas do coração,da alma e da vida que enxergamos de maneira peculiar e reagimos de maneira muito mais ímpar ainda.Aqui está aberto o espaço para nossas idiossincrasias.Boa leitura

quarta-feira, julho 20, 2005

A Indústria Cultural 2

(*) Luiz Elias Miranda

Este foi o primeiro tema que abordei aqui no “meu espaço” cerca de um ano atrás aqui no blog. Decidi voltar a abordá-lo por dois motivos: por ser um tema de certa forma bastante “profícuo” e por eu estar num período digamos “frakfurtiano” e ter resolvido fazer um enfoque diverso do que eu havia feito da primeira vez que falei sobre a indústria cultural de Adorno e Horkheimer.
Há um fato que marca definitivamente como uma guinada, uma total modificação do pensar e agir da sociedade ocidental. Este fato a que me referi é fim da II Guerra Mundial (1939-1945) com a vitória do modelo liberal-democrata euro-americano sobre o nazi-fascismo ítalo-teutônico, esta modificação do pensar humano (da sociedade ocidental em especial) foi intensificado ainda mais pelo fim da guerra fria (1945-1989) causada pela queda do muro de Berlim em 1989 e, posteriormente, a implosão do “império vermelho” do leste europeu que, ao menos virtualmente provaria que o capitalismo liberal seria um modelo mais “sólido” (alguns pensadores ligados ao liberalismo estadunidense, como o Francis Fukuyama, chegaram a afirmar que a história teria acabado com o fim do comunismo). Mas, como na realidade, a vitória dos “aliados” na guerra afetou nossa cultura no século XX?
A derrota do “eixo” (Alemanha, Itália, Japão e aliados) na guerra significou o triunfo do liberalismo democrático que seriam uma espécie de “encarnação” do capitalismo. A partir da década de 1950 a massificação da cultura como produto para a venda é um dos mais importantes reflexos desta vitória (mas, isto foi só intensificado pela vitória, a cultura já era vista como produto desde o final do século XIX). Definitivamente, a vitória aliada na guerra intensifica e dá mais força ao que podemos chamar de “ideologia da sociedade industrial[1]”.
Esta ideologia (a da sociedade industrial) vem acentuar o processo de alienação preconizado pelo liberalismo associado ao capitalismo. A vitória da democracia, em tese, deveria significar uma “abertura” para um mundo livre, mas, ao contrário disso, num efeito totalmente diverso do esperado, esta vitória abriu as portas para o surgimento de um mundo alienado, dominado por esta ideologia industrial, condenando o homem a um viver “unidimensional”.
Enfim, chegamos a questão dita como central: o que seria esta ideologia industrial e qual sua relação com a industria cultural?
A ideologia da sociedade industrial seria algo bem “sombrio”. Assim como toda ideologia, ela visa dominação social por meios intelectuais, alienando as pessoas com falsas construções mentais, na maioria das vezes estas construções visam a dominação findando proteger os interesses de uma classe dominante[2]. Pois bem, a ideologia da sociedade industrial, baseada nos preceitos do capitalismo constrói padrões culturais e transforma-os em produtos da indústria cultural e tudo que não se encaixe nos padrões desta industria é tido como “subcultura”, inapropriado ou desqualificado como não sendo cultura.
O mais cruel desta indústria cultural é o fato dela ser guiada pela já citada ideologia da sociedade industrial. Esta ideologia mostra-se crudelíssima pelo fato de condenar o homem a uma espécie de, como denominava Herbert Marcuse, “unidimensionalidade social”. O que seria então por fim esta unidimensionalidade? Nesse sentido, a sociedade moderna, sustentada sob o aparato tecnológico, tende a tornar-se totalitária. E como tal, pode exigir dos indivíduos, justificadamente, a aceitação de seus princípios e instituições, pois tem como legítimo objetivo o aumento da produtividade para a satisfação das necessidades do homem. Para Marcuse, o sentido da expressão "totalitária" não é utilizado apenas para caracterizar o sistema terrorista de governo, mas para definir o sistema específico de produção e distribuição em massa, que existe em razão da manipulação do poder inerente à tecnologia. Em síntese, a sociedade industrial avançada impõe uma racionalidade tecnológica. Ser bem-sucedido significa adaptar-se ao aparato, ou seja, às instituições, dispositivos e organizações da indústria. Não há lugar para a autonomia humana, para independência de pensamento, nem para o direito de oposição. A autonomia da razão encontra seu túmulo no sistema de controle, produção e consumo padronizado. E os mecanismos da racionalidade institucional, difundidos por toda a sociedade, portanto, desenvolvem um conjunto de valores de verdade próprios, que servem apenas ao funcionamento do aparato industrial[3].
“Trocando tudo em miúdos”, a unidimensionalidade social seria o mundo de opção única, ditado pela já citada ideologia do capital ou, se não houvesse aceitação desta ideologia, não haveria outro caminho a ser seguido, o espírito humano estaria condenado à dominação pelo “pensar técnico-econômico[4]” (também chamado de tecnocracia pelos influenciados pela teoria crítica).
A unidimensionalidade social, a industria e outros tantos elementos da sociedade moderna que hoje é conhecida como “informacional[5]” aliam-se para exacerbar os processos de alienação e exploração, tudo isto fazendo uso da produção cultural, ou pseudocultural, por meio de uma ideologia onde o homem tenta escravizar seu semelhante. E o pior é que a maioria da sociedade não percebe que ela toda é “escrava” do meio de produção no qual está inserido. Para finalizar, gostaria de citar o próprio Marcuse, profundo conhecedor da sociedade unidimensional e da ideologia que a criou:

A livre escolha entre a larga
quantidade de bens e serviços
não significa liberdade
quando estes bens e serviços mantêm o controle social
sobre uma vida de esforços e medo, ou seja, de alienação.
Herbert Marcuse (O Homem Unidimensional)






[1] Neste sentido, Cf. MARCUSE, Herbert. “O Homem Unidimensional ou a Ideologia da Sociedade Industrial”.
[2] Sobre alienação de classe e ideologia, Cf. MARX, Karl & ENGELS, Friederich. A Ideologia Alemã.
[3] GABRIEL, Ivana Mussi. “Herbert Marcuse: Reflexões Sobre a Sociedade Tecnológica”.
[4] Sobre o pensar técnico-econômico, sua definição e tentativa de acabar com o pensar “político-jurídico”, ou seja, o fim da autonomia do espírito humano racional, Cf. SCHMITT, Carl. “Catolicismo Romano e Forma Política” Lisboa: Hugin Editores.
[5] Sociedade Informacional: Modelo social onde o privilegiado é o mais recente, o mais moderno, o mais atual. A luta maior desta sociedade é a busca pela tecnologia mais eficaz.
(*) Luiz Elias é estudante de direito pela UEPB. E-mail: miranda_pb@hotmail.com
*Para Júlia, pela sua demonstração da renovação do espetáculo da vida.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Em uma sociedade tão vinculada aos detentores da cultura e do poder político responsável pela sua deformação, não é de se espantar que o leque de opções culturais,plageando Hebert Marcuse, não significa que há liberdade de escolha.
O mundo cultural se afinilou e a criatividade foi encaixada em pradrões pré-aqrquitetatos e cheios de "boas" intenções.A espinha dorsal da liberdade cultura foi quebrada e agora está engessada.A pocua margem de manobra faz de nossa sociedade uma refém dos ditames de uma soceidade que se julga dominadora.
Ao sabor de suas vontades, oh Senhores que controlam o nosso mau gosto, vivemos sem saber o que há de ser feito e cada vez mais o ser humano multidimensional vive apertado em caixinhas uniformes.

Masi uma vez Ilhi Cristh, PuTa QuE paRiu, que texto do caralho

desculpando a exaltação chula.

Parabéns

Henrique

quinta jul. 21, 06:26:00 da tarde 2005  

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